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Lago Crawford no Canadá prova que Antropoceno já começou, dizem cientistas

Essa conclusão está longe, porém, de ser unânime na comunidade científica, principalmente entre os geólogos

Redação Jornal de Brasília

11/07/2023 18h31

AFP

O lago Crawford, perto da cidade canadense de Toronto, é o local que mostra que o Antropoceno, a época geológica que define o impacto humano na Terra, já começou, anunciou um grupo de cientistas nesta terça-feira (11).

Este pequeno reservatório de água doce contém sedimentos com vestígios de microplásticos, cinzas depositadas pela queima de petróleo e carvão ao longo de décadas e até vestígios de explosões nucleares distantes, segundo dados do Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno.

“Os dados mostram uma clara mudança desde meados do século XX, que levaram a Terra a cruzar os limites normais do Holoceno”, época que começou há 11.700 anos, disse Andy Cundy, professor da Universidade de Southampton e membro do grupo de trabalho.

Essa conclusão está longe, porém, de ser unânime na comunidade científica, principalmente entre os geólogos.

“Essa votação do grupo de trabalho é uma etapa regular, o primeiro passo” na cadeia de decisões, alertou o secretário-geral da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), Stanley Finney, em um e-mail enviado à AFP.

A conclusão deve ser submetida primeiro à ICS, a Comissão Internacional de Estratigrafia (ramo da geologia que estuda a idade e a composição do subsolo por meio de seus estratos), lembrou o especialista.

Em seguida, deve ser estudada pelo IUGS, a máxima autoridade no assunto.

Qual é o impacto real?

A principal dificuldade para os geólogos e cientistas que defendem a causa do Antropoceno é a importância desse impacto em termos relativos, em comparação com a longuíssima cronologia do nosso planeta.

O termo Antropoceno já circula entre os especialistas há mais de duas décadas, enquanto o calendário do planeta Terra começou há cerca de 4,6 bilhões de anos.

A história do planeta Terra é dividida em éons, eras, períodos, épocas e idades geológicas. Estamos atualmente na era Cenozoica, período quaternário, época do Holoceno.

A discussão entre os especialistas é se o inegável impacto humano é importante o suficiente para causar essa mudança decisiva de época.

O Lago Crawford fazia parte de uma lista de até doze depósitos geológicos importantes para o grupo de trabalho sobre o Antropoceno.

Sua importância reside no fato de que seus sedimentos mostram uma coincidência de vestígios que não havia ocorrido de forma tão sincronizada anteriormente.

A Terra “deixou de se comportar da maneira como fez nos últimos 11.700 anos”, afirmou Francine McCarthy, professora da Universidade Brock, que liderou a pesquisa neste local.

“Um registro impecável”

“Os sedimentos encontrados no fundo do lago Crawford fornecem um registro impecável das recentes mudanças ambientais ao longo do último milênio”, disse o presidente do grupo de trabalho, Simon Turner, que leciona na University College de Londres.

O conceito de “época dos humanos” foi proposto pela primeira vez em 2002 pelo Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen, que estimou que poderia ser aplicado desde meados do século XX.

Coincide com o aumento das concentrações de gases de efeito estufa, poluição de microplásticos, resíduos radioativos de testes nucleares e uma dúzia de outros marcadores da crescente influência da nossa espécie no planeta.

Do ponto de vista demográfico, a humanidade experimentou uma explosão sem paralelo: dos 2,5 bilhões de habitantes em 1950 passou para mais de 8 bilhões em 2022, segundo dados da ONU.

Mas os geólogos calculam em termos de estratos, de sedimentos.

A maioria dos especialistas nesse ramo considera que simplesmente estamos em um período interglacial, como tantos outros que a Terra já viveu. E isso inclui grandes variações na concentração de CO2 na atmosfera.

O mais provável é que, na próxima grande reunião do ICS, o Antropoceno seja classificado como um “acontecimento geológico”, na opinião de Phil Gibbard, secretário dessa comissão.

“As condições que causaram as glaciações – uma dúzia de ciclos no último milhão de anos – não mudaram”, alegou este especialista em 2022.

mh-jzmeb/aa/tt/am

© Agence France-Presse

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