Ambos falaram sobre o temor de que as mudanças futuras sejam mais graves que o previsto por especialistas em clima da ONU, daí a necessidade de uma ação política. Trata-se de “uma questão de sobrevivência da civilização”, disse Al Gore.
“Há algumas carências nas análises, mas há vários dados que indicam que a questão climática será mais urgente no futuro. Esta é minha estimativa pessoal”, afirmou Pachauri na tradicional entrevista coletiva no Instituto Nobel de Oslo.
Al Gore disse que nas quatro décadas em que veio desenvolvendo o interesse pelo assunto notou um mesmo padrão: a realidade sempre se revela pior que os prognósticos iniciais dos cientistas.
O presidente do IPCC mostrou-se cético em relação à possibilidade de o desenvolvimento de tecnologias mais limpas reverter a situação, acrescentando que só poderão ser eficazes se estiverem acompanhadas de iniciativas políticas.
Pachauri disse que o custo econômico destas medidas é menor do que se acredita, que estas trazem conseqüências positivas, como a criação de postos de trabalho e uma melhora do meio ambiente em nível local, e afirmou que é necessário reduzir as emissões de gases do efeito estufa a partir de 2015.
Apesar do panorama traçado em sua exposição, os dois premiados mostraram-se otimistas sobre a possibilidade de conseguir um compromisso mundial ambicioso para substituir o Protocolo de Kioto.
Eles apontaram como primeiro passo nessa direção a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática que está sendo realizada em Bali. Pachauri disse ter visto convicção nos líderes políticos mundiais sobre a gravidade do problema e a necessidade de atuar, o que o leva a acreditar que Bali representará um passo adiante e estabelecerá os prazos para um novo acordo.
Al Gore justificou seu otimismo através do nascimento do “primeiro movimento popular de base global” contra a mudança climática, que acredita ser capaz de exercer uma pressão similar à exercida por grupos de ativistas americanos que nos anos 80 conseguiram os acordos de desarmamento entre EUA e União Soviética.
“O povo americano e os de outros países exigirão que seus líderes políticos entrem em ação”, afirmou Gore, que classificou os compromissos de vários estados e líderes empresariais americanos com a redução das emissões de gases de efeito estufa como positivos.
Gore mostrou seu apoio à iniciativa de premiados com o Nobel da Paz, como a guatemalteca Rigoberta Menchú, para fazer com que a ONU empreenda maiores esforços para obter a libertação da opositora birmanesa Aung San Suu Kyi, e reafirmou que não se candidatará às eleições presidenciais americanas de 2008.
O ex-vice-presidente americano acrescentou que não esperava retornar à política no futuro, apesar de também não dizer um “não” definitivo, e declarou não ter decidido qual candidato democrata apoiará.
Após uma reunião realizada horas antes com os dois ganhadores, o ministro de Assuntos Exteriores norueguês, Jonas Gahr Støre, afirmou que Gore preparava a criação de uma sólida plataforma política nos EUA para promover a política climática do próximo governo.
Gore e Pachauri encontraram-se depois com os membros do Comitê Nobel Norueguês, com o qual mais tarde participarão no Grand Hotel do tradicional “pequeno jantar” acompanhados de suas esposas.
Uma cerimônia com a ONG Save the Children e a princesa norueguesa Mette-Marit e uma recepção no Palácio Real, onde serão recebidos em audiência pelos reis Harald e Sonja, precederão a entrega de prêmios na Prefeitura de Oslo, na segunda-feira às 13h (10h de Brasília).
O Comitê Nobel premiou Gore e Pachauri, que sucedem Mohammed Yunus e seu banco de microcréditos Grameen Bank, em 12 de outubro, por “construir e divulgar um maior conhecimento sobre a mudança climática provocada pelo homem e por fixar a base das medidas que são necessárias para resistir a essa mudança”.
O Nobel da Paz, dotado de 10 milhões de coroas suecas (US$ 1,5 milhão), é o único a ser entregue em Oslo, por vontade expressa de seu criador, Alfred Nobel; os outros cinco prêmios serão entregues amanhã em cerimônia no Konserthuset de Estocolmo.