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Biden ensaia respiro em meio a operação contra Trump

De todo modo, a série de boas notícias para o presidente chama atenção pelo contraste com a dificuldade

FolhaPress

09/08/2022 15h42

Foto: Jim Watson/AFP

Thiago Amâncio
Washington, EUA

A operação de busca na casa do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump na segunda-feira (9) foi o movimento público mais ousado do Executivo americano até aqui nas investigações que apuram possíveis crimes cometidos pelo republicano. A ação ocorre em meio a uma semana de relativo respiro para o atual mandatário, Joe Biden, que convive com uma popularidade vacilante.

Trump reclamou, mas o mesmo FBI de quem pediu lealdade no começo de seu mandato até agora não veio a público para explicar os motivos da operação. Citando fontes nos setores de inteligência, a imprensa americana aponta que os agentes buscavam documentos secretos que o ex-mandatário possa ter retirado de forma indevida da Casa Branca ao deixar o governo.

Republicanos e a mídia favorável a Trump falam em perseguição política, mas chamou atenção a prova de força do Departamento de Justiça dos EUA, que já vinha intimando auxiliares e pessoas próximas do ex-mandatário para investigar seu envolvimento no ataque ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021, abrindo espaço para uma possível investigação criminal.

Se confirmado o confisco ou a destruição de documentos da Presidência, Trump pode, no limite, responder penalmente e até ser proibido de ocupar cargos públicos, o que inviabilizaria seu projeto de disputar as próximas eleições, em 2024.

Tudo isso um dia depois de Biden finalmente destravar um de seus principais projetos no Senado, mostrando que o democrata ainda tem algum controle, mesmo que claudicante, sobre sua base.

No domingo (7), o Senado aprovou um grande pacote ambiental e tributário após meses de negociação com senadores democratas que travavam o andamento do projeto. A aprovação representou um imenso alívio para Biden a três meses da eleição legislativa que pode reverter a estreita maioria do presidente no Congresso.

O pacote, oficialmente chamado Lei de Redução da Inflação, aumenta impostos de grandes empresas, injeta US$ 370 bilhões (R$ 1,89 trilhão) para programas de energia sustentável e corte expressivo de emissões de poluentes e subsidia remédios para a população idosa no seguro federal de saúde Medicare.

Até domingo, esta era a maior dor de cabeça dos corredores democratas no Congresso. Isso porque dois dos senadores da legenda, Krysten Sinema e sobretudo Joe Manchin, vinham manifestando discordâncias em público em relação ao volume de gastos, citando o risco inflacionário.

O acordo com Manchin e Sinema foi costurado nos últimos dias e consolidado no sábado (6), em uma rara sessão aos fins de semana no Senado. Foram 27 horas discutindo a legislação até que a lei foi posta em votação e aprovada no domingo –ainda precisa passar na Câmara, onde os democratas têm mais margem de manobra, o que deve ocorrer nesta semana.

Apesar das ambiciosas metas do projeto, como redução drástica de emissão de poluentes, a maior aposta é no curto prazo, no subsídio para medicamentos pelo programa federal Medicare. Questionado nesta segunda sobre um eventual impacto positivo para os democratas nas eleições de meio de mandato, Biden disse que “sim, imediatamente”. “É coisa grande, muda a vida das pessoas”, afirmou.

O projeto era especialmente importante para levar a cabo a plataforma de reformas com que Biden foi eleito, com previsão inicial de gastos de US$ 3,15 trilhões (R$ 16,1 trilhões) em programas de infraestrutura, sociais e ambientais, que foi enterrado pelo Congresso no ano passado. Ainda que o projeto aprovado no Senado deste domingo represente apenas uma fração desse valor, com previsão total de US$ 430 bilhões (R$ 2,2 trilhões) em reformas, o projeto ainda tem sido visto como prova de fôlego do presidente.

A aprovação no Senado não era nem a primeira boa notícia para Biden no domingo. Naquele dia, finamente saía do longo isolamento na Casa Branca após contrair o coronavírus –ele confirmou a doença em 21 de julho, teve testes negativos por quatro dias na semana seguinte e em 30 de julho voltou a ser diagnosticado com Covid-19. “Estou me sentindo ótimo”, antes de pegar um avião para Rehoboth Beach, em Delaware.

Biden ainda tem visto com alívio a melhora em índices econômicos, em meio à tensão com a possibilidade de recessão do país.

O preço médio da gasolina, que em meados de junho passou de US$ 5 (R$ 25,69) o galão, voltou a retroceder e nesta segunda-feira saía a US$ 4,038 (R$ 20,74) nos postos, mesmo patamar do começo de março, mas ainda distante do período pré-Guerra da Ucrânia –cada galão, na medida americana, corresponde a 3,8 litros.

Outro dado que tranquilizou o democrata foi a divulgação dos dados de desemprego na última sexta-feira (5). Analistas previam que a taxa de desemprego voltaria a subir além dos 3,6%, dado mais recente até então, depois que grandes empresas divulgaram números ruins de criação de emprego.

Mas na sexta o Departamento de Estatísticas do Trabalho trouxe um número ainda menor, de 3,5% –o desemprego chegou a 14,7% da população adulta em abril de 2020, no começo da pandemia de Covid-19. Na média anual, a última vez que o país viu um índice de desempregados menor do que esse foi em 1968.

Na última semana, Biden ainda teve o que mostrar à população americana no combate ao terrorismo –ainda que mais simbolicamente do que efetivamente. O governo americano anunciou que matou no dia 1º o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, um dos responsáveis pelos atentados de 11 de Setembro de 2001.

É claro que também houve reveses nos últimos dias, com o mais chamativo o fato de não ter conseguido convencer a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, a desistir da viagem até Taiwan, o que fez aumentar de forma expressiva as tensões entre China e Estados Unidos.

De todo modo, a série de boas notícias para o presidente chama atenção pelo contraste com a dificuldade que vinha tendo até aqui em aprovar reformas no Congresso e em conter a inflação galopante e a queda no PIB, que caiu pelo segundo trimestre consecutivo nos dados mais recentes.

Biden é um dos presidentes mais impopulares dos EUA a esta altura do mandato. Segundo o monitor de pesquisas de opinião do site FiveThirtyEight, o democrata tem 39,6% de aprovação nesta terça (9), índice ligeiramente superior ao de 37,5% que registrou em 21 de julho, ponto mais baixo até aqui.

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