MATHEUS DOS SANTOS
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O número de brasileiros que investiram em produtos de renda fixa cresceu 18% no terceiro trimestre de 2025 em relação ao ano passado, segundo dados da B3. O total passou de 86,1 milhões em 2024 para 101,4 milhões neste ano.
Desses 101,4 milhões, 100,3 milhões de investidores aplicaram em CDBs (Certificados de Depósito Bancário) ou RDBs (Recibos de Depósito Bancário), títulos emitidos por instituições financeiras.
Além disso, o valor em custódia da B3 nessa classe de investimentos aumentou 28% no período, totalizando R$ 2,9 trilhões em 2025, ante R$ 2,3 trilhões em 2024. Os dados são da pesquisa “Uma análise da evolução dos investidores na B3”, revelada com exclusividade à reportagem.
Embora não comercialize ativos de renda fixa -como ocorre no mercado de ações-, a B3 é responsável pela custódia, pelo registro e pela liquidação de grande parte das operações do sistema financeiro. Na prática, isso significa que um CDB ou um título do Tesouro comprado por um investidor em uma corretora ou banco fica registrado na B3, o que permite à bolsa acessar e compilar os dados desses ativos.
No início deste mês, aliás, a instituição lançou um aplicativo que reúne informações sobre extratos, proventos e evolução da carteira, mesmo quando os investimentos estão distribuídos entre diferentes corretoras.
Para Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes, Pessoas Físicas e Educação da B3, o aumento da renda fixa é consequência de mudanças promovidas principalmente por bancos digitais. “Quando as instituições passaram a oferecer produtos simples, como ‘cofrinhos’ e ‘caixinhas’, isso atraiu milhões de pessoas para CDBs e RDBs, e esses registros passaram a entrar nos nossos dados.”
Os números também refletem o bom momento da renda fixa, favorecida pela taxa Selic de 15% ao ano. A alta de juros beneficia especialmente títulos pós-fixados e papéis indexados à inflação.
“Apesar de os produtos prefixados oferecerem juros inferiores à Selic, eles continuam bastante atraentes em comparação à média histórica brasileira. Os títulos indexados à inflação também seguem interessantes”, afirma Rafael Filiage, analista de operações de renda fixa da Genial Investimentos.
O movimento também impulsiona o Tesouro Direto, que registrou crescimento de 20% no número de investidores. O total passou de 2,7 milhões no terceiro trimestre de 2024 para 3,2 milhões em 2025. O valor em custódia também cresceu, indo de R$ 136,3 bilhões para R$ 183,6 bilhões, alta de 35%.
“Os títulos pós-fixados são os que mais se beneficiam. Seu retorno sobe ou cai automaticamente conforme a Selic. Já os prefixados têm uma taxa definida no momento da compra e só ganham atratividade adicional se houver expectativa de queda dos juros no futuro”, explica Daniela Gamboa, CIO de Crédito Privado e Imobiliário da SulAmérica Investimentos.
Na última quarta-feira (10), o Banco Central manteve a Selic em 15% ao ano pela 4ª vez consecutiva, encerrando 2025 no maior patamar em quase duas décadas. Segundo economistas ouvidos pelo BC, a expectativa é que a taxa termine o próximo ano em 12,25%.
RENDA VARIÁVEL SEGUE ESTÁVEL MESMO COM SELIC EM 15%
No mesmo período, o número de investidores (CPFs) em produtos de renda variável cresceu 3%, passando de 5,3 milhões em 2024 para 5,4 milhões em 2025, mantendo-se praticamente estável. O valor em custódia avançou de R$ 576 bilhões para R$ 602 bilhões, alta de 5%.
No setor de ações à vista, o número de investidores aumentou 5%, de 4 milhões para 4,1 milhões, enquanto o valor investido subiu 11%, de R$ 347,7 bilhões para R$ 387,7 bilhões.
Para Felipe Paiva, da B3, o fato de não ter havido queda já é significativo. “Mesmo com juros a 15%, o saldo mensal [da renda variável] continua positivo. Ou seja, há diversificação no portfólio dos investidores brasileiros.”
A Bolsa atingiu a máxima de 164.551 pontos no início de dezembro, renovando recordes durante os pregões e fechamentos -movimento interrompido por temores em relação ao cenário eleitoral de 2026.
“Os investidores seguem colocando recursos em ações, BDRs e fundos imobiliários, e os recordes do Ibovespa mostram que as pessoas continuam buscando oportunidades na renda variável”, afirma Paiva.