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Mundo

BC dos bancos centrais critica reduzir impostos para subsidiar combustíveis

Tal mudança encerraria uma era de preços gerais relativamente estáveis, com alguns produtos mais baratos

FolhaPress

27/06/2022 13h44

Foto: Reprodução

Fernando Canzian
São Paulo, SP

O Bank for International Settlements, considerado o banco central dos bancos centrais, reprovou nesta segunda (27) a estratégia de países como o Brasil de tentar baixar impostos e subsidiar produtos como combustíveis para conter a inflação.

Para o presidente do BIS, o mexicano Agustín Carstens, esse tipo de medida acaba beneficiando muita gente que não precisa de subsídios, caso da gasolina. “O mais adequado seria reforçar programas [sociais] mais focalizados, para os que realmente precisam de ajuda”, disse.

Para tentar contornar o impacto da inflação na campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) avalizou o uso de quase R$ 35 bilhões em recursos públicos para subsidiar combustíveis. Mas seu governo mantém 700 mil famílias em situação de extrema pobreza (com renda mensal de até R$ 105 por pessoa) na fila de espera do programa Auxílio Brasil.

Outras 65,2 mil famílias em situação de pobreza, com renda mensal de R$ 105,01 a R$ 210 por pessoa, também estão habilitadas ao programa, mas ainda não tiveram o benefício concedido.

O BIS alerta que o atual surto inflacionário global pode ser persistente e duradouro. Em seu relatório anual, o órgão afirma que transições para ambientes de alta inflação raramente acontecem, mas são muito difíceis de reverter.

Segundo o BIS, muitas economias já estão vivendo isso, e recomendou que os bancos centrais não tenham receio de infligir até recessões em suas economias (via aumento das taxas de juro) para evitar um mundo persistentemente inflacionado.

Questionado pela Folha em entrevista sobre como conciliar aperto monetário e desaquecimento econômico com uma situação de aumento da pobreza e de fome como no Brasil, Carstens recomendou o reforço dos programas sociais.

Para o BIS, mais prejudicial para os pobres seria deixar que a inflação elevada persista, corroendo cotidianamente a renda, do que inflingir perdas no curto prazo para controlar os preços –daí a necessidade de amortecer a situação com o reforço de programas sociais.

Carstens elogiou o fato de o Banco Central brasileiro ter iniciado antes do que muitos bancos centrais o aumento dos juros para conter a inflação; e admitiu que os principais organismos de controle financeiro internacionais erraram em considerar que os choques provocados pela pandemia da Covid-19 seriam transitórios.

“O impulso das políticas monetárias [juros baixos] e fiscais [mais gastos] adotadas para evitar uma deflação [queda de preços; e possível recessão] passou a ser muito intenso e mostrou-se equivocado”, disse Carsterns.

Houve erro de avaliação também, segundo ele, em considerar que as interrupções nas cadeias produtivas seriam breves. “Achamos que os motores se apagariam e que ligá-los novamente seria fácil”, disse, a respeito da retomada lenta, e com problemas, na produção global.

O BIS afirma que o mundo passa agora por um choque profundo e “inerentemente estagflacionário (inflação com baixo crescimento)” devido aos preços mais altos das commodities, gargalos na cadeia de suprimentos e escassez decorrentes da invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Podemos estar chegando a um ponto de inflexão, além do qual uma psicologia inflacionária se espalha e se arraiga. Isso significaria uma grande mudança de paradigma”, diz seu relatório.

Tal mudança encerraria uma era de preços gerais relativamente estáveis, com alguns produtos mais baratos e outros mais caros -num contexto em que os bancos centrais podiam ignorar aumentos temporários nos preços do petróleo ou do gás natural, por exemplo, porque a inflação em geral permanecia sob controle.

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