MAYARA PAIXÃO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Exército de Israel afirma ter 35 batalhões na fronteira com Gaza prontos para invadir a região vizinha no momento em que houver aval do governo de Binyamin Netanyahu em Tel Aviv.
A informação foi compartilhada pelo major Roni Kaplan, porta-voz dos reservistas das Forças de Defesa de Israel, durante entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira (12). “Estaremos prontos caso o governo democrático de Israel decida por essa ação”, disse ele.
Segundo Kaplan, ao menos 2.700 ataques já foram realizados em Gaza desde sábado (7) em pontos que concentram membros da facção terrorista Hamas -relatos de palestinos e de organizações de direitos humanos, no entanto, dão conta de que áreas civis são atingidas.
Tel Aviv, por sua vez, acusa o Hamas de usar os civis como escudos humanos. “Eles cometem um duplo crime de guerra: primeiro por lançar mísseis contra civis em Israel, segundo por usarem civis como escudos em Gaza”, disse Kaplan.
De acordo com o major, os ataques estão concentrados em alvos da Nukhba, a força de elite do Hamas.
Ele detalhou que interrogatórios estão sendo feitos com membros da facção capturados durante os confrontos para identificar as posições do comando da Nukhba.
Mais de 300 mil reservistas do Exército israelense foram convocados para ajudar o país na guerra e já se somaram às fileiras, segundo o porta-voz, ele mesmo na reserva até há poucos dias, afirmou.
Há inclusive israelenses que estão deixando países da América Latina e, desde São Paulo, voltando a Tel Aviv para se juntar aos militares após serem convocados. “Temos uma demanda enorme daqueles que querem voltar, não há nem voos suficientes.”
O temor da invasão por terra a Gaza reside na capacidade de escalar a crise humanitária que uma ação do tipo teria. A faixa adjacente a Israel é densamente povoada: tem aproximadamente 2,1 milhões de pessoas, sendo 1,7 milhão considerados refugiados palestinos.
Há no total oito campos de refugiados administrados pela ONU na região, e a organização denuncia que ao menos duas escolas que gerencia para abrigar deslocados internos do atual conflito já foram atingidas por ataques que partem de solo israelense.
Gaza vive sob um bloqueio de Israel por terra, ar e mar imposto desde que o Hamas assumiu o controle em 2007, fatores que deterioraram as situações socioeconômicas. De acordo com a agência da ONU que atua na área, ao menos 63% da população local vive em insegurança alimentar, e 81,5% vive na pobreza.
O desemprego atinge mais de 46% da população -entre aqueles de 15 a 29 anos, chega a 62%.
Além das potenciais consequências para palestinos, o temor são os efeitos que a ação militar pode ter para as dezenas de reféns em mãos do Hamas. O número é incerto, mas Israel diz ter conhecimento de ao menos 95 pessoas levadas pela facção terrorista para Gaza.
Na entrevista coletiva organizada pela chancelaria e pelo Exército de Israel nesta quinta, três israelenses que também têm nacionalidade de algum país da América Latina foram convidados a prestar depoimentos sobre parentes seus que, acreditam, estão nas mãos do Hamas.
O argentino Itzik Horn afirma não ter contato com dois filhos desde sábado. Um deles morava em um kibutz (comunidade agrícola) perto da fronteira que foi atacado. O outro, caçula, estava visitando o irmão.
“As informações chegam para a gente a conta-gotas. Buscamos nos hospitais, falamos com policiais, e nada. Deduzimos que estão em Gaza. Nossos filhos vão pagar o pato por toda essa agressão.”
Horn morava em um kibutz próximo, que não foi atacado, e falou com os filhos até às 8h30 da manhã daquele dia no horário local. Soube que os dois estavam refugiados no bunker da casa. Não teve mais notícias.
Yulie, 27, cujo sobrenome não foi compartilhado com os jornalistas presentes, tem a mãe e o pai desaparecidos. Eles estavam em uma casa próxima no mesmo kibutz da filha e se comunicaram por aplicativos de mensagem durante toda a manhã de sábado.
“Até que não falaram mais nada, e então recebi no Telegram uma foto do meu pai com dois terroristas ao seu lado. Não sabemos mais deles. Achamos que os dois estão em Gaza.”
Alex, também argentino e cujo sobrenome tampouco foi dado, relatou que o filho, oficial do Exército, desapareceu. O soldado de 19 anos atuava justamente na fronteira de Gaza no controle de autorizações de entrada e saída. Ele disse que, com a esposa, estava em uma ligação com o filho no início dos ataques.
Até que ele diminuiu o tom de voz, disse que membros do Hamas estavam por perto e desligou o telefone.
“É com essa sensação que seguimos”, disse o pai, preocupado com o fato de o filho ser asmático e, provavelmente, estar sem acesso a tratamento.