Em uma entrevista ao jornal publicada hoje, Amorim considerou que a posse de Cristina Fernández como presidente da Argentina, na segunda-feira, será “um aprofundamento da relação” com o Brasil, seu maior parceiro comercial.
O ministro disse que será “bem-vinda” uma maior presença internacional da Argentina a partir de agora e lembrou que em fevereiro Buenos Aires será sede da reunião de chanceleres sul-americanos e árabes.
“Fico entusiasmado com o fato de a América do Sul aparecer mais, é melhor. Claro que sempre com um eixo central Brasília-Buenos Aires. Há quem pense, no Brasil, que nosso país poderia buscar caminhos por conta própria. Nós achamos que trabalhar juntos com a América do Sul nos fortalece”, assegurou.
O chanceler afirmou que um maior protagonismo da Argentina não é motivo de conflito para o Brasil. “Quanto mais ativa for a política internacional da Argentina será melhor e abrirá mais oportunidades para todos os demais países da região”, acrescentou. Com relação ao Mercosul, Amorim admitiu “que pode existir certo ceticismo” em relação ao bloco.
“Mas basta olhar os números para ver que na realidade vai muito bem: o comércio bate um recorde a cada ano. Confio muito no futuro do Mercosul. O que ocorre é que não é fácil passar das decisões políticas às ações burocráticas, que às vezes se tornam um obstáculo para o comércio”, afirmou o chanceler.
“O grande desafio que temos no Mercosul é que o bloco deve ser percebido como algo importante nos países menores (Uruguai e Paraguai). Temos que fazer mais por eles”, disse.
Amorim afirmou que compreende “as dificuldades do Uruguai”, que pensa em negociar um acordo comercial com os Estados Unidos de forma independente. Esta opção foi criticada pelo Mercosul, que só assina tratados comerciais como bloco.
“Acabamos de negociar com Israel e vamos tentar um acordo com os países do Golfo. Pergunto-me se isso ocorreria se não existisse a atração que o grande mercado do Mercosul oferece. Agora, se um país pequeno negociar com EUA ou Europa, estes pedirão um preço absurdo por concessões muito pequenas. É uma ilusão crer que pode se negociar com a UE se não estivermos integrados”, disse Amorim.
O chanceler afirmou que o ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco “será muito importante”. A adesão desse país ainda precisa ser aprovada pelos Parlamento do Brasil e Paraguai. A Venezuela também precisa negociar com os quatro membros do bloco acordos de livre-comércio.
“A dificuldade maior da Venezuela é a liberação de tarifas. Por isso estamos trabalhando com eles em questões de integração das cadeias produtivas. A Argentina já fez muitas coisas, e o Brasil também colabora na substituição de importações agrícolas”, explicou.
“Os venezuelanos hoje não importam esses produtos nem do Brasil nem da Argentina, mas dos Estados Unidos. Creio que Argentina e Brasil podem trabalhar muito próximos à Venezuela no desenvolvimento industrial e agrícola”, acrescentou.
“Assim diminui o temor venezuelano à liberalização que o Mercosul implica. Superar esse medo é importante, porque quando estamos no Mercosul é preciso seguir as regras, e isso se aplica a todos”, afirmou o chanceler.