A posição brasileira foi externada após o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, procurar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva há cerca de três semanas, antes do plebiscito da Venezuela Na conversa, Lula teria garantido a Irfaan Ali que não haveria nenhum “comportamento imprudente da Venezuela” na região, segundo o presidente guianense disse em entrevista à CNN
Na cúpula do Mercosul, Lula tocou no assunto e se colocou à disposição para mediar o conflito. A mediação só acontece se ambos lados envolvidos procurarem o Brasil.
Celso Amorim viajou com uma equipe para Caracas, a capital venezuelana, após o diálogo para informar o governo de Nicolás Maduro que a posição brasileira é pela resolução pacífica de qualquer controvérsia na América do Sul e que o Brasil não vai apoiar nenhuma incursão militar na região.
Na terça-feira, 5, foi a vez do chanceler Mauro Vieira conversar com o presidente Irfaan Ali e externar a posição do Brasil. Segundo o Itamaraty, o ministro informou que a posição brasileira é pela resolução pacífica de qualquer controvérsia na América do Sul.
Durante a cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, Mauro Vieira externou a posição brasileira, defendeu a manutenção da paz para o desenvolvimento da região e mostrou confiança ao afirmar que o conflito não escalaria para uma guerra. “Em um mundo conturbado, com tantos conflitos, é sempre importante lembrar a contribuição do Mercosul para que a América do Sul constitua hoje a zona de paz mais extensa do mundo”, declarou. “A manutenção da paz é imprescindível para o desenvolvimento econômico e é essencial que continuemos dialogando e trabalhando para que a nossa região siga nessa trilha”, concluiu.
Irfaan Ali tem procurado aliados na região para assegurar que o território seja defendido contra os planos de anexação da Venezuela. Ele defende que o Essequibo pertence à Guiana graças à divisão territorial do acordo de 1899, feito pelo Reino Unido na época em que tinha a Guiana como colônia, e que o caso deve ser julgado pela Corte Internacional de Justiça (CIJ). Mas caso “o pior cenário” aconteça, disse Irfaan Ali a emissora americana CBS, o país também tem procurado garantias de “ajuda de aliados”, dentre eles os Estados Unidos.
Em público, Maduro tem dito que quer resolver o conflito pela via diplomática, especificamente através dos termos estabelecidos no Acordo de Genebra de 1966. O acordo estabeleceu na época uma comissão mista com a tarefa de buscar soluções satisfatórias para as questões de fronteira, mas nunca chegou a uma resolução entre as partes. Em 2018, a Guiana procurou a CIJ para julgar o caso e tentar chegar a uma solução.
Apesar de dizer querer resolver o conflito pelo caminho diplomático, a Venezuela não reconhece a jurisdição da CIJ para julgar o caso e Maduro tem considerado o Essequibo como parte da Venezuela desde o plebiscito no dia 3. Na terça-feira, o ditador apresentou um novo mapa com a região anexada e ordenou que fosse distribuído em todo o país.
Ele também determinou a criação de um Estado da Guiana Essequiba e instou a empresa estatal de petróleo PDVSA a “criar a divisão PDVSA-Essequibo” e conceder licenças operacionais para a exploração de petróleo, gás e minerais na região de forma imediata. Uma “zona de defesa integral da Guiana Essequiba” localizada em Tumeremo, na fronteira com o Essequibo, também foi criada por Caracas. O general Alexis Rodríguez Cabello foi designado como “único responsável” pela área.
Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, e da Guiana, Hugh Todd, anunciaram na quarta-feira, 6, que ambos países irão manter “canais de comunicação” para tentar evitar a escalada do conflito. “A pedido da parte guianense, o ministro Hugh Todd teve uma conversa telefônica com o ministro Yván Gil para tratar do tema da controvérsia territorial”, disse o governo venezuelano em um comunicado.
“A parte venezuelana aproveitou para informar o governo da Guiana sobre a participação esmagadora que teve a consulta popular, gerando um mandato inapelável” e “expressou a necessidade de interromper as ações que agravam a controvérsia”, acrescentou.