RICARDO DELLA COLETTA
FOLHAPRESS
O presidente da Argentina, Javier Milei, não pretende comparecer à cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro, em 20 de dezembro, quando o governo Lula (PT) espera que os membros do bloco assinem o acordo de livre comércio com a União Europeia.
A decisão do governo argentino foi comunicada na última reunião do Grupo Mercado Comum (GMC), realizada nos primeiros dias de novembro em Brasília. Segundo pessoas com conhecimento do tema, a delegação de Buenos Aires disse que Milei havia assumido outros compromissos para a data e que, portanto, não poderia viajar ao Rio.
Os diplomatas da Argentina não especificaram quais seriam os compromissos de Milei, de acordo com as pessoas ouvidas pela Folha.
A expectativa do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que, com a assinatura do acordo, o processo da ratificação pelos Legislativos dos dois blocos possa avançar.
A reunião dos chefes de Estado do Mercosul foi inicialmente agendada para o início de dezembro, em Brasília, mas o governo Lula decidiu mudar a data para o fim do mês. O local também foi alterado.
Milei pode não ser a única baixa do encontro. Na mesma reunião do GMC, a delegação do Paraguai informou que o presidente Santiago Peña tampouco está disponível para viajar ao Rio no dia 20.
O ultraliberal Milei e o presidente Lula são antagonistas políticos e nunca tiveram um encontro bilateral. Lula, no entanto, compareceu em julho à cúpula do Mercosul em Buenos Aires, quando a presidência temporária do bloco era exercida por Milei.
Na ocasião, eles fizeram discursos com mensagens opostas. O brasileiro destacou o papel do Mercosul como uma casa segura em um mundo “instável e ameaçador”, enquanto Milei propôs uma “viagem” em busca da liberdade.
“Ao longo de mais de três décadas, construímos uma casa com alicerces sólidos, capaz de suportar a força das intempéries. Conseguimos criar uma rede de acordos que se estendeu aos estados parceiros. Toda a América do Sul se tornou uma área de livre comércio baseada em regras claras e equilibradas”, disse Lula na ocasião.
Já o ultraliberal declarou que a Argentina iria “no caminho da liberdade” acompanhada ou sozinha.
“Precisamos parar de pensar no Mercosul como um escudo que nos protege do mundo e começar a pensar nele como uma lança que nos permite entrar efetivamente nos mercados globais”, disse o argentino. “Vamos embarcar no caminho da liberdade acompanhados ou sozinhos”.
Um ano antes, em julho de 2024, Milei faltou a uma cúpula do Mercosul em Assunção, no Paraguai, para ir a uma conferência conservadora em Santa Catarina com bolsonaristas.
Naquele evento, Lula minimizou a ausência de Milei e disse que foi o ultraliberal quem perdeu ao não comparecer ao encontro do Mercosul.