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Esperança cada vez menor de encontrar sobreviventes de terremoto que matou mais de 20 mil na Turquia e Síria

O balanço não para de aumentar: os números atualizados indicam 20.451 mortes, 17.134 na Turquia e 3.317 na Síria

Redação Jornal de Brasília

09/02/2023 17h01

Foto: Bakr ALKASEM / AFP

Por Omar Haj KADOUR, com Fulya OZERAN em Adiyaman (Turquia) e Remi Banet em Antakya (Turquia)

A esperança de encontrar mais sobreviventes é cada vez menor nas zonas afetadas pelo terremoto de segunda-feira na Turquia e na Síria, um dos mais potentes em décadas na região, que provocou mais de 20.000 mortes.

As equipes de emergência prosseguem com as buscas por milhares de pessoas que as autoridades suspeitam que estão presas nos escombros, mas o otimismo diminui com as temperaturas gélidas e a superação do prazo de 72 horas, considerado crucial para resgatar sobreviventes.

O balanço não para de aumentar: os números atualizados indicam 20.451 mortes, 17.134 na Turquia e 3.317 na Síria.

Além disso, os países contabilizam perdas econômicas gigantescas: de acordo com a agência de classificação Fitch provavelmente devem “superar dois bilhões de dólares e podem alcançar quatro bilhões de dólares ou mais”.

Cerca de 23 milhões de pessoas estão “potencialmente em risco, incluindo cinco milhões de pessoas vulneráveis”, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que teme uma grave crise sanitária, com doenças como o cólera, que causaria ainda mais danos que o terremoto.

Na cidade turca de Antakya, os sobreviventes procuravam os corpos dos parentes mortos em um estacionamento transformado em necrotério improvisado.

“Encontramos minha tia, mas não o meu tio”, diz, emocionada, Rania Zaboubi, uma refugiada síria que perdeu oito familiares.

O terremoto de magnitude 7,8 aconteceu durante a madrugada de segunda-feira, quando muitas pessoas estavam dormindo nesta região, onde milhares de moradores já sofreram com perdas e tiveram que deixar seus lares devido à guerra civil da Síria.

Nesta quinta-feira, o noroeste da Síria, controlado pelos rebeldes, recebeu o primeiro comboio de ajuda internacional através da passagem de fronteira de Bab al Hawa, a única autorizada para o envio de material a partir da Turquia.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, instou, nesta quinta-feira, o Conselho de Segurança a autorizar a abertura de novos pontos fronteiriços entre Turquia e Síria para entregar ajuda humanitária da ONU às vítimas do terremoto.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que a entrega inclui mantas, colchões, tendas e artigos básicos de socorro para cobrir as necessidades de ao menos 5.000 pessoas.

Embora tenha sido um pacote de assistência planejado desde antes do terremoto, “pode ser considerada uma resposta inicial das Nações Unidas e deve continuar, como nos prometeram, com comboios maiores para ajudar nossa população”, disse Mazen Alloush, funcionário do posto de passagem da fronteira.

Também na Síria, o colapso de uma barragem de terra provocado pelo abalo sísmico obrigou a maioria dos habitantes do povoado de Tlul, no noroeste do país, a fugir.

Descontentamento na Turquia

Do outro lado da fronteira, o descontentamento cresce com a resposta das autoridades ao terremoto que, como admitiu na quarta-feira o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, apresentou “deficiências”.

“Claro, há deficiências. É impossível estar preparado para um desastre como este”, afirmou durante uma visita a algumas das áreas mais afetadas.

Vários sobreviventes foram obrigados a procurar alimentos e refúgio por conta própria. Sem equipes de resgate em vários pontos, alguns observaram impotentes os pedidos de ajuda dos parentes bloqueados nos escombros até que suas vozes não fossem mais ouvidas.

O frio agrava a situação. Apesar da temperatura de -5 °C, milhares de famílias em Gaziantep passaram a noite em carros ou barracas, impossibilitadas de retornar para suas casas ou com medo de voltar para os imóveis.

Os pais caminhavam pelas ruas da cidade do sudeste da Turquia com os filhos no colo, enrolados em cobertores, para tentar reduzir os efeitos do frio.

“Quando sentamos, dói. Tenho medo por causa das pessoas presas nos escombros”, disse Melek Halici, com a filha de dois anos coberta por uma manta.

‘Nenhum obstáculo à ajuda’

A União Europeia prepara uma conferência de doadores em março para mobilizar ajuda internacional para Síria e Turquia.

“Ninguém deve ficar sozinho quando uma tragédia como esta atinge uma população”, afirmou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

A questão da ajuda é delicada na Síria, país afetado pela guerra civil, com regiões sob controle dos rebeldes e um governo que tem a inimizade do Ocidente.

A União Europeia enviou rapidamente equipes de emergência para a Turquia, que também recebeu ajuda dos Estados Unidos, da China e dos países do Golfo, mas, inicialmente, ofereceu assistência mínima à Síria por causa das sanções contra o regime de Bashar al-Assad.

Na quarta-feira, no entanto, o governo Assad solicitou formalmente ajuda a Bruxelas e a Comissão Europeia incentivou os 27 países do bloco a responder de maneira favorável, mas com vigilância para impedir o desvio de material.

O enviado especial da ONU para a Síria pediu que a ajuda humanitária não seja politizada. “Temos que fazer todo o possível para garantir que não exista nenhum obstáculo à ajuda vital que é necessária”, disse Geir Pedersen.

Em uma região com atividade sísmica recorrente, o terremoto de segunda-feira foi o mais violento na Turquia desde 1939, quando um tremor provocou 33.000 mortes na província de Erzincan, leste do país.

Em 1999, um terremoto de magnitude 7,4 matou mais de 17.000 pessoas.

© Agence France-Presse

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