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Economia

Dólar sobe e fecha perto de R$ 5,36 com pressão de remessas

Operadores atribuíram o tropeço do real a um aumento da procura pela moeda americana no mercado local para envio de recursos ao exterior

Redação Jornal de Brasília

01/12/2025 18h55

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

São Paulo, 01 – Depois de oscilações contidas pela manhã, o dólar ganhou força ao longo da tarde e encerrou esta segunda-feira, 1º, em alta de 0,46%, a R$ 5,3593, após máxima a R$ 5,3613. Operadores atribuíram o tropeço do real a um aumento da procura pela moeda americana no mercado local para envio de recursos ao exterior, como lucros e dividendos.

O diretor da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, avalia que, passada a rolagem de contratos futuros na virada do mês, já se verifica uma demanda maior por “dólar spot” para as remessas de fim de ano. “Prova disso é a abertura do cupom cambial curto. Essa pressão deve durar o mês todo, mas não vejo uma alta muito grande do dólar”, afirma o tesoureiro, ressaltando que o Banco Central tende a intervir.

A perspectiva de analistas ouvidos pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, é que o BC possa, além de rolar linhas existentes, promover oferta de novas linhas com compromisso de recompra. Estaria no radar também a realização de oferta conjunta de dólar à vista com swap cambial reverso, operação apelidada de “casadão”.

Pela manhã, em evento da XP, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, voltou a defender o regime de câmbio flutuante e repetiu que a autarquia intervém no mercado de câmbio apenas em casos de “disfuncionalidade”.

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes – operava em ligeira queda no fim da tarde, ao redor dos 99,400 pontos. Entre indicadores, o índice de atividade industrial (PMI, na sigla em inglês) dos EUA, elaborado pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), caiu para 48,2 em novembro, ante 48,7 em outubro. A expectativa era de alta a 49,2.

Destaque para a valorização de mais de 0,40% do iene, após o presidente do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, sinalizar a possibilidade de aumento de juros em sua próxima reunião de política monetária (dias 18 e 19). Um eventual fortalecimento adicional do iene poderia levar a desmonte parcial de operações de carry trade, tirando parte do fôlego das divisas latino-americanas. Moedas como o real e o peso colombiano tropeçaram apesar da valorização da alta de mais de 1% do petróleo e do minério de ferro.

O gestor de fundos multimercados da AZ Quest, Eduardo Aun, vê um efeito “muito marginal” da provável alta de juros no Japão sobre a dinâmica das divisas latino-americanas, que sofrem um ajuste muito pequeno após um desempenho positivo na semana passada.

“A sinalização mais recente do Federal Reserve favorece moedas emergentes, que podem ter uma boa performance até o fim do ano, embora sem grandes movimentos”, afirma Aun.

O gestor diz “não ter dúvidas” de que haverá um corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros americana na semana que vem, após ajuste recente na comunicação do Fed. Ele lembra que o BC americano saiu da reunião de política monetária de outubro dividido sobre seus próximos passos, algo ressaltado pelo chairman Jerome Powell. Nas últimas semanas, contudo, diversos dirigentes do Fed deram sinais claros de redução nos juros.

“Não saíram dados de grande relevância da economia americana. Essa mudança de discurso ocorreu porque as condições financeiras começaram a piorar, com realização nas bolsas americanas e no mercado de crédito. O Fed está mostrando que se for necessário vai reagir à piora das condições financeiras, o que é uma sinalização importante”, afirma Aun, ressaltando que essa nova postura acalmou os mercados e trouxe mais conforto para a tomada de risco.

Bolsa

Após ter encerrado novembro da exata forma como havia fechado outubro, em máximas históricas em ambos os meses, o Ibovespa inicia dezembro acumulando ganho perto de 32% no ano, por enquanto a caminho de seu melhor desempenho desde 2016, quando escalou quase 39% (38,94%). Nesta segunda-feira, 1º de dezembro, o índice da B3 oscilou dos 158.029,48 até os 159.223,92 pontos, saindo de abertura aos 159.073,46 pontos. Ao fim, marcava 158 611,01 pontos, em baixa de 0,29%, com giro a R$ 22,0 bilhões. No ano, até aqui, o índice avança 31,86%.

Na B3, o desempenho negativo do setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, impôs-se aos carros-chefes das commodities, Vale (ON +0,77%) e Petrobras (ON +0,63%, PN +0,19%), favorecidos hoje pelo avanço do minério, na China, e do petróleo, em alta acima de 1%, em Londres e Nova York. Na ponta ganhadora do índice no fechamento, Eneva (+3,42%), WEG (+2,10%) e BB Seguridade (+1,47%). No lado oposto, MBRF (-5,02%), C&A (-4,28%) e CVC (-3,72%). Entre os bancos, as perdas ficaram entre 0,61% (BTG Unit) e 1,53% (Bradesco PN, na mínima do dia no fechamento)

“O calendário econômico dos EUA continua em segundo plano para os mercados, já que a maioria dos indicadores ainda está bastante defasada após o longo shutdown do governo federal entre outubro e novembro, por 43 dias, que represou a divulgação dos números. No entanto, o relatório de inflação PCE, ainda de setembro, na quinta-feira, se destaca, na agenda da semana, como potencial catalisador de mercado”, diz Matthew Ryan, head de estratégia de mercado da Ebury.

Na agenda doméstica da semana, destaque para divulgação do PIB, “que ainda deve apresentar um número sólido embora com sinais de desaceleração em alguns setores – movimento semelhante ao observado nas últimas leituras do IBC-Br, especialmente no segmento do agronegócio”, aponta em nota a One Investimentos.

Nicolas Merola, analista da EQI Research, observa que nesta abertura de semana as diversas divulgações de índices de atividade PMI trouxeram em geral leituras mais baixas, refletindo os efeitos acumulados nas respectivas economias por políticas monetárias que, apenas recentemente, começaram a ser afrouxadas, em especial nos países mais avançados.

“Dia mais tranquilo, em que o Ibovespa refletiu os sinais opostos entre o setor de commodities e o financeiro, em um ajuste saudável que, basicamente, alternou o que se viu na semana passada entre os dois segmentos”, acrescenta Merola.

Juros

Os juros futuros negociados na B3 operaram em alta no primeiro pregão de dezembro, mas em ritmo comedido se comparados à depreciação do real ante o dólar, que renovou máximas ao longo da tarde. Segundo agentes, a piora no mercado doméstico de renda fixa foi determinada principalmente pelo ambiente externo, mas a aversão ao risco global teve maior efeito sobre o câmbio do que sobre a curva de juros.

Do lado doméstico, novas declarações conservadoras do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, também exerceram alguma pressão sobre as taxas. Mas a avaliação é de que o mau humor vindo de fora, desencadeado pela sinalização do Banco do Japão (BoJ) de aumento dos juros este mês, foi o condutor que preponderou na sessão.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 avançou de 13,572% no ajuste de sexta-feira para 13,62%. O DI para janeiro de 2029 subiu de 12,722% no ajuste a 12,765%. O DI para janeiro de 2031 ficou em 12,99%, vindo de 12,979% no ajuste anterior.

Nesta madrugada pelo horário de Brasília, o presidente do BoJ, Kazuo Ueda, afirmou que a instituição discutirá “cuidadosamente” uma possível elevação das taxas de juros em sua próxima reunião de política monetária, em 18 e 19 de dezembro. Como o país asiático tem um dos mais baixos níveis de juros mundiais, a indicação de aperto contagiou as curvas globais de títulos, o que também respingou no Brasil.

Por volta das 18h00, a taxa da T-Note de 2 anos aumentava a 3,532%, e a da T-Note de 10 anos, a 4,090%. O retorno da T-Bond de 30 anos alcançava 4,740%. Já o dólar à vista terminou a segunda com valorização de 0,46% sobre a divisa brasileira – que teve um dos piores desempenhos entre as moedas de pares emergentes no dia -, cotado a R$ 5,53593.

Economista-chefe e fundadora da BuysideBrazil, Andrea Damico observa que, no início da tarde, a alta da moeda americana ante o real ganhou fôlego, o que acabou levando a reboque os DIs. “Tivemos performance relativa pior que os pares, pensando na moeda”, afirma Andrea, ponderando que, sob esta ótica e também considerando a ascensão dos Treasuries, os DIs não tiveram comportamento tão negativo. “O externo acabou pegando mais no câmbio”, apontou.

Como possível pano de fundo doméstico para a deterioração dos ativos domésticos, a economista cita o atrito entre Executivo e Legislativo, com a indicação realizada pelo presidente Lula do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF), e pautas a que o governo precisa dar vazão no Congresso até o final do ano.

Ainda por aqui, ao participar de evento da XP Investimentos no fim da manhã, Galípolo afirmou que diversos sinais mistos na economia têm reforçado a importância de a autoridade monetária manter uma postura “humilde e conservadora”. “Na dúvida o papel do Banco Central é ser um pouco mais conservador, e eu acho que é isso que a gente vem fazendo”, comentou.

O comandante do BC reforçou que o mercado de trabalho segue aquecido e que as expectativas inflacionárias melhoraram, mas continuam acima do nível almejado pela autoridade monetária. Sobre os próximos passos na definição do juro, o banqueiro central disse que o mercado busca uma palavra que dê um direcionamento, mas que o Comitê de Política Monetária (Copom) não vê necessidade de tal sinalização.

No campo dos indicadores, o boletim Focus teve efeito neutro sobre a curva a termo nesta segunda-feira, 01. O consenso de mercado para a alta do IPCA em 2027 e 2028 segue estacionado há quatro semanas, em 3,80% e 3,50%, respectivamente. A mediana de projeções para o indicador em 2025 caiu de 4,45% para 4,43%, e 0,01 ponto para 2026, a 4,17%. Para a Selic, o único horizonte com mudança nas estimativas foi o fim de 2028, que diminuiu de 9,75% para 9,50%, segunda redução consecutiva.

Estadão Conteúdo

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