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Franceses voltam às ruas contra reforma de Macron em 1º de maio marcado por protestos no mundo

Centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas de várias cidades francesas para protestar contra o adiamento da idade da aposentadoria de 62 para 64 anos em 2030, que o presidente Emmanuel Macron aprovou por decreto e quer adotar a partir de setembro

Redação Jornal de Brasília

01/05/2023 17h11

Foto: Julien de Rosa / AFP

A França vive, nesta segunda-feira, um 1º de Maio cheio de protestos contra a reforma da Previdência em um contexto de inquietação com a inflação, que tem provocado greves e protestos em todo o mundo nos últimos meses. Também houve movimentos em outros países da Europa e da Ásia em uma manifestação global de descontentamento dos trabalhadores não vista desde antes da pandemia.

Centenas de milhares de pessoas voltaram às ruas de várias cidades francesas para protestar contra o adiamento da idade da aposentadoria de 62 para 64 anos em 2030, que o presidente Emmanuel Macron aprovou por decreto e quer adotar a partir de setembro.

Desde o começo do conflito social, em janeiro, a segunda economia da União Europeia (UE) tornou-se o centro das atenções do mundo. Nesta segunda, representantes sindicais da Coreia do Sul, Turquia, Colômbia e Espanha, entre outros, estavam presentes em Paris.

“É um grande 1º de Maio. Não é o fim da luta, é o protesto do mundo do trabalho contra esta reforma”, disse o líder do sindicato CFDT, Laurent Berger, no começo do protesto, em Paris. Os organizadores veem a reforma previdenciária como uma ameaça aos direitos dos trabalhadores duramente conquistados, enquanto Macron argumenta que é economicamente necessária à medida que a população envelhece.

“Não se trata de preservar as aposentadorias na França, mas em todo o mundo. As pessoas deveriam poder se aposentar dignamente”, disse David Huerta, de 56 anos, representante do sindicato americano do setor de serviços SEIU-USWW.

Enquanto os protestos eram em grande parte pacíficos, grupos de manifestantes extremistas quebraram vitrines de lojas e bancos em Paris, recebendo gás lacrimogêneo de fileiras da tropa de choque. Um deles foi filmado desmontando uma câmera de vigilância, e a polícia francesa utilizou drones para filmar distúrbios, uma ação que levantou preocupações entre os defensores da privacidade e grupos ativistas. A polícia de Paris deteve 30 pessoas e confrontos foram relatados em Lyon e Nantes

A saída para a crise parece difícil. Os sindicatos esperam que o Conselho Constitucional valide na quarta-feira um pedido da oposição de esquerda para organizar um referendo que limite a idade da aposentadoria a 62 anos, após a rejeição a uma proposta similar.

Macron, que defende a reforma como uma forma de evitar um futuro déficit no caixa previdenciário, busca, por sua vez, relançar seu segundo mandato, até 2027. Mas em suas viagens pela França é recebido com panelaços e vaias.

Um dos pontos de seu plano para superar o conflito é negociar uma melhora nas condições de trabalho, mas os sindicatos ainda não decidiram se vão participar juntos da reunião que a primeira-ministra, Élisabeth Borne, vai propor em breve.

A imposição da reforma deteriorou a confiança dos franceses em Macron e nas instituições, uma situação que, segundo pesquisas, beneficia a deputada de extrema direita Marine Le Pen.

Protestos pela Europa

Mais de 70 marchas foram realizadas em toda a Espanha, lideradas pelos poderosos sindicatos do país, que alertaram para “conflito social” se os salários baixos em comparação com a média da UE não subirem de acordo com a inflação. Eles também elogiaram os incentivos para mudar a Espanha para uma semana de trabalho de quatro dias.

O Ilustre Colégio de Advogados de Madri pediu a reforma das leis históricas que obrigam a estar de plantão 365 dias por ano, independentemente da morte de familiares ou emergências médicas. Nos últimos anos, advogados twittaram imagens de si mesmos trabalhando em leitos de hospital em soros para ilustrar o problema.

No Reino Unido, onde a inflação passa dos 10%, vive uma onda de mobilizações sociais pedindo aumento de salários, tanto nos serviços públicos quanto no setor privado. Esta reivindicação também esteve presente nas manifestações celebradas em Portugal e na Grécia.

Na Turquia, a polícia impediu que um grupo de manifestantes chegasse à praça principal de Istambul, Taksim, e deteve cerca de uma dúzia de manifestantes, informou a estação de televisão independente Sozcu. Jornalistas que tentavam filmar manifestantes sendo levados à força para vans da polícia também foram rechaçados ou detidos.

A praça tem importância simbólica para os sindicatos da Turquia depois que homens armados desconhecidos abriram fogo contra pessoas que comemoravam o Dia do Trabalho em Taksim em 1977, causando uma debandada que matou dezenas. O governo do presidente Recep Tayyip Erdogan declarou Taksim fora dos limites para manifestações, embora pequenos grupos tenham permissão para entrar em Taksim para depositar coroas de flores em um monumento ali.

Os protestos na Alemanha começaram com uma manifestação “Take Back the Night” organizada por grupos feministas e queer na véspera do 1º de Maio para protestar contra a violência dirigida a mulheres e pessoas LGBTQ+. Milhares de pessoas participaram da marcha, que foi em grande parte pacífica, apesar dos confrontos ocasionais entre os participantes e a polícia.

A primeira-ministra de extrema direita da Itália, Giorgia Meloni, fez questão de trabalhar na segunda-feira – quando seu gabinete aprovou medidas no Dia do Trabalho que, segundo ela, demonstram preocupação com os trabalhadores. Mas legisladores da oposição e líderes sindicais disseram que as medidas não fazem nada para aumentar os salários ou para combater a prática generalizada de contratar trabalhadores com contratos temporários. Muitos jovens dizem que não podem pensar em começar uma família ou mesmo sair da casa dos pais porque só conseguem contratos temporários.

Na Ucrânia devastada pela guerra, o 1º de Maio está associado às celebrações da era soviética, quando o país era governado por Moscou – uma época que muitos querem esquecer. “É bom que não celebremos este feriado como se fazia na época bolchevique. Foi algo realmente terrível”, disse Anatolii Borsiuk, de 77 anos, em Kiev.

Ásia

Em toda a Ásia, os eventos do 1º de Maio deste ano desencadearam uma frustração reprimida após três anos de restrições da covid-19. Os eventos deste ano tiveram maior comparecimento do que nos anos anteriores nas cidades asiáticas, já que ativistas em muitos países argumentaram que os governos deveriam fazer mais para melhorar a vida dos trabalhadores.

No Paquistão, as autoridades proibiram comícios em algumas cidades por causa de uma situação de segurança tensa ou atmosfera política. Em Peshawar, no agitado noroeste do país, organizações trabalhistas e sindicatos realizaram eventos fechados para exigir melhores direitos dos trabalhadores em meio à alta inflação.

Os partidos políticos de oposição do Sri Lanka e os sindicatos realizaram comícios no Dia dos Trabalhadores protestando contra medidas de austeridade e reformas econômicas ligadas a um acordo de resgate com o Fundo Monetário Internacional. Os manifestantes exigiram que o governo interrompesse as ações para privatizar empresas estatais e semigovernamentais. O Sri Lanka enfrenta sua pior crise econômica da história e suspendeu o pagamento de sua dívida externa.

Na Coreia do Sul, dezenas de milhares de pessoas compareceram a vários comícios em suas maiores reuniões de 1º de Maio desde o início da pandemia no início de 2020. “O preço de tudo aumentou, menos do nosso salário. Aumentem nossos salários mínimos!” um ativista em um comício em Seul gritou no pódio. “Reduza nossas horas de trabalho!”

No Japão, milhares de sindicalistas, legisladores da oposição e acadêmicos exigiram aumentos salariais para compensar o impacto do aumento dos custos à medida que se recuperam dos danos da pandemia. Eles criticaram o plano do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, de dobrar o orçamento de defesa e disseram que o dinheiro deveria ser gasto em bem-estar, previdência social e melhoria da vida cotidiana das pessoas.

A guerra da Rússia na Ucrânia ofuscou os eventos em escala reduzida em Moscou, onde as comemorações do primeiro de maio lideradas pelos comunistas já foram grandes eventos.

Estadão Conteúdo, com agências internacionais

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