O chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez, considerou “inexplicável e inaceitável” que o rei Felipe VI tenha sido excluído da transferência presidencial no México por decisão da própria presidente eleita, Claudia Sheinbaum, resultando na ausência de representação de Madri na cerimônia.
“Achamos absolutamente inaceitável que se exclua a presença do nosso chefe de Estado”, disse Sánchez em uma coletiva de imprensa na sede da ONU, em Nova York.
A declaração do primeiro-ministro espanhol se soma assim ao pronunciamento de seu ministério das Relações Exteriores na terça-feira, informando que não haverá uma delegação de Madri no ato na Cidade do México, no dia 1º de outubro.
“Por isso, expressamos ao governo do México a ausência de qualquer representante diplomático do governo de Espanha como sinal de protesto”, acrescentou Sánchez.
A própria Sheinbaum emitiu um comunicado nesta quarta-feira (25), no qual explica os motivos que a levou a convidar apenas Sánchez, e não o monarca, que é quem costumava representar a Espanha nas conferências de posse latino-americanas antes mesmo de se tornar rei.
Sheinbaum cita “antecedentes” como uma carta que o atual presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, invejoso ao rei em 2019 convidando a ele e ao papa a considerarem “os danos causados” pela Conquista do México (1521-1821).
“Infelizmente, esta carta ficou sem resposta”, acrescentou o presidente eleito, criticando também o facto de ter sido divulgado à imprensa.
Aquele que será o primeiro presidente da história do México esclareceu que já abordou o assunto com Sánchez. “Há alguns dias ele me ligou e conversamos sobre isso”, acrescentou sem dar detalhes.
O governante espanhol informou que mantém contato com o próximo presidente mexicano, mas também evitou entrar em mais detalhes sobre o tema. As conversas “permanecem no âmbito da discrição”, afirmou.
López Obrador, presidente desde 2018, decretou duas vezes uma “pausa” nas relações bilaterais com a Espanha, uma vez pela emissão da carta e outra por considerar abusivas as práticas das empresas energéticas espanholas no México.
As autoridades mexicanas publicaram há uma semana a lista de personalidades que compareceram à cerimônia de posse de Sheinbaum.
A monarca espanhola não aparece na lista, que inclui importantes líderes da esquerda latino-americana, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e outras figuras como Jill Biden, esposa do presidente dos Estados Unidos.
“O chefe de Estado, o rei da Espanha, sempre comparece a todos os possuidores e por isso não podemos aceitar que neste caso seja excluído”, disse nesta quarta-feira a ministra da Defesa Espanhola, Margarita Robles, em declarações à imprensa no Congresso dos Deputados.
“Portanto”, continuou Robles, “se o chefe de Estado for excluído, a Espanha não será representado, o que lamentamos muito porque o povo mexicano é um povo irmão”.
Como herdeiros do trono e posteriormente rei, Felipe VI participou em cerca de 80 cerimônias de posse na América Latina, segundo o jornal espanhol El País, que acrescenta que a ausência do rei “em um dos países mais importantes da comunidade ibero-americana não passaria despercebida”.
A Espanha é o segundo país com maiores investimentos no México, atrás apenas dos Estados Unidos, e milhares de empresas espanholas operam em território mexicano, entre elas BBVA e Santander, os principais bancos do mercado mexicano.
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