O efeito do câmbio sobre os preços no atacado está chegando ao fim, afirmou o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) André Braz. Segundo ele, todos os níveis da cadeia produtiva apurados no Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) apresentaram desaceleração em novembro – e devem seguir nesse ritmo nas próximas semanas.
Mas o IGP não deve apresentar novos recuos em sua taxa, uma vez que a influência do câmbio se transferiu para os preços ao consumidor. Em novembro, as carnes bovinas aceleraram para 2,22%, de 1,66% na apuração anterior. O produto apresenta elevação em função do reajuste mais intenso no farelo de soja (utilizado como ração animal) nos últimos meses, além do maior incentivo à exportação (o que diminui a oferta interna). As carnes suínas seguiram o mesmo rumo e apresentaram alta de 4,79%, contra 1,45% em outubro.
Além do câmbio, as hortaliças e legumes também ajudaram a elevar o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) a 0,61%, contra 0,33% no mês anterior. O tomate foi o principal vilão, com alta de 27,56%.
Apesar disso, o nível atual das taxas no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) indica que haverá alívio em alguns itens do IPC. “A aceleração do IPC não deve se sustentar no curto prazo”, disse Braz, que aposta em estabilidade do indicador nas próximas apurações. Como exemplo, ele enumerou as reduções no ritmo de alta das próprias carnes bovinas no IPA, de 6,61% para 1,66%, e na inflação do trigo (4,08% para -6,15%) e da farinha de trigo (2,68% para -0,79%), que eram afetados pelo câmbio.
Descartando choques sazonais nos alimentos, Braz afirma que há apenas dois itens que podem provocar forte aceleração no IPC nas próximas apurações. O tomate, que subiu 48,77% no âmbito do IPA e pode provocar novos reajustes para o consumidor, e os combustíveis, caso o reajuste seja aprovado no fim do mês. “Tomate às vezes prega umas peças, vítima de outros efeitos que não são sazonais, como menor área plantada ou pragas. Com isso, está subindo muito forte ao produtor”, explicou Braz. “Se o tomate e os combustíveis subirem juntos, vai ser um choque para o IPC”, acrescentou.
O IPC ainda pode continuar refletindo reajustes em tarifas de energia elétrica e nos cigarros, como já se observou no IGP-10 de novembro. As tarifas de energia apresentaram alta de 1,12%, contra 0,23% no mês anterior, enquanto os cigarros saíram da estabilidade para alta de 0,72%. Mas esse é um impacto secundário, observou Braz.
Sem choque
As oscilações recentes do dólar frente o real não são suficientes para gerar novo choque nos preços, afirmou o economista Braz. Segundo ele, a não ser que haja um overshooting na cotação da moeda americana, a inflação não deve acelerar a níveis semelhantes aos observados em setembro – o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) avançou 1,5% naquele mês, o maior resultado do ano.
“São pequenas volatilidades. O que repercute mais são fortes choques, e mesmo assim não é de imediato. Demora um ou dois meses para se consolidar”, explicou Braz. Assim, mesmo que o dólar se valorizasse nessa reta final de 2013, o choque só seria sentido nos preços no próximo ano.
Com isso, Braz vê espaço para desacelerações em produtos fortemente influenciados pela questão cambial, como é o caso de materiais e equipamentos para a construção, que ainda subiram 0,65% no IGP-10 de novembro, ante 1,15% em outubro.
Os produtos vendidos no atacado também podem desacelerar um pouco mais, como o trigo (-6,15% em novembro, de 4,08%) e os bovinos (2,04%, de 3,50%). Os preços ao consumidor, contudo, ainda refletem os repasses do câmbio e podem ser atingidos ainda pela alta do tomate (devido a problemas de safra) e pelo reajuste dos combustíveis.