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EUA e aliados farão novo míssil hipersônico contra Rússia e China

Esses movimentos todos indicam algo que o pacto anunciado antes da guerra por Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping já insinuava

FolhaPress

05/04/2022 16h14

Foto: Reuters

Igor Gielow
São Paulo, SP

Atrás da Rússia e da China no campo dos mísseis hipersônicos, os Estados Unidos anunciaram com seus aliados militares Reino Unido e Austrália que irão desenvolver uma dessas armas, consideradas vitais nas guerras do futuro.

É a segunda iniciativa militar concreta anunciada pelo chamado pacto Aukus, anunciado para a surpresa de adversários e aliados da Otan (aliança militar ocidental) em setembro do ano passado. A primeira foi a promessa de equipar a Austrália com submarinos de propulsão nuclear, alterando o balanço futuro de forças no Indo-Pacífico de olho na expansão chinesa.

Isso irritou a China, que buscou aprofundar sua cooperação com a aliada Rússia e inclusive promoveu provocações navais na região, mas também países ocidentais como a França –que perdeu um negócio multibilionário de fornecimento de submarinos aos australianos.

Os chineses reagiram nesta terça. Seu embaixador na ONU, Zhang Jun, disse que a medida pode alimentar “crises como a da Ucrânia em outras partes do mundo”, sem citar o contencioso de seu país com Taiwan, usualmente comparado ao entre Moscou e Kiev.

O anúncio é direcionado à China e à Rússia, que testou pela primeira vez em combate um míssil hipersônico na guerra da Ucrânia. Há três semanas, foram empregados modelos Kinjal, basicamente mísseis balísticos que podem voar a 10 vezes a velocidade do som.

Segundo o analista aeroespacial sênior do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, Douglas Barrie, não há explicação militar para o uso senão o de querer testar a capacidade num ambiente de combate real e, também, fazer propaganda para o Ocidente. Isso porque os ucranianos não têm defesas aéreas efetivas contra mísseis hipersônicos com capacidade de manobra.

O recado, contudo, foi dado. Os russos desenvolvem outros modelos, como o Tsirkon, em fase avançada de testes. Já os chineses surpreenderam o Ocidente com dois testes alegados desses mísseis, o que eles não confirmam, inclusive um com um veículo planador hipersônico –que Moscou tem em operação também.

Não só chineses. Em 5 de janeiro, a Coreia do Norte disse ter testado um míssil do tipo, embora, assim como no caso de Pequim, haja dúvidas sobre a real capacidade empregada.

Certeza há de que os EUA estão ficando atrás dos rivais neste campo. A grande vantagem dos hipersônicos de nova geração, dado que qualquer míssil balístico intercontinental também atinge ultravelocidades nas fase final de reentrada de suas ogivas nucleares, é que suas trajetórias podem ser alteradas em voo. Isso torna o seu abate muito mais difícil.

Testes americanos estão em passo lento, e mesmo o comando da Força Aérea já colocou a necessidade desses armamentos em questão, favorecendo a aceleração do programa do bombardeiro furtivo ao radar de nova geração B-21. Parece que isso está mudando, a começar por um ensaio de voo que o Pentágono disse ter sido bem-sucedido em março.

“Nós reafirmamos nosso comprometimento com o Aukus e com um Indo-Pacífico livre e aberto”, disseram o presidente Joe Biden e os premiês britânico, Boris Johnson, e australiano, Scott Morrisson. Eles falaram que é preciso estreitar relações “à luz da invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia”.

Além de hipersônicos, eles anunciaram investimentos em guerra eletrônica e medidas para interceptação desse tipo de míssil. Até aqui, o Aukus criou 17 grupos trilaterais de trabalho, 9 específicos para os submarinos, e também incluindo desenvolvimento em inteligência artificial e defesa cibernética.

A China já chamou o grupo de uma tentativa ao estilo Guerra Fria de dividir o seu quintal estratégico em blocos. EUA e Austrália também fazem parte de uma outra aliança, chamada Quad, com Japão e Índia, outros dois rivais diretos de Pequim. Nova Déli, contudo, mantém boa relação com Moscou, o que traz nuances ao sistema americano de alianças no Indo-Pacífico.

Com a guerra na Ucrânia e o terremoto no sistema internacional de segurança, os indianos talvez tenham dificuldades de se manterem como os maiores compradores de armas russas, atrás apenas da aliada China. Por ora, são os EUA que têm se beneficiado da crise.

Nesta terça, Washington aprovou a venda de oito caças F-16 para o governo da Bulgária. O negócio é de US$ 1,67 bilhão (R$ 7,8 bilhões) e os aviões deverão ser entregues em 2027 e 2028. Sofia já havia comprado outros oito aviões em 2020, que ainda não foram entregues, para substituir sua claudicante frota de modelos soviéticos.

Hoje, a Otan providencia a defesa do espaço aéreo desse ex-país comunista. Após o começo da guerra, os EUA abocanharam vendas de caças avançados F-35 para Alemanha e Canadá, além outras encomendas militares.

Esses movimentos todos indicam algo que o pacto anunciado antes da guerra por Vladimir Putin e o chinês Xi Jinping já insinuava: a confluência de conflitos para o escopo da Guerra Fria 2.0, em vigor entre Washington e Pequim desde 2017.

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