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Economia

Mercado vê manutenção da Selic em 13,75%, mesmo com recados mais duros do Banco Central

Das 50 instituições financeiras ouvidas pelo Estadão/Broadcast, 41 acreditam que a taxa deve ficar inalterada na reunião desta semana

Redação Jornal de Brasília

20/09/2022 5h26

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

No dia 5 deste mês, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em um evento que o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) iria avaliar um novo aperto na taxa de juros na reunião que acontece nesta semana. No dia seguinte, o diretor de Política Monetária do banco, Bruno Serra, fez eco a essa mensagem mais dura, quando disse ser “inconsistente” o mercado projetar uma inflação acima do centro da meta em 2024 enquanto discute a queda dos juros em 2023. Ou seja, o recado era que a preocupação com a inflação ainda é grande e que o banco não vai baixar a guarda.

Mesmo assim, o mercado financeiro acredita que o ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros, chegou ao fim na reunião de agosto. Para 41 das 50 instituições financeira ouvidas pelo Estadão/Broadcast, a taxa deve ser mantida em 13,75% na reunião que começa nesta terça-feira, 20, e se encerra na quarta, 21, em um movimento que encerraria o mais longo ciclo de aperto monetário da história. No entanto, economistas reconhecem que houve um aumento do risco de um ajuste residual de 0,25 ponto.

Viés de alta

Para Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, o cenário base é de manutenção dos juros em 13,75% nesta reunião, em uma decisão que deve ser acompanhada de um discurso duro por parte do BC – um quadro classificado por ele como uma “parada hawkish” (termo do mercado financeiro que significa a inclinação por taxas de juros mais altas para conter a inflação, em contraposição a uma postura “dovish”, de juros mais baixos). Mas o economista reconhece que, diante do aumento das projeções para 2024, o Copom pode optar por um aperto residual como forma de sinalizar ao mercado o seu comprometimento com a meta.

“O único motivo pelo qual eu vejo o risco de um aumento para 14% é para reforçar não só com palavras, mas com ações, esse discurso ‘hawkish’. Em termos de convergência da inflação, eu não vejo esse 0,25 ponto de diferença ter um impacto relevante, mas poderia ser uma forma de fazer o mercado reverter essa expectativa de 2024?, diz o economista, que reconhece viés de alta na projeção da Selic no fim desse ciclo de aumentos iniciado no ano passado.

A incerteza atinge também as projeções de analistas que têm no cenário base um aumento residual de 0,25 ponto. O economista da Tendências Consultoria Integrada Silvio Campos Neto espera alta da taxa Selic para 14% em setembro, mas reconhece um “cenário dividido” nesta reunião. “A possibilidade de encerrar o ciclo em 13,75% está perfeitamente em jogo, até porque os sinais desde o último Copom não foram claros”, diz.

Apesar das sinalizações públicas com contornos mais “hawkish”, o BC moderou em encontros reservados o grau de preocupação com as expectativas de inflação do mercado. Em uma reunião, o diretor de Política Econômica do banco, Diogo Guillen, relativizou a preocupação com as projeções de inflação e chegou a sugerir que a mediana do Focus para 2024 estaria compatível com a meta, conforme apurou o Estadão/Broadcast.

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Para Campos Neto, da Tendências, a combinação entre inflação global persistente, surpresas positivas domésticas com a atividade e o mercado de trabalho e incertezas fiscais ainda corroboram uma postura mais conservadora do Copom em setembro. Independente do que for decidido na reunião, o economista afirma que o mais provável é uma comunicação dura, que sinalize juros altos por um período longo de tempo.

Na mesma linha, o economista-chefe da Trafalgar Investimentos, Guilherme Loureiro, afirma que o mais provável é que setembro marque o movimento final de juros do Copom. O economista estima manutenção da taxa Selic em 13,75%, embora reconheça o risco de um aumento residual de 0,25 ponto. “Do ponto de vista prático, muda pouco, porque a gente está na boca de encerrar o ciclo”, resume.

Loureiro pondera que a redução das projeções para a inflação de 2022 e 2023 no Focus – de 7,15% para 6% e de 5,33% para 5,01% desde o último Copom, respectivamente – pode comprar um grau de conforto para o BC. Na mesma linha, a perspectiva de melhora do fiscal no curto prazo, com superávit primário este ano, sugere um cenário mais tranquilo.

Estadão Conteúdo

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