O Ministério da Defesa da Rússia declarou nesta terça, 30, que o sistema de mísseis hipersônicos Oreshnik, com capacidade nuclear, entrou em serviço ativo em Belarus, um país aliado russo. O anúncio foi feito no momento em que os esforços dos EUA para mediar um acordo para encerrar a guerra na Ucrânia entram em uma fase crucial.
Após alegar que uma residência de Vladimir Putin foi atacada pelos ucranianos, Moscou afirmou ontem que vai endurecer sua posição nas negociações.
A Defesa russa divulgou um vídeo no qual veículos de combate que fazem parte do sistema móvel de mísseis balísticos de alcance intermediário atravessam uma floresta como parte do treinamento de combate. O anúncio do ministério seguiu uma declaração do presidente belarusso, Alexander Lukashenko, que disse no início deste mês que o Oreshnik havia chegado ao país.
Lukashenko afirmou que até 10 desses sistemas de mísseis serão estacionados em Belarus. Putin afirmou no início deste mês que o Oreshnik entraria em serviço de combate antes do fim do ano. Ele fez a declaração em uma reunião com altos oficiais militares russos, na qual alertou que Moscou buscará estender seus ganhos na Ucrânia se Kiev e seus aliados ocidentais rejeitarem as exigências do Kremlin nas negociações de paz.
Belarus é um aliado fundamental de Moscou. O país foi usado como plataforma de lançamento para a invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro de 2022, além de fornecer ao exército russo roupas, equipamentos e materiais, embora não soldados.
O uso do míssil Oreshnik, com capacidade nuclear, foi visto como uma escalada e um grande desafio às defesas antimísseis europeias, segundo o jornal britânico The Guardian. Acredita-se que o Oreshnik seja um míssil de alcance intermediário capaz de atingir qualquer ponto da Europa e alcançar a costa oeste dos EUA. Mísseis hipersônicos têm velocidade maior e interceptação muito mais difícil do que os supersônicos. Putin afirmou que as armas são impossíveis de ser interceptadas. O deslocamento anunciado poderia, em tese, permitir que mísseis nucleares russos, armazenados em Belarus, atingissem alvos europeus mais rapidamente. Belarus também faz fronteira com Polônia, Lituânia e Letônia – todos países da Otan
A Rússia usou o Oreshnik pela primeira vez em novembro de 2024, quando fez um disparo experimental contra uma fábrica em Dnieper, na Ucrânia.
Negociações
O anúncio russo ocorre em um momento delicado das negociações de paz. Donald Trump disse no domingo que Kiev e Moscou estariam “mais perto do que nunca” de um acordo. Mesmo assim, segundo ele, as negociações ainda podem fracassar.
O Kremlin afirma que drones ucranianos atacaram uma das residências oficiais favoritas de Putin em Novgorod e usa essa alegação para justificar um endurecimento de sua posição nas negociações de paz. Moscou se recusou a fornecer qualquer prova para sustentar suas alegações.
Autoridades ucranianas, incluindo o presidente Volodmir Zelenski, negaram veementemente ter realizado qualquer ataque desse tipo. Mas isso não impediu Putin de tentar usar as acusações para tentar azedar as relações entre Washington e Kiev
A Rússia afirma ter interceptado 91 drones direcionados à residência, que é cercada por sofisticados sistemas de defesa aérea, de acordo com imagens de satélite analisadas em um relatório de 2024 do Instituto para o Estudo da Guerra, citado pelo Wall Street Journal. Moscou alega que todos os drones foram derrubados.
“As circunstâncias deste alegado ataque não coincidem com o padrão de evidências observadas quando as forças ucranianas realizam atentados na Rússia”, afirmaram ontem analistas do instituto, citados pelo Guardian. Segundo eles, ataques ucranianos confirmados na Rússia normalmente geram evidências observáveis em fontes abertas, o que não ocorreu desta vez.
Estadão Conteúdo