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Após 30 anos de exceção, Dinamarca vota se entra na defesa da UE

decide nesta quarta-feira em referendo sua entrada na política de defesa da União Europeia, da qual permaneceu à margem por 30 anos

Redação Jornal de Brasília

31/05/2022 10h40

Foto: Martin Sylvest / AFP

A Dinamarca decide nesta quarta-feira em referendo sua entrada na política de defesa da União Europeia, da qual permaneceu à margem por 30 anos, uma nova consequência da guerra na Ucrânia no mapa de segurança do continente.

O “sim” parece ser o favorito entre os 4,3 milhões de dinamarqueses convocados às urnas, com mais de 65% das intenções de voto na última pesquisa publicada no domingo.

Mas a prudência prevalece devido à alta abstenção que se espera e à tradição deste país acostumado a dizer “nej” (não) aos referendos sobre a Europa.

“Acredito de todo o coração que temos que votar sim. Já que teremos que lutar pela segurança da Europa, temos que estar mais unidos com nossos vizinhos”, comentou a primeira-ministra, Mette Frederiksen, no último debate televisionado na noite de domingo.

Membro do bloco comunitário desde 1972, a Dinamarca disparou o primeiro tiro de canhão do euroceticismo ao rejeitar o tratado de Maastricht em 1992 com 50,7%, algo nunca visto na época. 

Para acabar com esse bloqueio que ameaçava a entrada em vigor do tratado fundador de toda a União Europeia, a Dinamarca obteve uma série de cláusulas de exclusão conhecidas como “opt out” no jargão europeu e finalmente disse “sim” em uma nova votação no ano seguinte.

Exceções dinamarquesas

Desde então, a Dinamarca ficou de fora da zona do euro após um referendo em 2000, mas também da política europeia de assuntos internos e justiça (também rejeitada em um referendo em 2015) e de defesa. 

Devido a esta última exceção, o país escandinavo e membro fundador da Otan não participou em nenhuma missão militar da UE. 

A Dinamarca é o único país do bloco com esse desengajamento e fez uso dessa exceção 235 vezes em 29 anos, segundo uma contagem do think tank Europa.

Mas duas semanas após a invasão russa da Ucrânia, a primeira-ministra dinamarquesa anunciou um acordo com a maioria dos partidos no Parlamento para colocar essa exceção em referendo, além de investimentos militares significativos para ultrapassar os 2% do PIB de gastos em defesa desejados pela Otan.

“Foi uma grande surpresa”, comentou à AFP Lykke Friis, diretora do centro Europa.

“Ninguém pensava que o governo faria um referendo sobre o ‘opt out’ em matéria de defesa”, disse a especialista. “Sem a Ucrânia, este referendo nunca teria acontecido”.

Também ajudou a decisão da Alemanha, o aliado mais próximo da Dinamarca ao lado dos Estados Unidos, de investir maciçamente em suas forças armadas.

“A Dinamarca se viu em uma situação em que não podia mais se esconder atrás da Alemanha”, estimou Friis.

Maioria pelo sim

Antes marginal, a política de defesa dos 27 ganhou importância nos últimos anos, embora a ideia de um exército europeu ainda faça chiar muitos países. 

No referendo dinamarquês, onze partidos dos 14 com representação parlamentar fizeram campanha pelo sim, o que representa mais de 75% das cadeiras.

Apenas duas formações eurocéticas de extrema-direita e um partido radical de esquerda se posicionaram contra.

Um dos principais argumentos do campo do “não” é que o surgimento de uma defesa europeia seria em detrimento da Otan, pedra angular da segurança dinamarquesa desde sua criação em 1949. 

“A Otan é a garantia de segurança da Dinamarca. Seria completamente diferente se isso tivesse que ser decidido em Bruxelas”, disse neste domingo o líder do Partido Popular Dinamarquês, Morten Messerschmitt, eurocético. 

Com a candidatura histórica da Suécia e da Finlândia à Otan e o referendo dinamarquês, os três países escandinavos poderão em breve participar na política de defesa europeia e na aliança transatlântica.

Os resultados da votação são esperados na quarta-feira à noite. Os territórios autônomos da Dinamarca, Groenlândia e Ilhas Faroe não participam do referendo.

AFP

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