NATHALIA GARCIA CATIA SEABRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixará para 2026 a indicação dos dois novos nomes para a cúpula do Banco Central. Quem for escolhido assumirá os postos ocupados hoje pelos diretores Diogo Guillen, de Política Econômica, e Renato Gomes, de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, cujos mandatos terminam em 31 de dezembro.
O clima conturbado entre o Executivo e o Senado desde que Lula indicou Jorge Messias ao STF (Supremo Tribunal Federal) e o prazo apertado até o fim do ano pesaram para o adiamento da definição dos novos diretores do BC. Havia receio, por exemplo, de contaminação política sobre os futuros nomes.
A lei da autonomia do Banco Central, aprovada em 2021, estabelece que a indicação dos diretores cabe ao presidente da República. Posteriormente, os escolhidos passam por sabatina e votação na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado. Os nomes, então, são levados ao plenário da Casa para aprovação.
Como o ano legislativo termina no próximo dia 22, mesmo que o governo decidisse formalizar os nomes ainda este ano ao Congresso Nacional, não haveria tempo hábil para o cumprimento de todos os ritos no Senado, incluindo o tradicional “beija-mão”, em que os candidatos se reúnem com senadores para angariar votos para aprovação.
A legislação estipula também que o prazo de gestão dos diretores se estende até a posse dos sucessores nos respectivos cargos. No entanto, os próprios diretores podem pedir exoneração dos postos. Na prática, fica a critério deles ampliar ou não o tempo de permanência na cúpula do BC após o término dos mandatos.
Segundo interlocutores ouvidos pela Folha, Guillen e Gomes optaram por não dar continuidade às atividades depois do próximo dia 31. Eles são os dois últimos diretores do BC nomeados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Enquanto os postos das diretorias de Política Econômica e de Organização do Sistema Financeiro ficarem vagos, as funções dessas áreas serão absorvidas temporariamente por outros membros da atual diretoria.
Procurado, o BC disse que não iria se manifestar sobre o assunto.
Como o ano legislativo de 2026 só terá início em 2 de fevereiro, a saída dos diretores sem previsão de posse de seus substitutos afetará o quórum da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), agendada para os dias 27 e 28 de janeiro. Com os desfalques, o encontro terá participação de sete dos nove membros do colegiado do BC.
A situação não é inédita. Em maio de 2023, por exemplo, o Copom discutiu o patamar da taxa básica de juros (Selic) também com dois participantes a menos.
Bruno Serra tinha deixado a diretoria de Política Monetária em março, quase um mês após seu mandato ter expirado. Seu sucessor no posto, Gabriel Galípolo, foi indicado pelo governo apenas dias depois daquela reunião do colegiado. Além disso, a diretora de Administração, Carolina de Assis Barros, teve de se ausentar por motivos pessoais.
A saída de Guillen e Gomes, no entanto, não deve afetar a estratégia do BC para a trajetória dos juros, visto que todas as decisões tomadas neste ano foram por unanimidade.
Em 2025 houve a troca de três integrantes, e o Copom passou a ser composto majoritariamente por representantes indicados por Lula, com sete dos nove membros.
O último racha no comitê ocorreu em maio de 2024, gerando ruídos que arranharam a credibilidade da autoridade monetária. Desde então, houve um esforço para a construção de consenso dentro do colegiado do BC.
Naquela ocasião, o Copom decidiu pelo placar de 5 votos a 4 pela queda de 0,25 ponto percentual, formando maioria com os diretores indicados ou reconduzidos por Bolsonaro, incluindo Guillen e Gomes.
Os escolhidos por Lula, por sua vez, votaram por uma redução de 0,50 ponto. Entre eles, Galípolo, que na época ainda era cotado para ser presidente.
A sabatina de Galípolo hoje presidente do Banco Central para o cargo de diretor de política monetária só ocorreu em julho. Nesse intervalo, houve um encontro do Copom em junho com quórum reduzido, nesse caso com oito dos nove membros.
A ausência de um ou mais participantes não afeta a dinâmica da reunião do Copom, que define o patamar da taxa de juros em votação por maioria simples, mas a mudança ocorre em um momento chave para o rumo da política monetária do país.
Nesta quarta (10), o comitê manteve a Selic fixada em 15% ao ano pela quarta reunião seguida, fechando 2025 com os juros no nível mais alto em quase duas décadas.
No comunicado, o Copom não sinalizou os próximos passos e manteve a indefinição sobre o início do ciclo de queda de juros à frente. A expectativa de uma parcela do mercado financeiro, porém, é que os cortes tenham início na reunião de janeiro.
Lula ainda não bateu o martelo sobre os nomes que serão escolhidos pelo governo para a diretoria do Banco Central. Uma das possibilidades em estudo, segundo duas pessoas a par do assunto, é redirecionar para a vaga de Guillen o diretor Paulo Picchetti, que hoje comanda a área de assuntos internacionais.
Ele já foi coordenador de índice de preços na Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e, antes de ir para o BC, coordenava o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor – Semanal) do FGV Ibre, sendo reconhecido por pares como autoridade no tema. Além disso, tinha relação com o ministro Fernando Haddad (Fazenda).
A tendência é que Picchetti absorva as atividades da diretoria de Política Econômica de forma interina no início do ano, de acordo com uma fonte ouvida pela Folha.
Outros nomes circulam entre os cotados na “bolsa de apostas” do mercado, como Tiago Cavalcanti, professor e membro do Trinity College da Universidade de Cambridge, e Thiago Ferreira, pesquisador do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA).
Para substituir Gomes na diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, discute-se a possibilidade de indicar um funcionário de carreira do BC.