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Economia

Setor de pagamentos vai propor novo crediário ao Banco Central

O objetivo dos bancos e das bandeiras é desestimular o uso do parcelamento no cartão sem juros

Redação Jornal de Brasília

15/03/2024 10h18

Prédio do Banco Central em Brasília. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

JÚLIA MOURA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Entidades do setor de pagamentos devem se reunir com o Banco Central na última semana de março para apresentar a proposta de uma nova modalidade de parcelamento no cartão de crédito, com juros, mas com um número expressivo de parcelas.

O objetivo dos bancos e das bandeiras é desestimular o uso do parcelamento no cartão sem juros, oferecendo novos produtos em vez de pedir a redução no número de parcelas, como no ano passado.

A nova modalidade, batizada de “novo crediário”, é uma das alternativas em estudo.

O parcelamento sem juros entrou na mira de bancos quando governo e Congresso passaram a pressionar por uma redução nos juros do rotativo do cartão de crédito, que têm a taxa mais alta do mercado brasileiro, a 415,3% ao ano.

Desde o começo deste ano, após lei aprovada no Congresso, esses juros devem se limitar a 100% da divida original.

Ante a perspectiva de perda de receita com a limitação da taxa do rotativo, os bancos passaram a criticar o parcelamento sem juros atribuindo a essa modalidade uma alta na inadimplência -embora não haja estudos independentes que estabeleçam essa relação.

O parcelamento com juros no cartão já existe, mas acaba sendo menos utilizado que o parcelamento sem juros e outras modalidades de crédito mais baratas, como o consignado.

Segundo dados do BC, a taxa média mensal praticada pelo mercado no parcelado com juros é de 9% atualmente.

Agora, a ideia dos bancos é ofertar uma nova linha de crédito para os clientes, que pode ser acessada pelo mesmo cartão.

Na compra parcelada com crédito, o cliente vai poder escolher sem juros, com menos parcelas, ou com juros, com muito mais parcelas -ainda não há um limite de vezes definido, mas o setor trabalha com a possibilidade de entre 45 e 60 meses.

Já a taxa de juros ficará a cargo de cada instituição financeira, sendo maior que o crédito consignado (com garantia), que gira em torno de 1,7% a 2,6% ao mês, e menor que o crédito pessoal (sem garantia), com uma taxa de juro média mensal de 3,5% entre os principais bancos do mercado.

O juro também deve variar de pessoa para pessoa, de acordo com o perfil de risco, sendo informado pelo banco em seus canais.

Nos aplicativos também será possível fazer simulações de quanto seria o custo de determinada compra, multiplicando os juros pelo número de parcelas para se chegar ao valor final, contando os juros compostos (juro sobre juro).

Segundo entidades do setor, o novo parcelado com juros vai funcionar de maneira semelhante ao crediário das varejistas. A diferença é que o banco não vai saber a finalidade deste financiamento, enquanto as grandes varejistas têm conhecimento prévio da destinação dos recursos.

Como a chance de inadimplência pode ser maior ou menor a depender do item comprado, saber com antecedência o que o cliente está comprando ajuda as lojas na concessão mais precisa de crédito.

Para estimular o uso dessa nova linha, o setor financeiro irá ofertá-lo de forma padronizada, com uma forte comunicação aos consumidores. Outro possível incentivo é a distribuição de cartões de crédito a brasileiros que hoje não acessam a linha por terem um alto perfil de risco. Com os juros, os bancos poderiam arcar com tais operações.

O setor ainda não definiu se o novo crediário vai alterar o limite de gastos mensal no cartão de crédito.

Por ser uma nova linha de crédito, há a possibilidade de que o limite para gastos com juros seja distinto do que já existe, deixando o cliente com dois limites diferentes na fatura.

Mas também é possível que o parcelado com juros entre no atual limite do cartão de crédito e seu uso acabaria reduzindo os possíveis gastos no parcelado sem juros, caso não haja um aumento automático no limite de gastos.

Há ainda outras propostas dos bancos e das bandeiras para tentar reduzir o estímulo ao parcelado sem juros. Entre elas está a criação de um fundo contingencial para o risco residual dessas operações, nos mesmos moldes do que já existe para o débito.

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