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Após celebrar vitória, Taleban começa difícil tarefa de governar o Afeganistão

“Felicitações ao Afeganistão. Esta vitória pertence a todos nós”, disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do Taleban

Redação Jornal de Brasília

01/09/2021 7h48

O fim de duas décadas de ocupação estrangeira no Afeganistão foi celebrado com tiros para o alto na maduragada de Cabul. Era o aviso de que o Taleban agora controla o aeroporto da capital, após a retirada dos últimos soldados americanos. Após a comemoração, porém, vem a parte mais difícil: governar um país em frangalhos, isolado diplomaticamente e com pouca ajuda internacional.

“Felicitações ao Afeganistão. Esta vitória pertence a todos nós”, disse Zabihullah Mujahid, porta-voz do Taleban. “Esta é uma grande lição para outros invasores e para nossas futuras gerações. É um dia histórico, um momento histórico e estamos muito orgulhosos.”

Hekmatullah Wasiq, um dos líderes do grupo, anunciou o controle total da capital. “O Afeganistão está finalmente livre”, disse.

Na terça-feira, 31, os combatentes retiraram quase todos os postos de controle no caminho para o aeroporto – apenas um foi mantido. Líderes do Taleban caminharam vitoriosos pelos hangares, posaram diante dos cargueiros C-130 abandonados e tiraram selfies nas cabines dos helicópteros destruídos pelos EUA, em cenas que atestavam o novo capítulo que começou no Afeganistão.

O grupo, no entanto, está diante da missão mais complicada: governar. Quando o último voo americano decolou de Cabul, ainda na segunda-feira, horas antes do prazo para a retirara completa das tropas, estabelecido pelo presidente dos EUA, Joe Biden, o Tabelan deixou de ser um movimento insurgente e passou a controlar um país de 40 milhões de habitantes sem reconhecimento internacional, que precisa de ajuda, mas não tem acesso ao sistema financeiro global.

Agora no comando, o Taleban também terá de enfrentar a ameaça do Estado Islâmico e sua facção afegã – o Isis-K –, responsável pelo atentado da semana passada no aeroporto da capital, que matou 13 soldados dos EUA e quase 200 afegãos. Desde a queda do governo, os preços dos alimentos básicos dispararam, a moeda desvalorizou e o sistema bancário está paralizado, com saques limitados a US$ 200 por semana e longas filas na porta das agências. O principal mercado cambial de Cabul, o Saray Shahzada, permanece fechado.

Em risco

O fornecimento de serviços básicos como eletricidade está ameaçado porque muitos funcionários públicos não voltaram ao trabalho. Os EUA congelaram as reservas internacionais do governo afegão e o Fundo Monetário Internacional bloqueou o acesso do Afeganistão às reservas de emergência.

“Hoje, quase metade da população – cerca de 18 milhões de pessoas – precisa de ajuda humanitária para sobreviver”, disse ontem Antonio Guterres, secretário-geral da ONU. “Um em cada três afegãos não sabe de onde virá sua próxima refeição. Espera-se que mais da metade de todas as crianças menores de 5 anos se torne gravemente desnutrida no próximo ano. As pessoas estão perdendo acesso a bens e serviços básicos todos os dias.”

As condições devem piorar muito nas próximas semanas, com os estoques de comida se esgotando até o final de setembro, segundo Ramiz Alakbarov, coordenador humanitário da ONU para o Afeganistão. “Em Cabul, podemos estar à beira de uma catástrofe humanitária urbana”, disse. “Os preços estão em alta. Não há salários. Em algum momento, milhões de pessoas entrarão em desespero.”

Enquanto isso, a nova guerra do Taleban é pelo reconhecimento externo. Os EUA e alguns aliados, incluindo Reino Unido, Alemanha e Índia, fecharam suas embaixadas. No entanto, Paquistão, China, Rússia, Irã e Turquia, que é membro da Otan, mantiveram presença diplomática na capital afegã – embora eles não reconheçam formalmente as autoridades do Taleban, seus diplomatas estão em contato frequente com o grupo.

Moderação

Diante da necessidade de ajuda, o Taleban vem emitindo sinais de moderação. Desde que assumiram o poder, o grupo se esforça para passar uma imagem conciliadora e garantiu que não aplicará represálias contra as pessoas que trabalharam mo governo anterior. “Queremos boas relações com os EUA e com o mundo”, afirmou ontem Mujahid.

Saad Mohseni, proprietário da Tolo, maior emissora de TV do Afeganistão, enfatizou os enormes obstáculos que o Taleban enfrenta, incluindo ganhar o apoio da população afegão. “A expectativa das pessoas aumentou após os últimos 20 anos de liberdade e a parte mais difícil ainda está por vir”, disse. “O Taleban se integrará ao mundo com uma abordagem mais inclusiva? Ou eles vão voltar ao passado?”

Estadão Conteúdo

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