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Economia

Não queremos confundir reforma tributária com reforço do arcabouço fiscal, diz Haddad

Haddad concedeu entrevista no Palácio do Planalto para explicar as medidas do pacote de corte de gastos

Redação Jornal de Brasília

28/11/2024 9h21

ADRIANA FERNANDES, IDIANA TOMAZELLI E RENATO MACHADO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Após um mês de negociações e discussões, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) anunciou nesta quinta-feira (28) no Palácio do Planalto, as linhas gerais do tão aguardado pacote de contenção de gastos, aposta da equipe econômica para tentar equilibrar as contas públicas.

O ministro afirmou que o governo busca separar a questão da reforma tributária das medidas de corte de gastos apresentadas.

“Não queremos confundir o tema da reforma tributária com o tema de medidas que visam a reforçar o arcabouço fiscal”, afirmou o ministro

Haddad concedeu entrevista no Palácio do Planalto para explicar as medidas do pacote de corte de gastos, junto com os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Simone Tebet (Planejamento).

Antes mesmo da divulgação oficial, porém, o nervosismo tomou conta do mercado financeiro diante da perspectiva de que o cardápio inclui também a ampliação da isenção de IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) até R$ 5.000, a ser compensada pela taxação dos super-ricos, como vem sendo chamada a tributação de contribuintes com grandes rendas.

O anúncio aconteceu após reunião do ministro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a cúpula do Congresso Nacional. O objetivo do encontro era explicar as medidas para os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Haddad e o próprio Lula vinham enfatizando a importância de articular com o Legislativo antes de enviar o pacote de medidas para a votação por deputados e senadores.

O anúncio acontece após semanas de idas e vindas, com diversas reuniões da equipe econômica e do próprio presidente com os ministros das áreas afetadas pelo corte de gastos.

Haddad chegou a alimentar em alguns momentos a expectativa de que o anúncio era iminente. Na segunda-feira, dia 4 de novembro, declarou que sua equipe estava pronta para anunciar ainda naquela semana o pacote de medidas de corte de gastos.

Dias depois voltou a reforçar que o pacote estava praticamente pronto, restando apenas “dois detalhes” que precisavam ser alvo de uma “arbitragem simples” do chefe do Executivo.

Mais recentemente, a previsão divulgada nos bastidores por integrantes do governo é de que o presidente queria esperar a cúpula de chefes de Estado do G20, que foi realizada no Rio na segunda (18) e terça-feira (19), além da visita do presidente da China, Xi Jinping.

Integrantes do governo apontavam que o pacote de medidas de contenção de gastos, elaborado por Haddad, deveria ter um impacto de cerca de R$ 70 bilhões nas contas públicas nos primeiros dois anos.

A economia era estimada em R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões em 2025. Já em 2026, o alívio é calculado em R$ 40 bilhões.

Uma das principais é a limitação do ganho real do salário mínimo, com o objetivo de alinhar a política de valorização às regras do arcabouço fiscal -cujo limite de despesas tem expansão real de 0,6% a 2,5% ao ano.

Pela regra atual, o salário mínimo teria ganho real de 2,9% em 2025, conforme o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) de dois anos antes. Em 2026, a alta seria acima de 3%, considerando as projeções para o crescimento neste ano.

Hoje, recebe o benefício quem ganha até R$ 2.824, dado o valor atual do piso (R$ 1.412). A ideia é que, daqui para frente, o salário mínimo siga sua regra de correção com ganhos reais, enquanto a renda usada como critério para o abono será atualizada apenas pela inflação.

O governo também vai restringir o pagamento do abono salarial do PIS/Pasep a trabalhadores que ganham até 1,5 salário mínimo. Hoje, têm direito ao benefício quem ganha até 2 pisos.

Hoje, recebe o benefício quem ganha até R$ 2.824, dado o valor atual do piso (R$ 1.412). A ideia é que, daqui para frente, o salário mínimo siga sua regra de correção com ganhos reais, enquanto a renda usada como critério para o abono será atualizada apenas pela inflação.

Na tarde desta quarta-feira (27), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, confirmou que as regras referentes ao seguro-desemprego não serão alteradas. A mudança chegou a ser discutida pela equipe de Haddad.

A Fazenda e o Planalto passaram as últimas semanas discutindo o pacote com ministros do governo, em reuniões muitas vezes tensas.

O anúncio pode, portanto, encerrar um imbróglio de meses e uma queda de braço entre a ala de aliados de Lula mais fiscalista e outra mais desenvolvimentista. Essa segunda estava contra medidas da equipe econômica de redução de gastos.

Os assuntos são ainda mais sensíveis entre petistas. Marinho ameaçou pedir demissão se o governo mexesse em alguns dos temas de sua pasta sem a sua participação, em particular no seguro-desemprego e no abono salarial.

O próprio presidente resistia em fazer cortes nas áreas sociais e manteve em seu terceiro mandato o discurso de que gasto é diferente de investimento. Na educação, por exemplo, Lula costuma dizer que investe para evitar ter gasto com presídios no futuro.

A promessa da equipe econômica era de que o governo faria mudanças para conter o crescimento das despesas logo após as eleições municipais. Haddad chegou a cancelar viagem que faria à Europa, por determinação de Lula, para se dedicar à definição das medidas do pacote de corte de gastos.

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