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Divergências na UE ameaçam assinatura do acordo com o Mercosul

França, Itália e Polônia resistem ao tratado comercial, enquanto protestos de agricultores intensificam a tensão em Bruxelas

Redação Jornal de Brasília

18/12/2025 13h58

Foto: Nocolas Tucat / AFP

Foto: Nocolas Tucat / AFP

A dois dias da assinatura prevista no Brasil do acordo UE-Mercosul, os líderes europeus debatem nesta quinta-feira (18) em Bruxelas se apoiam o tratado ou não, diante da oposição de França, Itália e Polônia e dos protestos de milhares de agricultores.

A Comissão Europeia e o Brasil, que preside atualmente o Mercosul (também integrado por Argentina, Paraguai e Uruguai), pretendem assinar o acordo comercial no sábado (20), na cidade de Foz do Iguaçu (PR).

O texto está em negociações há 25 anos e daria origem à maior zona de livre comércio do mundo.

“O Mercosul tem um papel central na nossa estratégia comercial: é um mercado potencial de 700 milhões de consumidores e é de enorme importância que consigamos a luz verde para completar a assinatura”, afirmou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, ao chegar à cúpula.

No entanto, os agricultores europeus temem o impacto negativo da entrada em massa na Europa de carne, arroz, mel ou soja sul-americanos, considerados mais competitivos devido às suas normas de produção.

Em contrapartida, os europeus poderiam exportar veículos e máquinas para o Mercosul.

Von der Leyen se reuniu nesta manhã com uma delegação da Copa-Cogeca, a principal organização agrícola europeia, e no final da reunião assegurou, em uma mensagem transmitida na rede X, que “a Europa estará sempre ao seu lado”.

Apesar disso, a tensão era palpável em Bruxelas, onde milhares de agricultores europeus expressaram a sua oposição ao pacto incendiando pneus e atirando batatas, o que levou a polícia a responder com canhões d’água e gás lacrimogêneo.

Além disso, cerca de 950 tratores bloquearam ruas no bairro europeu, provocando uma forte presença policial em torno das instituições da UE.

Indivíduos encapuzados também quebraram várias janelas de um edifício do Parlamento, conforme observou um jornalista da AFP.

Florence Pellissier, uma agricultora francesa, denunciou a “concorrência desleal” de produtos importados tratados com substâncias proibidas na Europa.

“Estamos aqui para dizer não ao Mercosul”, declarou à AFP o pecuarista belga Maxime Mabille. “É como se a Europa tivesse se tornado uma ditadura”, acrescentou, ao acusar a presidente da Comissão Europeia de tentar “impor o acordo à força”.

– “As contas não fecham” –

Antes da assinatura no sábado, a presidente do Executivo europeu precisa da aprovação de uma maioria qualificada dos Estados-membros. Vários deles pedem o adiamento do acordo, incluindo França, Polônia e Hungria, aos quais a Itália se juntou na quarta-feira.

“Consideramos que as contas não fecham e que este acordo não pode ser assinado”, declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, a jornalistas antes da reunião de cúpula.

Ele ressaltou que a França fará oposição a qualquer “tentativa de forçar” a adoção do pacto comercial com o bloco sul-americano.

Na mesma linha, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou na quarta-feira que seu país não está pronto para assinar o texto.

“Seria prematuro assinar o acordo nos próximos dias”, porque algumas salvaguardas que a Itália deseja para proteger seus agricultores “não foram concluídas”, declarou Meloni em discurso no Parlamento.

Do outro lado, Espanha, Alemanha e os países nórdicos apoiam com veemência o pacto com o Mercosul, desejosos de impulsionar as exportações no momento em que a Europa enfrenta a concorrência chinesa e um governo americano inclinado a impor tarifas.

“Seria muito frustrante que a Europa não conseguisse um acordo com o Mercosul”, declarou o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez.

“Se a União Europeia quer continuar sendo confiável na política comercial global, então as decisões devem ser tomadas agora”, declarou o chanceler alemão, Friedrich Merz.

Porém, com França, Itália, Hungria e Polônia contra ou se abstendo, o acordo não obteria a maioria necessária na UE para permitir a assinatura, caso seja submetido à votação.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um ultimato aos europeus na quarta-feira.

“Se a gente não fizer agora, o Brasil não fará mais acordo enquanto eu for presidente”, afirmou durante uma reunião ministerial em Brasília. “Se disserem não, nós vamos ser duros daqui pra frente com eles”.

AFP

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