Os Estados Unidos elaboraram uma proposta de paz para a Ucrânia que contempla que Kiev ceda território e reduza à metade seu exército, disse à AFP uma fonte a par do assunto nesta quarta-feira (19), quando um bombardeio russo matou 26 pessoas no oeste ucraniano.
Entre os falecidos na cidade de Ternópil contam-se três crianças, enquanto 92 pessoas ficaram feridas, indicaram os serviços de emergência.
Em meio às hostilidades, a Ucrânia recebeu uma nova proposta de paz dos Estados Unidos que parece se alinhar às exigências máximas da Rússia e que Kiev rejeitou repetidamente como sinônimo de capitulação.
O texto exige que Kiev ceda o território controlado pela Rússia e reduza seu exército em mais da metade, disse nesta quarta-feira à AFP uma fonte conhecedora do assunto, sob condição de anonimato.
O esboço estipula “o reconhecimento da Crimeia e de outras regiões que os russos tomaram” e “a redução do exército para 400 mil efetivos”, afirmou a fonte.
A Ucrânia também deveria renunciar ao seu armamento de longo alcance, explicou.
“Um detalhe importante é que não entendemos se isso é uma iniciativa de Trump” ou de “seu entorno”, disse essa fonte. Também não está claro o que a Rússia faria em troca dessas concessões, acrescentou.
A AFP entrou em contato com a Casa Branca para comentários, ainda sem resposta.
O meio de comunicação americano Axios havia publicado anteriormente que Moscou e Washington trabalhavam em um plano secreto para pôr fim à guerra iniciada em fevereiro de 2022 com a invasão russa.
O Kremlin não quis comentar essa informação e depois afirmou que não havia novidades nos esforços de paz.
Atualmente, a Rússia controla cerca de um quinto do território ucraniano, em grande medida destruído pelos combates.
Uma de suas principais exigências para a paz é conservar as zonas do leste e do sul da Ucrânia que controla.
Em 2022, Moscou reivindicou a anexação de quatro regiões administrativas ucranianas (Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson), embora não as controle totalmente.
A Rússia também anexou a península da Crimeia em 2014 e a domina completamente.
Pelo menos 26 mortos
Pelo menos 26 pessoas morreram nesta quarta-feira em um dos piores bombardeios russos no oeste da Ucrânia, um ataque que coincidiu com a infrutífera visita do presidente Volodimir Zelensky à Turquia para retomar as negociações de paz.
Após se reunir com seu par turco, Recep Tayyip Erdogan, em Ancara, Zelensky expressou sua vontade de que as trocas de prisioneiros com a Rússia sejam retomadas “daqui até o final do ano”.
Sua visita à Turquia, sem presença russa, buscava reativar a participação dos Estados Unidos nos esforços para pôr fim à invasão russa. Mas o encontro foi marcado pela ausência de Steve Witkoff, o principal enviado do presidente Donald Trump.
A Turquia acolheu três rodadas de negociações entre Rússia e Ucrânia este ano, que só resultaram na troca de prisioneiros e na repatriação dos corpos de soldados mortos.
O Exército russo, enquanto isso, continuou bombardeando cidades e infraestruturas energéticas ucranianas antes do início do inverno no hemisfério norte.
Em Ternópil, o ataque atingiu dois blocos residenciais. Nas fotos publicadas pelas autoridades aparecem edifícios destruídos, com enormes incêndios visíveis através de janelas quebradas.
“Pressão insuficiente”
As autoridades de Ternópil informaram que, devido aos incêndios, o nível de cloro no ar multiplicou-se por seis e pediram aos residentes que permanecessem em casa e fechassem as janelas.
A Rússia lançou mais de 476 drones e 48 mísseis, segundo a força aérea ucraniana, que destruiu 442 e 41, respectivamente.
Os ataques noturnos também causaram dezenas de feridos na região nordeste de Kharkiv. Além disso, a Rússia atacou outras partes do oeste ucraniano.
O chefe de governo alemão, Friedrich Merz, denunciou “uma intensificação massiva” dos ataques russos.
“Isso não tem nada a ver com objetivos militares. Trata-se puramente de uma guerra de terror contra a população civil ucraniana”, denunciou em uma coletiva de imprensa.
© Agence France-Presse