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Economia

Órgãos de defesa do consumidor acionam XP na Justiça por supostas falhas na venda de COEs

Entidades dizem que XP violou dever de informação na venda de produtos estruturados a investidores

Redação Jornal de Brasília

17/12/2025 15h41

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Foto: Divulgação

MATHEUS DOS SANTOS
FOLHAPRESS

As entidades de defesa do consumidor Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor (FNECDC) e o Movimento de Donas de Casa e Consumidores do Rio Grande do Sul entraram com uma ação civil pública contra a XP Investimentos e o Banco XP nesta terça-feira (16), por falhas sistêmicas na comercialização de COEs (Certificados de Operações Estruturadas) de crédito internacional.

Os COEs são produtos estruturados por bancos que podem combinar ativos de renda fixa e renda variável em diferentes proporções. Porém, diferentemente de fundos, a política de investimentos não é necessariamente clara ao investidor final. Especialistas afirmam que esses papéis exigem apetite para risco e algum conhecimento sobre o mercado financeiro.

A ação pede indenização por danos morais coletivos em valor não inferior a R$ 100 milhões. Segundo o processo, a reparação tem caráter preventivo e busca refletir a gravidade da conduta atribuída às instituições financeiras.

Procuradas, XP Investimentos e Banco XP afirmaram atuar em conformidade com as normas regulatórias aplicáveis à oferta de produtos de investimento, incluindo os COEs. “A XP reforça que seus processos de estruturação, documentação e distribuição de COEs seguem critérios rigorosos de governança, com informações disponibilizadas aos investidores no momento da oferta”, diz a empresa, em nota.

De acordo com a ação, as instituições teriam violado de forma sistemática o dever de informação e praticado publicidade enganosa em massa, atingindo principalmente investidores pessoas físicas de perfil conservador e moderado. As falhas teriam ocorrido em COEs vinculados a títulos de empresas como Ambipar e Braskem, além de ao menos outras seis companhias.

Para Adilson Bólico, sócio do escritório Mortari Bólico Advogados e um dos responsáveis pela ação, o caso não se limita a erros pontuais. “Quando há uma falha, mesmo que em um único episódio, como em uma emissão da Ambipar, isso já pode gerar responsabilização. O que caracteriza a falha sistêmica é a repetição desse mesmo template viciado em diversas outras emissões, envolvendo diferentes ativos, o que indica ausência de controles adequados por parte do emissor”, afirma.

Segundo o processo, a falha mais grave estaria no Documento de Informações Essenciais (DIE). Nele, títulos de dívida corporativa internacional (bonds) de empresas privadas teriam sido identificados de forma equivocada como “títulos da dívida pública externa” ou como lastreados pelo “Tesouro Nacional”, o que teria mascarado o risco real dos ativos.

“O risco de crédito de um título soberano é, em regra, muito inferior ao de uma empresa privada. Ao confundir o investidor sobre quem é o devedor real, o DIE compromete a credibilidade do documento e induz o investidor a acreditar que está exposto a risco soberano”, diz trecho da ação.

Além da indenização, os autores pedem a suspensão imediata da comercialização de novos COEs de crédito internacional que contenham os vícios apontados até que seja feita uma auditoria independente constando a correção do problema.

A ação também pede a declaração de nulidade dos documentos considerados irregulares. A medida pode abrir caminho para pedidos individuais de ressarcimento por vício de consentimento.

COES GERARAM PERDAS DE MILHÕES


Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que investidores relataram perdas de milhares de reais em COEs atrelados a Ambipar e Braskem. Em alguns casos, as perdas superaram R$ 200 mil.

Esses produtos são certificados de crédito privado lastreados em bonds -títulos de dívida emitidos no exterior, semelhantes a debêntures- das companhias. As reclamações surgiram após o vencimento antecipado dos COEs por parte dos estruturadores, como XP e BTG, em meio à forte desvalorização desses títulos, provocada por notícias negativas sobre a situação financeira das empresas.

Com ações na mínima histórica e envolvidas em disputas judiciais, os bonds sofreram quedas expressivas de preço -em alguns casos, próximas de 90%-, o que acionou cláusulas contratuais que determinam o encerramento antecipado do COE quando a desvalorização supera 50%.

Porém, a ativação deste gatilho não leva à venda imediata dos bonds, que foram liquidados de 20 a 30 dias depois do acionamento da cláusula, elevando as perdas dos COEs.

Um dos problemas apontados nesses papéis é a existência de travas que impedem a retirada de quantias antes da data de vencimento, dificultando a desistência no meio do caminho.

O QUE É COE?


Sigla para Certificado de Operações Estruturadas, o COE é uma aplicação de emissão bancária que geralmente combina títulos de renda fixa com derivativos

COMO FUNCIONA?

Por ser composto por uma cesta de produtos, os COEs permitem aos investidores montar cenários. Alguns embutem a promessa de ter rentabilidade com variação cambial, outros com alta da Bolsa americana, entre outras estratégias de renda variável que podem trazer ganhos altos

PARA QUEM É INDICADO?

Segundo especialistas em finanças, o COE é um produto complexo e indicado para investidores com apetite para risco e algum grau de conhecimento no mercado financeiro

O QUE É PRECISO SABER?

O COE tem travas que impedem a retirada do dinheiro até a data de vencimento, geralmente três ou cinco anos. O produto também não possui fundo garantidor de crédito, como ocorre com os CDBs (Certificado de Depósito Bancário)

O CAPITAL INVESTIDO ESTÁ PROTEGIDO?

Um dos principais apelos de venda usado por bancos e corretoras é que o valor principal alocado fica garantido até o vencimento. Ou seja, no
pior dos casos, o cliente receberá o mesmo valor que investiu -sem correção pela inflação

QUANTO INVESTIR EM COE?

Para quem quer colocar recursos em COE, especialistas indicam aportar entre 5% e 10% do valor disponível para investimentos

VALE A PENA PEGAR EMPRÉSTIMO PARA ALAVANCAR O COE?


Especialistas consultados pela reportagem não recomendam tomar crédito para fazer nenhum tipo de investimento, apenas para situações específicas como comprar um carro, uma casa ou fazer uma viagem dos sonhos

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