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Economia

Inadimplência deve seguir em alta, mas bancos não veem crise de crédito

Dados da Febraban apontam que a carteira de crédito do sistema bancário deve encolher 0,8% em janeiro, interrompendo 11 meses de crescimento

FolhaPress

25/02/2023 11h06

Imagem: Reprodução

Eduardo Cucolo

Os dados de crédito deste início de ano mostram queda nas concessões e piora na inadimplência, mas com dados ainda distantes dos períodos mais críticos das últimas décadas e que não mostram sinais de uma crise nesse mercado.

Dados preliminares da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), por exemplo, apontam que a carteira de crédito do sistema bancário deve encolher 0,8% em janeiro, interrompendo uma sequência de 11 meses de crescimento, movimento visto como sazonal pela instituição. Em janeiro do ano passado, houve estabilidade.

Para as empresas, é esperada uma retração de 3,3%, pior resultado na série iniciada em 2018 para o mês. Para pessoas físicas, o crescimento de 0,9% é praticamente o mesmo resultado de 2022.

A taxa de crescimento do estoque em 12 meses, que estava em 17% em agosto de 2022, deve ficar em 13% até janeiro deste ano. Nesta sexta (24), a instituição divulgou pesquisa com os bancos que mostra expectativa de crescimento de 8,2% ao final deste ano.

A expectativa do setor é que a inadimplência da carteira de crédito livre, que exclui empréstimos imobiliários, crédito rural e do BNDES (banco estatal de desenvolvimento), passe dos atuais 4,2% para 4,7%.

Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, afirma que este é um momento de aumento da inadimplência e da insolvência, mas é pouco provável que isso se transforme em uma crise de crédito.

Segundo ele, as principais estatísticas desse mercado crédito mostram uma distância relevante de outros períodos mais críticos, como a crise financeira internacional de 2008.

As provisões contra perdas com empréstimos das instituições financeiras, por exemplo, terminaram o ano representando 6% da carteira, abaixo dos 6,9% verificados nos dois picos mais recentes, em maio de 2017 e junho de 2020. Na crise financeira de 2008, o indicador chegou a 7,2%, segundo dados do Banco Central.

A inadimplência das pessoas físicas terminou o ano em 3,85%, abaixo do pico de 5,5% da série histórica iniciada em 2011, que foi alcançado em maio de 2012. O indicador das empresas está em 1,7%, menos da metade do recorde de abril de 2017 de 4%.

Rabi afirma que a taxa básica de juros, também apontada como um complicador deste cenário, já esteve mais alta em outros períodos nos últimos 20 anos, mesmo em termos reais (descontada a inflação).

Já os dados da Serasa mostram que o número de pessoas inadimplentes começou a subir em setembro de 2021 e não parou mais. Passou de 62 milhões para 70 milhões de consumidores nesse período. No caso das empresas, foi de 5,8 milhões para 6,4 milhões.

“A inadimplência cresceu muito, principalmente por fatores conjunturais, como a inflação, que destruiu o poder de compra de milhões de brasileiros, e estamos convivendo com juros altos, mas a gente sempre conviveu com uma inadimplência razoavelmente elevada”, afirma o economista.

Para ele, somente um quadro de recessão com destruição de empregos poderia levar a uma deterioração profunda do mercado de crédito e a uma explosão dos atrasos.

“São indicadores que ainda não refletem uma eventual crise de crédito. Esses pedidos de recuperação judicial de empresas do varejo são mais um problema do setor do que um problema sistêmico. Isso se juntou a um ambiente econômico não muito favorável, mas a questão macroeconômica é muito mais um coadjuvante do que o ator principal.”

Um executivo do setor bancário afirma que há uma tendência de desaceleração do crédito, relacionada com as restrições impostas pela política monetária e base alta de comparação, por exemplo, mas que está longe de ser um cenário de catástrofe.

Para ele, não há problema de falta de recursos para sustentar o crédito, o que torna desnecessário reativar medidas de injeção de recursos no sistema bancário, como foi feito em 2008 e em 2020.

Por outro lado, há um problema de aumento do risco de crédito que pode ser aliviado por meio de ações do governo. Ele também vê como positivo medidas que ajudem na renegociação de dívidas de pessoas de baixa renda.

Apenas um cenário de piora relevante no risco fiscal, que adie por muito tempo o corte dos juros e atrapalhe o processo de queda da inflação, poderia levar o país para um cenário de maior turbulência com piora adicional no mercado de crédito.

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