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Democratas na Câmara dão passo em tentativa de impeachment de Trump

Há vários meses, a Comissão faz investigações sobre Trump e deve, pela primeira vez, colocá-las no marco legal para destituir um presidente

Aline Rocha

12/09/2019 14h12

WASHINGTON, DC – APRIL 18: U.S. President Donald Trump looks on during an event recognizing the Wounded Warrior Project Soldier Ride in the East Room of the White House, April 18, 2019 in Washington, DC. Today the Department of Justice released special counsel Robert Mueller’s redacted report on Russian election interference in the 2016 U.S. presidential election. (Photo by Drew Angerer/Getty Images)

A Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados, presidida pelos democratas, votará nesta quinta-feira, 12, a abertura de uma investigação para determinar a conveniência de se iniciar um processo de impeachment contra o presidente Donald Trump. A votação deve ocorrer ainda que muitos democratas continuem cautelosos sobre o tema. Há vários meses, a Comissão faz investigações sobre Trump e deve, pela primeira vez, colocá-las no marco legal para destituir um presidente.

A votação é uma etapa técnica do processo e a Comissão ainda precisaria introduzir artigos de impeachment contra Trump e obter aprovação da Câmara para apresentar a queixa contra ele. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, pediu cautela sobre o assunto, dizendo que o público em geral ainda não apoia um processo de destituição.

Mesmo se a Câmara recomendar dar sequência às acusações em um processo de impeachment, é improvável que o Senado, liderado pelos republicanos, o condene ou autorize sua remoção do cargo.

Ainda assim, o presidente da Comissão de Justiça, deputado Jerrold Nadler, disse que o painel avançará com as audiências de impeachment nos próximos meses, apoiadas por parlamentares que querem o avanço do processo.

A votação desta quinta-feira estabelecerá as regras para essas audiências, capacitando os parlamentares a questionar testemunhas, permitindo que algumas evidências permaneçam privadas e que o Conselho da Casa Branca testemunhe.

A Comissão explicou que a resolução é semelhante à da votação processual adotada no início das investigações dos processos de impeachment contra os presidentes Richard Nixon e Bill Clinton.

“A adoção desses procedimentos adicionais é o próximo passo nesse processo e ajudará a garantir que nossas audiências de impeachment sejam informativas para o Congresso e público, enquanto fornece ao presidente a capacidade de responder a provas apresentadas contra ele”, disse Nadler em comunicado divulgado na segunda-feira. “Não vamos permitir obstrução contínua de Trump para nos impedir de transmitir a verdade ao povo americano.”

A Comissão também iniciou dois processos contra a administração republicana após a Casa Branca impedir repetidamente o painel de obter documentos e testemunhos sobre o presidente.

Pelosi, por sua vez, disse que quer ver primeiro o que acontecerá com outras investigações na Justiça antes de tomar qualquer decisão sobre impeachment.

A Comissão anunciou que sob as novas regras para o processo a primeira audiência seria com o ex-gerente da campanha de Trump Corey Lewandowski no dia 17 de setembro. Lewandowski é mencionado várias vezes no relatório do ex-procurador especial Robert Mueller, analisado pela Comissão. Segundo o relatório de Mueller, Trump pediu a Lewandowski para passar uma mensagem a seu então secretário de Justiça Jeff Sessions para que limitasse a investigação do procurador especial, sob sua responsabilidade.

O painel presidido pelos democratas também convidou duas outras testemunhas mencionadas no relatório – os ex-assessores da Casa Branca Rick Dearborn e Rob Porter. A Casa Branca vem tentando impedir expor seus funcionários na investigação, mas Lewandowski nunca trabalhou oficialmente para a presidência.

A resolução a ser votada nesta quinta-feira deve estabelecer os parâmetros para as audiências de impeachment no painel, em uma tentativa de dar aos legisladores mais poderes para investigar o presidente. Isso permitiria aos integrantes da Comissão interrogar testemunhas por mais uma hora – 30 minutos para cada lado – além dos cinco minutos já permitido a eles.

A apresentação de evidências seria permitida em sessão privada para proteger a confidencialidade de materiais sensíveis e qualquer audiência da Comissão poderia ser designada por Nadler como parte da investigação.

Presidente sob investigação

A votação processual ocorre ao mesmo tempo em que o painel decide ampliar sua investigação de impeachment para além do relatório de Mueller, que consumiu a maior parte da energia da Comissão desde que foi lançado em abril.

O painel, em conjunto com a Supervisão da Câmara e a Comissão de Reforma do Governo, anunciou que exigiu informações sobre o gasto de dinheiro público com hotéis e propriedades do presidente para a investigação de impeachment.

As comissões informaram que houve “múltiplos esforços” de Trump e funcionários da administração para gastar dinheiro federal em suas propriedades, incluindo a estadia do vice-presidente Mike Pence na semana passada em um resort Trump em Doonbeg, Irlanda.

Há ainda a expectativa de que a Comissão de Justiça investigue pagamentos em dinheiro a pedido de Trump para esconder histórias potencialmente embaraçosas para ele. O painel também pretende intimar do Departamento de Segurança Interna para que investigue se o presidente ofereceu perdões preventivos em uma violação da lei. Outras intimações são prováveis.

Ao mesmo tempo, outras comissões também investigam o presidente, ainda que sem ligação com impeachment, uma prerrogativa da Comissão de Justiça.

Em uma dessas investigações, o presidente da Comissão de Inteligência da Câmara, Adam Schiff, escreveu ao ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn e exigiu que ele compareça para uma audiência em 25 de setembro. Flynn já admitiu na Justiça ter mentido ao FBI sobre suas conversas com um embaixador russo para os EUA e aguarda sua sentença.

A Comissão de Inteligência também informou que investigará possíveis esforços de Trump e seu advogado pessoal, o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani, para pressionar o governo da Ucrânia a ajudar Trump na sua campanha de reeleição em 2020.

O painel, juntamente com a Comissão de Relações Exteriores e de Supervisão, está exigindo registros relacionados a esses esforços, no que seria o primeiro passo de uma ampla investigação sobre o tema.

No início deste ano, Giuliani disse que viajaria a Kiev para pedir ao governo local que investigue o envolvimento do filho do ex-vice-presidente e pré-candidato democrata à Casa Branca Joe Biden com uma empresa de gás de propriedade de um oligarca ucraniano. Giuliani descartou depois a possibilidade de fazer essa viagem. 

 

Estadão Conteúdo

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