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Parlamento Europeu aprova reeleição de Von der Leyen como chefe da UE

Von der Leyen deixou de buscar os votos da ultradireita que defende aproximação com Putin, preferindo os do centro político

Redação Jornal de Brasília

18/07/2024 9h49

Foto: Reprodução

JOÃO GABRIEL DE LIMA
LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS)

A nova legislatura do Parlamento Europeu aprovou nesta quinta-feira (18) a recondução de Ursula von der Leyen, 65, para mais um mandato de cinco anos à frente da Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia. Antes da votação, Von der Leyen dirigiu-se por 50 minutos aos eurodeputados em Estrasburgo, a quem cabia rejeitar ou confirmar seu nome, e falou principalmente de dois assuntos: defesa e economia.

“Os aviões de Putin jogaram seus mísseis num hospital infantil em Kiev, e todos vimos as imagens de crianças cobertas com sangue. O ataque não foi um erro de cálculo, mas uma mensagem arrepiante do Kremlin para nós”, declarou. “Nossa resposta deve ser clara: ninguém quer mais a paz que o povo da Ucrânia, uma paz justa e duradoura para um país livre e independente. A Europa estará com a Ucrânia por quanto tempo for preciso. Esta é a nossa mensagem.”

Este foi o momento de maiores aplausos ao longo do discurso. A saudação foi efusiva, mas não unânime. Deputados da ultradireita recolheram as mãos. Sem citar o nome do premiê da Hungria, Viktor Orbán, cujo país ocupa a presidência rotativa da UE até o fim do ano, Von der Leyen mencionou um “primeiro-ministro da União Europeia que foi a Moscou numa suposta missão de paz”, dois dias antes do bombardeio do hospital, “mas que na verdade buscava apaziguamento [termo associado à tentativa frustrada de líderes europeus de conter Hitler antes do início da Segunda Guerra Mundial]”.

Com essa posição, Von der Leyen deixou de buscar os votos da ultradireita que defende aproximação com Putin, preferindo os do centro político, maior bloco dentro do Parlamento Europeu e que apoia a Ucrânia incondicionalmente. A mensagem foi ouvida. Ela foi foi reeleita com 401 votos, maioria num plenário de 720 deputados, mantendo o “cordão sanitário” contra posições extremistas que marcou seu primeiro mandato. Votaram contra 284 eurodeputados.

Ursula von der Leyen é economista e médica ginecologista. Alemã nascida na Bélgica, fez carreira política na CDU (União Democrata Cristã), partido de centro-direita em seu país. Ocupou vários ministérios durante o governo da premiê Angela Merkel. De 2013 a 2019, foi a primeira mulher a ocupar o cargo de ministra da Defesa na Alemanha. Tem sete filhos de um único casamento que já dura 38 anos.

A economia foi o outro tema central de seu discurso. Em aceno aos Verdes, prometeu a continuidade do Pacto Ecológico Europeu, frisando que pretende combinar “reindustrialização com descarbonização”.

Numa Europa estagnada economicamente, em que os cidadãos se sentem pressionados pela inflação e pela subida dos preços do aluguel, ela mira um “New clean industrial deal”, um pacto de política industrial sobre uma base de energia renovável.

A área econômica é onde Von der Leyen colecionou os maiores triunfos em seu primeiro mandato -e também onde estão os maiores desafios futuros. “Ela conseguiu uma vitória histórica, pouco valorizada, que foi cortar a dependência de gás natural da Rússia”, diz o economista português Pedro Brinca, professor da Nova School of Business and Economics, uma das principais faculdades europeias de negócios no ranking do jornal inglês Financial Times.

“Quando Putin invadiu a Ucrânia e cortou a torneira de gás, muitos previram um caos energético, com quebra na produção e inflação altíssima”, afirma Brinca. “A estratégia de mitigação, comandada por Von der Leyen, funcionou muito bem. A Europa se adaptou, investiu em energias renováveis, trouxe gás do Qatar, Estados Unidos e Noruega, e irá enfrentar sem sustos o próximo inverno.”

Outro êxito foi o Plano de Recuperação e Resiliência durante a pandemia, um mecanismo de solidariedade em que a União Europeia emitiu dívida coletivamente. “Em momentos assim, mostramos como conseguimos resultados quando trabalhamos juntos”, disse Von der Leyen em seu discurso.

A presidente da Comissão Europeia terá à frente a tarefa de recolocar o bloco na rota do crescimento econômico. “A Europa está estagnada. Há uma combinação perversa: uma economia que não cresce, gerando muitos perdedores, e uma imigração expressiva e visível. É um terreno fértil para os populistas que culpam os estrangeiros pela dificuldade em arrumar emprego e pelo aumento dos aluguéis”, declara o economista Brinca.

Von der Leyen prometeu trabalhar por um ambiente de negócios mais ágil e promover um mercado de capitais unificado. “É um absurdo que as economias das famílias europeias financiem inovação e criação de empregos em outros lugares”, disse.

Ela falou também de direitos das mulheres, de minorias e do futuro dos jovens. “Nosso plano de industrialização limpa não é apenas por razões de competitividade, mas de justiça intergeracional.” E fez um apelo em defesa da democracia: “Não podemos deixar que populistas e demagogos destruam nosso modo de vida europeu.”

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