A atual reduzida oferta de gás natural no Brasil obrigou alguns dos grandes consumidores do combustível a buscar alternativas temporariamente, pills informou hoje a Comgás, a maior distribuidora de gás canalizado do país.
Segundo a distribuidora, sete grandes indústrias do estado de São Paulo começaram desde a semana passada a adaptar seus sistemas para substituir o gás natural por combustível residual.
A decisão pode atenuar a atual escassez de gás natural que obrigou a Petrobras a reduzir na quarta-feira em 17% a provisão de gás natural nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, os dois maiores mercados do país.
Foi a primeira evidência de que o país começa a sofrer uma crise por causa da reduzida oferta de gás natural e, segundo especialistas, explica a decisão anunciada recentemente pela Petrobras de negociar novos investimentos na Bolívia, país de onde procede mais da metade do gás natural consumido pelo Brasil.
A Petrobras informou que precisa limitar temporariamente a entrega de gás natural às distribuidoras que atuam no Rio de Janeiro e São Paulo (CEG, CEG-Rio e Comgás) para atender outros contratos.
Esclareceu que sua prioridade é aumentar a provisão de gás às termoelétricas para cumprir os compromissos que assumiu em maio com a Agência Nacional de Energia Elétrica.
As usinas geradoras alimentadas com gás natural tiveram que aumentar sua produção, porque a seca em algumas regiões do país diminuiu o nível das represas das hidroelétricas.
Após ter normalizado a provisão de gás no estado do Rio de Janeiro na quarta-feira para cumprir uma decisão judicial, a Petrobras informou que estuda apresentar um recurso que lhe permita voltar a limitar o fornecimento e que pode aumentar os preços do gás natural para criar o desincentivo ao consumo.
Para reduzir o impacto da diminuição da oferta em São Paulo, a Petrobras aceitou pagar um subsídio aos grandes consumidores que substituam o gás natural pelo combustível residual, que é mais caro e mais prejudicial ao meio ambiente.
A Comgás, responsável pela distribuição de gás em São Paulo, calcula que essa substituição reduzirá em cerca de um milhão de metros cúbicos a demanda diária de gás natural no estado.
A atual demanda de gás natural de São Paulo é de cerca de 14 milhões de metros cúbicos diários, mas a Petrobras reduziu a oferta para 12 milhões de metros cúbicos.
O consumo de gás natural no Brasil é de perto de 57 milhões de metros cúbicos diários.
O forte aumento da demanda nos últimos meses obrigou a Petrobras a solicitar à Bolívia em agosto que aumentasse em 30 milhões de metros cúbicos, o máximo contratado, o volume do produto enviado diariamente pelo gasoduto entre os dois países.
Para aumentar a oferta e reduzir a dependência da Bolívia, a companhia petrolífera brasileira pretende construir nos estados do Rio de Janeiro e Ceará terminais para receber gás natural liqüidificado (GNL) importado, nas quais espera receber cerca de 20 milhões de metros cúbicos diários do combustível.
Após os atritos com o Governo da Bolívia, iniciados em maio de 2006 com a nacionalização da indústria dos hidrocarbonetos nesse país, a Petrobras suspendeu seus investimentos no território do vizinho e acelerou os esforços para aumentar a produção interna e buscar novas fontes externas.
“A Bolívia foi uma verdadeira jóia ao atender nosso contrato”, disse ontem a diretora de Gás da Petrobras, Graça Foster, ao confirmar que a empresa reiniciou negociações para fazer novos investimentos no país.