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Efeito DeepSeek vai dos EUA aos Brics, mas é maior na própria China

Segundo Paul Triolo, vice-presidente para China e tecnologia na consultoria estratégica ASG, de Washington, o chinês DeepSeek se tornou um fenômeno mundial, com “o sul global em festa” em meio à rápida e ampla disseminação

Redação Jornal de Brasília

20/02/2025 13h58

deepseek

Foto: MLADEN ANTONOV/AFP

NELSON DE SÁ
PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS)

Já oferecido localmente nos Estados Unidos por big techs como Amazon e Microsoft e startups como Perplexity, o modelo de inteligência artificial do DeepSeek agora avança pelos Brics, abraçado por Indonésia e Arábia Saudita, além da Índia.

Foi integrado a plataformas como AIonOS, Aramco e Krutrim, respectivamente. A lista é do analista de tecnologia TP Huang, ao responder que também o Brasil pode encontrar seu caminho em IA recorrendo ao DeepSeek. “Sem problema, é muito fácil fazê-lo”, argumenta, citando o custo baixo e que qualquer país pode ajustá-lo às necessidades locais.

Segundo Paul Triolo, vice-presidente para China e tecnologia na consultoria estratégica ASG, de Washington, o chinês DeepSeek se tornou um fenômeno mundial, com “o sul global em festa” em meio à rápida e ampla disseminação.

Mas o impacto maior é na própria China, simbolizado no aperto de mão entre o líder Xi Jinping e o fundador e CEO do DeepSeek, Liang Wengfeng, no encontro com líderes empresariais de tecnologia do país, na segunda (17).

O jornalista Bill Bishop, do Sinocism, referência em cobertura da China nos EUA, descreveu, sobre a reação em Pequim: “Há uma percepção de que é algo incrivelmente poderoso para a China, porque o modelo é muito bom e é de código aberto. Qualquer país, qualquer pessoa ao redor do mundo pode baixá-lo em vez de ter que pagar à OpenAI”.

A disrupção global incluiu o próprio mercado chinês. Robin Li, CEO do Baidu, até recentemente a maior aposta do país contra a americana OpenAI, abriu a semana anunciando que seu próximo modelo de inteligência artificial será de código aberto.

“Uma coisa que aprendemos com o DeepSeek é que isso pode ajudar rapidamente na adoção”, justificou.

“Quando o modelo é de código aberto, as pessoas naturalmente querem experimentá-lo, por curiosidade, impulsionando adoções mais amplas.”

Li não foi convidado para o encontro com Xi, em contraste não só com Liang, do DeepSeek, mas com Jack Ma, do Alibaba, cujo bem-sucedido modelo de IA também é de código aberto.

Porém o movimento de maior significado na semana, em IA na China, foi que a Tencent iniciou os testes para o acesso direto dos quase 1,4 bilhão de usuários de seu aplicativo Weixin às buscas usando DeepSeek.

Chamado de “super app” e conhecido no exterior como WeChat, o Weixin vai de mensagens a pagamentos e vídeos –e abriga mais de quatro milhões de outros aplicativos. Embora restrito, o teste enfrentou excesso de usuários, causando lentidão nas respostas do DeepSeek.

Segundo o portal econômico chinês Jiemian, acredita-se que com o tempo todo o Weixin possa ser integrado ao DeepSeek, inclusive mensagens e funções como recomendação de compras à coleta de artigos em sites oficiais.

“Conectar os muitos componentes do ecossistema do Weixin é uma das tarefas mais importantes” no aplicativo da Tencent, avalia o Jieman, e o DeepSeek poderá “melhorar a eficiência ecológica da plataforma”.

Apesar de suas proporções, o Weixin é só parte do movimento. Fabricantes de smartphones, inclusive Huawei, Honor, Oppo e Vivo já acrescentaram o DeepSeek a seus assistentes de inteligência.

Os principais provedores de nuvem passaram a oferecer o DeepSeek: os próprios Tencent, Baidu e Alibaba, mais as teles China Mobile e China Telecom, entre outros.

Algumas das maiores montadoras de carros elétricos anunciaram que vão usar DeepSeek em alguma de suas plataformas: BYD, Geely, Great Wall Motor, Chery, SAIC e a Leapmotor, do grupo Stellantis.

Analistas como Huang e Triolo acreditam que o impacto do DeepSeek a acompanhar com mais atenção, a partir de agora, é sobre semicondutores ou chips para inteligência artificial de fabricação local, com design da Huawei, esforçando-se para competir com a americana Nvidia.

As duas empresas chinesas se aproximaram nas últimas semanas, quando a Huawei, entre outras big techs do país, possivelmente com articulação oficial, socorreu o DeepSeek para manter a ferramenta de IA no ar –ameaçada por excesso de demanda e ataques cibernéticos supostamente originados dos EUA.

A exemplo de Robin Li, do Baidu, Huang acredita que a lição principal do DeepSeek foi para os próprios usuários chineses, ao facilitar e popularizar o uso de IA. Com isso, estimula-se a concorrência, com pelo menos dois modelos se sobressaindo para enfrentar o DeepSeek R1: Qwen, do Alibaba, e Doubao, da ByteDance.

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