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Mundo

Presidente colombiano envia militares às ruas e alimenta agitação

Iván Duque, mobilizou militares nas ruas das principais cidades para controlar manifestações e distúrbios que rejeitam sua reforma tributária

Redação Jornal de Brasília

04/05/2021 10h31

O presidente da Colômbia, Iván Duque, mobilizou militares nas ruas das principais cidades para controlar manifestações e distúrbios que rejeitam sua reforma tributária. Mas a decisão causa medo em um país atingido por mais de meio século de conflitos armados.

Acompanhado do comandante do Exército, Duque anunciou no sábado que utilizará “auxílio militar” para combater “aqueles que, por meio da violência, do vandalismo e do terrorismo, procuram intimidar a sociedade”.

Repórteres da AFP notaram a presença de soldados durante as manifestações que começaram em todo país na quarta-feira passada.

Para “a cidadania, essa medida é recebida negativamente, como uma militarização”, e até mesmo como uma “repressão”, alerta Eduardo Bechara, professor de governo e políticas públicas da Universidade Externado.

Depois de seis décadas de conflito armado que persiste, apesar da assinatura da paz com a guerrilha das Farc em 2016, o governo está mais acostumado a lidar com a guerra no campo do que com protestos urbanos, segundo especialistas.

De acordo com a Defensoria do Povo (Ombudsman), os distúrbios e protestos deixaram pelo menos 19 mortos. O Ministério da Defesa contabiliza, por sua vez, mais de 800 feridos e centenas de estabelecimentos destruídos.

Na sexta-feira, Cali foi a primeira cidade militarizada, em meio a excessos à margem de protestos pacíficos.

O ministro da Defesa, Diego Molano, anunciou o envio de 700 soldados para a capital Valle del Cauca (sudoeste) para enfrentar “organizações criminosas” que orquestram os distúrbios.

Acabar com os protestos

Foto: AFP

Para o vice-diretor da Fundação Paz e Reconciliação, Ariel Ávila, esta é uma tentativa de intimidar os protestos sociais.

“Acredito que seja a velha estratégia de sempre, uma mensagem para acabar com os protestos”, diz o pesquisador.

Em Bogotá e Medellín, os prefeitos da oposição rejeitaram a oferta de militarizar suas cidades. Ainda assim, soldados patrulham a capital por ordem presidencial.

Na Colômbia, existem 266.606 militares e 157.820 policiais vinculados ao Ministério da Defesa, segundo dados oficiais.

A militarização se instala enquanto a polícia está no olho do furacão pela forma como reprime os protestos contra o governo.

Em 2020, as forças de segurança enfrentaram mobilizações contra a brutalidade policial, deixando uma dezena de mortos e mais de 500 feridos.

Posteriormente, o Supremo Tribunal de Justiça ordenou ao ministério da Defesa que se desculpasse por seus excessos e reformulasse seus protocolos. Sem resultados.

De acordo com a ONG Temblores, ocorreram 940 casos de abusos policiais nos últimos dias e está sendo investigada “a morte de oito manifestantes supostamente agredidos por policiais”.

Nesta terça-feira, o porta-voz do serviço diplomático da União Europeia, Peter Stano, declarou estar preocupado com a situação na Colômbia e considerou que “é realmente uma prioridade conter a escalada da violência e evitar o uso desproporcional da força”.

Já o escritório local de direitos humanos da ONU denunciou no Twitter “ameaças e agressões”, bem como “tiros disparados pela polícia” contra uma comissão humanitária.

Na mesma rede social, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos instou o Estado a esclarecer sua participação em ataques que incluem abusos sexuais.

Enquanto isso, o governo mantém silêncio e reconhece apenas um civil e um policial mortos nos protestos.

Volta ao passado

Levar os militares às ruas acarreta “um risco terrível”, já que o Exército está acostumado a combater grupos armados, alerta Ávila.

“É uma resposta excessiva (…) que vai aumentar o número de mortes”, acrescenta.

Para Florent Frasson-Quenoz, especialista em segurança internacional, a decisão está em linha com os “eleitores de extrema direita” que votam no partido no poder (Centro Democrático), a um ano das eleições presidenciais.

É um retorno à política do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010), mentor político de Duque, durante sua luta contra as guerrilhas de esquerda.

O Twitter censurou na sexta uma mensagem do ex-presidente, convidando as forças de segurança a “usarem suas armas para defender sua integridade, para defender pessoas e propriedades (…) do vandalismo, terrorismo”.

Pressionado pelas manifestações, Duque retirou a proposta de reforma tributária e propôs formular uma sem os artigos mais polêmicos.

O Comitê Nacional de Greve, que reúne setores insatisfeitos, anunciou que continuará a convocar manifestações para exigir que Duque mude o rumo de sua política.

Para Bechara, é a oportunidade para o “governo e demais setores políticos, sociais e econômicos, convergirem em torno da necessidade de repensar a segurança em um referencial diferente” do conflito armado.

Agence France-Presse

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