O coronavírus pode causar a pior recessão global do século, alertou o FMI nesta terça-feira, enquanto alguns países como Áustria, Itália e Espanha reiniciam timidamente sua atividade econômica em um país paralisado, com mais da metade da população em isolamento.
Com mais de 124.000 mortos no mundo e 1,69 milhão de infectados desde que surgiu em dezembro na China, a pandemia de COVID-19, que avança em ritmo acelerado nos Estados Unidos, parece que começa a retroceder na Europa.
Diante dessa situação, vários governos europeus começaram a suspender parcialmente as medidas de contenção, a fim de retomar as atividades e mitigar as consequências econômicas da pandemia, que segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI) podem ser ainda piores do que as da Grande Depressão. de 1929. A instituição prevê uma contração econômica global em 2020 de 3% e um “sério risco” de piora.
O “Grande Confinamento”, que afetará principalmente os países em desenvolvimento, reduzirá 7,5% do PIB da zona do euro e 5,9% do dos Estados Unidos. Somente a China e a Índia se salvarão da recessão este ano, crescendo 1,2% e 1,9%, respectivamente.
A contração do PIB será acentuada também na América Latina e no Caribe (-5,2%), com recessão no México (-6,6%), no Brasil (-5,3%) e na Argentina (-5,7%). Alguns efeitos negativos já estão sendo notados no cotidiano de muitos cidadãos.
– Volta ao trabalho –
Nesta terça-feira em Viena, a avenida comercial do bairro popular Favoriten retomou as atividades, mas as marcas da COVID-19 estão presentes: muitos clientes aguardavam do lado de fora das lojas, mantendo a distância uns dos outros, e a maioria usava máscaras.
Fatih Altun, dono de uma loja de reparo de telefones celulares, afirmou que tem medo do vírus, mas se viu obrigado a reabrir após um mês sem faturamento. “Perdi entre 5.000 e 6.000 euros e tive que demitir meu único funcionário”, disse.
Na vizinha Itália, o país mais afetado na Europa, com mais de 21.000 mortos e quase 160.000 casos, papelarias, livrarias e lojas de produtos infantis foram autorizadas a reabrir as portas, mas nem todas as regiões decidiram aplicar a medida, por precaução.
“É um absurdo” permitir a reabertura de lojas, denunciou o presidente da região italiana de Piemonte (norte), Alberto Cirio. “Estou trabalhando para manter as pessoas em casa”, acrescentou, assegurando que “manter a disciplina é a única maneira de não estragar os sacrifícios feitos até agora”.
O confinamento na Itália deve prosseguir até 3 de maio, mas o governo também autorizou a retomada das atividades florestais e agrícolas, entre outras, seguindo os passos da Espanha, que na segunda-feira viu o retorno do trabalho nos setores da construção e em algumas indústrias.
As autoridades da Espanha, país que nesta terça-feira superou 18.000 mortes provocadas pela COVID-19, consideram que o pico da pandemia ficou para trás. O confinamento estrito prosseguirá em vigor, porém, até pelo menos 25 de abril.
Na França, com mais 15.000 óbitos provocados pelo coronavírus, o presidente Emmanuel Macron prorrogou o confinamento até 11 de maio. A data, afirmou Macron em um discurso à nação na véspera, será “o início de uma nova etapa”. O chefe de Estado também mencionou a reabertura progressiva das escolas.
O Reino Unido também registrou um aumento no saldo diário de mortos nesta terça-feira, com 778 novas mortes, o que elevou o total para mais de 12.000. Seu governo deve decidir nos próximos dias se prolongará o confinamento, decretado em 23 de março por três semanas.
Enquanto isso, nos Estados Unidos, o país mais atingido pelo vírus, com mais de 24.000 mortes e quase 600.000 casos, o presidente Donald Trump disse na segunda-feira que está determinado a reativar a economia o mais rápido possível, estimando que o momento mais difícil já está sendo deixado para trás.
Em Nova York, onde o COVID-19 causou mais de 10.000 mortes, o número de mortos aumentou nesta terça-feira, com 778 novas mortes.
– “Equilíbrio” –
Ante o início da suspensão progressiva das medidas, sob a pressão da necessidade de reativar a economia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu aos países que não baixem a guarda até a obtenção de uma “vacina segura e eficaz”, com o objetivo de evitar novos surtos.
“As medidas devem ser retiradas lentamente e com controle”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que pediu um “equilíbrio” entre a proteção da população e a retomada da economia.
A volta ao trabalho, como aconteceu na China após o fim do confinamento, parece longe em outras partes do mundo, como na Índia, que decidiu prorrogar o confinamento de seu 1,3 bilhão de habitantes até pelo menos 3 de maio.
Na Rússia, o presidente Vladimir Putin reconheceu que a situação “não segue na melhor direção”, ao mencionar a escassez de equipamentos de proteção para os médicos.
Na América Latina, a pandemia já provocou quase 3.000 mortes e mais de 70.000 contágios, sobretudo no Brasil (1.328 mortos e 23.430 casos), Equador (355 e 7.529) e México (332 e 5.014).
– “Não sei do que tenho mais medo” –
As consequências da pandemia vão além dos cuidados de saúde.
No México, a equipe de saúde enfrenta a rejeição da população que os vê como uma fonte de contágio. “Não sei a quem temer mais: COVID ou as pessoas que podem começar a nos agredir”, diz Ariadna, uma enfermeira de 27 anos.
Em todo o mundo, a pandemia atinge especialmente os mais pobres.
Em Nigeria, nome de um bairro pobre da cidade equatoriana de Guayaquil, o local mais afetado pelo coronavírus no país, Washington Angulo, líder comunitário, lamentou a pobreza multiplicada pela pandemia.
“As autoridades dizem às famílias: fiquem dentro de casa, mas não enxergam além. A necessidade que tínhamos antes disso e que agora é pior”, explica.
Em Cuba, onde há mais de 700 casos confirmados de coronavírus, vozes se elevam para pedir o fim do bloqueio americano imposto em 1962, complicando a compra de suprimentos médicos.
“O bloqueio é ainda mais cruel e genocida do que normalmente é quando não estamos enfrentando uma epidemia”, denunciou Néstor Marimón, diretor de relações internacionais do Ministério da Saúde.
Agence France-Presse