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Economia

Petrobras homenageará militares com batismo de plataformas de petróleo

Em entrevista para comentar o prejuízo de R$ 2,7 bilhões no segundo semestre, Castello Branco disse que a ideia é passar a homenagear “heróis nacionais, que estão no panteão brasileiro”

Redação Jornal de Brasília

31/07/2020 16h28

Nicola Pamplona
Rio de Janeiro, RJ

A Petrobras decidiu alterar o padrão de batismo de plataformas de produção de petróleo alugadas e, já na primeira leva, homenageará dois almirantes que tiveram posições de comando na Marinha brasileira no século 19. As duas unidades serão instaladas no campo de Búzios, no pré-sal, a maior reserva de petróleo já descoberta no Brasil.

Roberto Castello Branco, escolhido pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) para comandar a estatal, já fez outras alterações em nomes de ativos batizados durante os governos petistas, rebatizando térmicas e também o antigo Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).

Capitão reformado do Exército e rodeado por militares em seu governo, o presidente da República confiou também cargos de comando no setor de energia a representantes das Forças Armadas, como os almirantes Bento Albuquerque (ministro de Minas e Energia) e Eduardo Leal Ferreira (presidente do conselho da Petrobras).

Em entrevista para comentar o prejuízo de R$ 2,7 bilhões no segundo semestre, Castello Branco disse que a ideia é passar a homenagear “heróis nacionais, que estão no panteão brasileiro”. Segundo a empresa, a lista não se limitará a militares.

Até agora, as plataformas alugadas recebiam nomes de cidades do litoral brasileiro, especialmente as que ficam em frente aos campos produtores. Já as plataformas próprias da companhia seguem um padrão numérico, precedido pela letra P, de Petrobras.

Entre os militares, o primeiro homenageado é Francisco Manoel Barroso da Silva (1804-1882), conhecido como almirante Barroso, que dá nome a uma plataforma que está em fase de construção. Ele participou da Guerra do Paraguai e comandou a força naval que venceu a batalha do Riachuelo, em 1865.

O segundo é Joaquim Marques Lisboa (1807-1897), que ficou conhecido como almirante Tamandaré e é patrono da Marinha do Brasil. É lembrado pela Marinha como “parte de uma importante geração de marinheiros, guerreiros e estadistas a quem devemos nossa maior herança: um grande país, rico em recursos naturais”.

Os FPSOs (sigla em inglês para unidade flutuante de produção, estocagem e transferência de petróleo) Almirante Barroso e Almirante Tamandaré fazem parte de um conjunto de 12 plataformas previstas para o projeto de Búzios, que chegará a produzir, sozinho, cerca de 2 milhões de barris de petróleo, o equivalente a dois terços da produção brasileira atual.

Hoje, com quatro unidades instaladas, o projeto produz uma média de 600 mil barris por dia. O FPSO Almirante Tamandaré é a maior plataforma já projetada para operar no país, com capacidade para extrair até 225 mil barris por dia, 45 mil a mais do que os maiores em operação atualmente.

Seguindo a nova política de batismo de plataformas, a empresa escolheu também a pioneira da enfermagem no Brasil Ana Néri e a revolucionária Anita Garibaldi para batizar duas outras plataformas alugadas, que serão instaladas no campo de Marlim, no litoral do Rio.

Alterações de nomes de ativos ao sabor de preferências políticas dos governantes não são novidade na história da estatal. Ao assumir o governo, em 2003, o PT aprovou o rebatismo de um conjunto de usinas térmicas em homenagem a personalidades mais alinhadas à esquerda, como o ex-governador Leonel Brizola e o ator Mario Lago.

As unidades, porém, foram rebatizadas em 2019, já no governo Bolsonaro, e passaram a receber nomes das regiões onde estão instaladas. Na época, a Petrobras alegou que a mudança respeitava exigência do INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) para permitir o registro dos nomes.

A gestão Bolsonaro decidiu rever também outra homenagem feita pela gestão petista, desta vez ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, com o batismo da até então maior descoberta de petróleo de país. Em julho, a estatal desistiu de recorrer em ação que determinava o rebatismo, a pedido de uma advogada gaúcha, e terá que mudar o nome do projeto.

Com oito plataformas instaladas, Lula é hoje o maior campo produtor do Brasil. Em maio, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), extraiu 1 milhão de barris por dia, o equivalente a um terço da produção nacional.

Em outra decisão recente, a Petrobras mudou para GasLub Itaboraí o nome do Comperj, projeto de refinaria e polo petroquímico desenhado para ser o maior investimento da estatal, mas que consumiu bilhões de reais e foi parcialmente abandonado pelas gestões posteriores.

Castello Branco justificou a mudança alegando necessidade de mudar a imagem do empreendimento, que costuma chamar de “cemitério da corrupção”.

As informações são da FolhaPress

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