ANDRÉ FONTENELLE
FOLHAPRESS
Em evento nesta terça (9) em um hotel parisiense, o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, admitiu a possibilidade de seu país aprovar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul.
“A França é, em princípio, favorável a um acordo entre a União Europeia e o Mercosul”, afirmou Lenain, lendo discurso em português em um colóquio sobre perspectivas para 2026. “Os países do Mercosul são parceiros estratégicos, com os quais a Europa compartilha interesses e valores.”
O diplomata ressalvou, porém, que a França deseja “um acordo que gere benefícios mútuos e não prejudique setores sensíveis”.
Para isso, segundo ele, será preciso “respeitar três condições: a adoção de uma cláusula de salvaguarda, atualmente em análise; a implementação de medidas-espelho, para garantir que os produtos importados cumpram as mesmas normas que os produtos europeus; e o reforço dos controles sanitários e fitossanitários”.
“É à luz do cumprimento dessas condições que a França se pronunciará de forma definitiva sobre esse acordo”, completou Lenain.
A declaração é mais um sinal da sutil mudança de postura do governo francês, que da oposição total ao acordo, alegando risco aos agricultores locais, passou a admitir sua entrada em vigor, desde que atendidas as condições citadas pelo embaixador. Para barrar a aprovação, são necessários quatro países que somem 35% da população da União Europeia. A França não dispõe desses apoios.
Na segunda (8), a Comissão de Comércio Internacional do Parlamento Europeu aprovou os mecanismos de salvaguarda para importações agrícolas, etapa necessária para que o acordo seja aprovado na reunião do Conselho Europeu, em Bruxelas (Bélgica), prevista para os próximos dias 18 e 19. Caso isso ocorra, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, deve ir à América do Sul no dia 20 para que os dois blocos assinem o tratado.
No mês passado, durante a cúpula do G20 na África do Sul, o presidente Lula garantiu que o acordo será assinado no dia 20, possivelmente em Brasília. Depois disso, ainda é necessária a aprovação do Parlamento Europeu, o que só pode ocorrer em 2026.
Em encontro com empresários brasileiros em Paris, no final de novembro, o presidente da França, Emmanuel Macron, reconheceu que a assinatura pode ocorrer após a negociação das mudanças pedidas por seu país.
O embaixador Lenain, que está em Paris em viagem particular, participou do encontro Agenda 2026, organizado pelas empresas Lisboa Connection e Amado Mundo. O colóquio reuniu autoridades
europeias e brasileiras, como o ex-primeiro-ministro português José Manuel Durão Barroso o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso. Os dois integraram uma mesa sobre os resultados da COP30, cúpula ambiental realizada no mês passado em Belém.