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Mundo

Presidente argentino será investigado por festa na quarentena

O escândalo debilita o governo quando a Argentina está a três meses da eleição legislativa que renovará o Congresso

Redação Jornal de Brasília

13/08/2021 17h01

Sylvia Colombo
FolhaPress

No dia 14 de julho de 2020, os argentinos enfrentavam uma rígida quarentena obrigatória determinada por decreto presidencial. Não era possível realizar reuniões particulares, viajar nem ir a bares e restaurantes, que estavam fechados. Apenas trabalhadores considerados essenciais podiam andar a mais de 500 metros de suas casas, e veículos que circulavam sem autorização eram retidos e multados.

Na Quinta de Olivos, a residência presidencial, porém, outra coisa ocorria. O presidente Alberto Fernández recebia, para comemorar o aniversário da primeira-dama, Fabíola Yañez, um grupo de 12 pessoas, em torno de uma mesa com bolo, vinho e comida. Ninguém usava máscaras nem respeitava o distanciamento social. E o grupo não se esqueceu de registrar o evento, sorrindo para uma foto.

Mas, no início do mês, um escândalo se armou na Argentina quando essa imagem veio à tona. Na quinta-feira (12), os deputados opositores Mario Negri, Luis Petri, Waldo Wolff e Cristian Ritondo apresentaram um pedido de julgamento político do mandatário por descumprir seu próprio decreto. Nesta sexta-feira (13), a Justiça argentina comunicou que vai investigar o caso.

O escândalo debilita o governo quando a Argentina está a três meses da eleição legislativa que renovará o Congresso. Depois de dias de silêncio, o governo se pronunciou sobre o caso. “É preciso esclarecer que Olivos estava funcionando como um centro de operações do governo no começo da pandemia, e muita gente entrava e saía”, explicou o chefe de gabinete, Santiago Cafiero, que minimizou o fato de a primeira-dama ter celebrado seu aniversário com amigos nessa época. “É evidente que houve um descuido, mas está sendo feito um uso político disso que não é proporcional ao erro”, completou, em entrevista a uma rádio local.

A foto foi revelada pelo jornal La Nación e viralizou nas redes. Na imagem, estão pessoas que não entravam na classificação de “trabalhador essencial”. Havia corretores de imóveis, ex-modelos, atrizes, além da estilista e do cabeleireiro de Fabíola. Havia, ainda, uma criança acompanhando os pais. O presidente aparece na foto sorridente e relaxado.

O procurador Ramiro González afirmou nesta sexta-feira que abriu investigações para determinar se houve descumprimento da quarentena naquela noite e em outras em que as planilhas de entrada e saída da Quinta de Olivos, também divulgadas pela imprensa, registravam entrada e saída de pessoas. Podem ser considerados delitos, cometidos pelo casal presidencial, o descumprimento do decreto que restringia a circulação e atentado contra a saúde pública. A pena varia de seis meses a dois anos de prisão.

O caso fica mais grave porque, antes dessa foto, havia vindo a público uma outra que mostra a primeira-dama com poucos amigos – nessa o presidente não aparece. Naquele momento, Fernández afirmou que a imagem poderia ter sido alterada, de forma a parecer que a reunião tinha acontecido durante a quarentena e na residência oficial.

O presidente chamou de mentirosas as acusações de que tivesse havido uma festa e disse que mantinha apenas reuniões de trabalho. “Em Olivos, me cansei de ver gente, mas por trabalho, porque sou o presidente da República.” Com a segunda foto, no entanto, em que ele aparece descontraído com os convidados e até seu cachorro Dylan, a primeira negação soa como uma mentira descarada. Fernández não disse nada sobre a segunda imagem até o meio da tarde desta sexta.

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