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Economia

Dólar sobe a R$ 4,96 com aposta em diferencial de juros menor e fim de ano; Ibovespa cai 0,40%

Profissionais atribuem a alta à visão de um diferencial de juros menor, com possibilidade de cortes maiores da Selic aqui

Redação Jornal de Brasília

12/12/2023 19h09

Foto: Divulgação

O dólar à vista subiu nesta terça-feira, 12, 0,60% em relação ao real, a R$ 4,9664, o maior fechamento desde 1º de novembro (R$ 4,9730). Profissionais atribuem a alta à visão de um diferencial de juros menor, com possibilidade de cortes maiores da Selic aqui e expectativa de juros estáveis por mais tempo nos Estados Unidos. Mas o movimento também refletiu a pressão sazonal de fim de ano sobre o real, com remessas de dividendos para o exterior.

Aqui, a divisa abriu em queda e chegou a tocar a mínima de R$ 4,9233 (-0,28%) pela manhã, acompanhando a tendência de enfraquecimento global da moeda. Mas diminuiu o ritmo de queda após as 10 horas, quando foram divulgados os dados da inflação ao consumidor (CPI) americana. A partir do fim da manhã, firmou-se em alta, chegando até a máxima de R$ 4,9733 (+0,74%) em meados da tarde.

A inflação americana subiu 0,1% em novembro, na comparação com outubro, enquanto o consenso dos analistas era de variação zero. Esses dados sugeriram que o Federal Reserve (Fed) poderá ter de aguardar mais para começar a reduzir os juros. Pouco mais cedo, às 9 horas, o IBGE informou que o índice oficial de inflação do País, o IPCA, subiu 0,28% em novembro, pouco menos do que indicava o consenso do mercado (0,29%).

“Me parece um trade de carrego menor, porque o IPCA está sugerindo que o Banco Central pode cortar 0,75 ponto porcentual, enquanto o CPI mostrou que o cenário de ‘higher for longer’ juros altos por mais tempo dos Estados Unidos está ficando mais provável”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi. “O dólar aqui ficou descolado do exterior, e os juros futuros caíram bem por aqui.”

Amanhã, o Fed e o BC brasileiro anunciam decisões de política monetária. Nos Estados Unidos, a expectativa é de manutenção dos juros na faixa de 5,25% a 5,50%, mas o mercado prestará atenção aos sinais do presidente do Fed, Jerome Powell, sobre o futuro. Aqui, o mercado espera uma redução da taxa Selic, de 12,25% para 11,75%, e vai buscar no comunicado do Copom sinais sobre os próximos passos.

O chefe da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, afirma que a saída de recursos sazonal de fim de ano também pode ser responsável pela valorização do dólar em relação ao real hoje. “Tem um fluxo negativo, de remessa de dividendos, que pega no final do ano, além de um pouco de queda de commodities”, diz. Hoje, o petróleo caiu entre 3,80% (WTI) e 3,67% (Brent). O futuro da soja para janeiro cedeu 0,92% na Bolsa de Chicago.

O noticiário doméstico teve pouco impacto nos negócios hoje, segundo profissionais do mercado. Investidores ainda monitoram o andamento das medidas propostas pelo governo para turbinar a arrecadação de 2024. A comissão mista que analisa a medida provisória das subvenções do ICMS adiou para amanhã a reunião em que será apresentado o relatório final da proposta, devido à falta de acordo entre o Ministério da Fazenda e os parlamentares

Ibovespa

O Ibovespa manteve o sinal negativo nesta terça-feira, como ontem em ajuste moderado ao longo do dia. Mais uma vez, não conseguiu se orientar pelo que se viu no mercado de ações em Nova York, assim como pelo desempenho favorável da curva de juros doméstica, em dia de leitura comportada sobre o IPCA, a métrica oficial de inflação do País. Assim, enquanto os ganhos em Wall Street chegaram a 0,70% (Nasdaq) no fechamento desta terça-feira – véspera de decisões sobre juros nos EUA como no Brasil -, o Ibovespa mostrou nova perda, de 0,40%, a 126.403,03 pontos, após leve baixa de 0,14% na sessão anterior.

Como ontem, o giro permaneceu fraco, a R$ 18,8 bilhões nesta terça-feira. Na semana, o Ibovespa recua 0,54% e, no mês, cede 0,73%, com ganho a 15,19% no ano. Hoje, o índice oscilou entre 126.013,15 e 127.359,19 pontos, saindo de abertura aos 126 922,95 pontos, mostrando variação mais ampla do que a da segunda-feira.

“O mercado ficou bem lateral, em compasso de espera, com os dados de inflação bem em linha, sem fazer muito preço na sessão para Bolsa”, diz Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos, antecipando estreitamento maior da liquidez a partir da próxima semana, passado o vencimento de opções sobre o Ibovespa, amanhã – coincidindo com a “superquarta” de Fed e Copom -, e de opções sobre ações, na sexta-feira, 15.

“Os rendimentos dos títulos americanos têm se acomodado em níveis mais baixos, com menos exigência de prêmio, e há expectativa para a continuidade desses patamares. Mas o mercado estará atento, amanhã, às palavras do presidente do Fed, Jerome Powell, quanto a sinais sobre a condução da política monetária”, diz Lucas Carvalho, head da área de research na Toro Investimentos, em referência à recente antecipação, na expectativa dos investidores, do momento em que o BC dos EUA começará a cortar a taxa – que tem passado do segundo para o primeiro semestre.

Em Nova York, observa Carvalho, os três principais índices de ações (Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq) estão nas máximas de 52 semanas, em movimento comprador importante. “No intraday, o S&P 500 está no maior nível desde março de 2022. Há um apetite a risco, muito forte, que tem prevalecido desde o começo de novembro”, acrescenta, com a ressalva de que a “superquarta pode mudar toda essa dinâmica”.

Aqui, a expectativa de consenso é de que o Copom trará a Selic de 12,25% para 11,75% ao ano, amanhã, na última reunião de 2023 – no mesmo dia em que o comitê de política monetária do Federal Reserve, o Fomc, anunciará decisão sobre os juros americanos, e trará indicações sobre a trajetória futura da taxa de referência, na comunicação do Fed como também no gráfico de pontos, sempre acompanhado com atenção pelo mercado.

Como de hábito, a decisão do Fed, à tarde, precederá a do Copom, à noite, com efeitos que costumam se transmitir aos negócios do dia seguinte. Com relação ao Copom, “existe um ponto de atenção para 2024, quando a meta inflacionária passa a ser de 3%”, observa em nota Roberto Simioni, economista-chefe da Blue3 Investimentos.

“Mesmo que a inflação oscile dentro da banda superior à meta, o Banco Central não necessariamente terá de aumentar a magnitude do corte de juros para um ritmo superior ao 0,50 ponto porcentual praticado nas últimas reuniões. Na verdade, acreditamos que, nas próximas três reuniões em 2024, e a depender do comportamento das variáveis macroeconômicas, os juros devem estacionar próximo ao patamar de 10,25% ou 10% ao final deste ciclo, próximo a maio”, acrescenta.

“E, se tivesse de escolher uma palavra para definir 2024, seria disciplina, permeando os preços à medida que o mercado entender com qual nível de seriedade o governo agirá no cumprimento da meta fiscal ao longo do primeiro semestre do ano”, conclui o economista.

A pitada de sal quanto ao compromisso do governo de buscar o equilíbrio fiscal em 2024, ano de eleições municipais, tem sido um contraponto à melhora da trajetória da inflação, conforme se vê nas leituras do índice de preços oficial.

“O qualitativo do IPCA segue positivo, com média dos núcleos abaixo do esperado. Ou seja, grupos de preços que são acompanhados atentamente pelo Banco Central – que têm menos volatilidade e estão atrelados ao desempenho da atividade econômica – parecem compatíveis com a convergência para a meta de inflação”, aponta Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “Entretanto, isso não significa que o Banco Central irá acelerar o ritmo de corte de juros nesse momento”, ressalva.

“Nos últimos meses, a elevação dos juros americanos em um primeiro momento e a incerteza quanto à meta fiscal para 2024 embalaram o tom de cautela nos documentos do BC sobre a perspectiva da Selic. Embora as projeções para o IPCA estejam ao redor de 4,5% em 2023 e 3,9% em 2024, um cenário favorável, muitos economistas passaram a projetar que a Selic não teria condições de cair para patamar abaixo de 10% no próximo ano”, acrescenta a economista.

Assim, com o mercado atento à perspectiva para os juros, aqui e nos Estados Unidos, a cautela que persistiu nesta sessão que precede as deliberações sobre as taxas de referência se traduziu não apenas no giro enfraquecido, como também no desempenho das ações de maior peso e liquidez na B3, negativo.

Com o petróleo em baixa de quase 4% em Londres e Nova York – vindo a commodity de recuperação parcial nas sessões anteriores -, Petrobras ON e PN caíram hoje 1,53% e 0,81%, respectivamente. O dia foi de ajuste mais discreto para o setor metálico, com Vale ON em alta de 0,18% no fechamento, após ter operado em terreno negativo a maior parte da sessão – outros nomes do segmento também viraram, como Gerdau PN, em alta de 0,71% no fim do dia.

Entre os grandes bancos – à exceção de Bradesco ON (+0,28%) -, o sinal negativo foi mais visível, com destaque para BB (ON -3,05%), em dia de anúncio de medidas do governo para estimular o crédito a projetos de infraestrutura nos Estados e municípios, envolvendo as instituições financeiras públicas.

No evento, no Palácio do Planalto, a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou que o banco público fez neste ano financiamentos a Estados e municípios em valor superior ao dos quatro últimos anos somados. Foram R$ 19,1 bilhões em 354 operações, enquanto nos quatro anos anteriores, o valor total foi de R$ 17,1 bilhões.

Na ponta perdedora do Ibovespa nesta terça-feira, Totvs (-3,53%), 3R Petroleum (-2,92%) e Vibra (-2,54%), além de Banco do Brasil. No lado oposto, Soma (+4,02%), MRV (+2,78%) e CVC (+2,77%).

Juros

Os juros futuros fecharam a terça-feira em queda firme. A leitura positiva da composição do IPCA de novembro reforçou as expectativas em torno de um comunicado dovish do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne amanhã, que deixe a porta aberta para uma possível aceleração do ritmo de corte da Selic ou sinalize taxa terminal mais baixa. O exterior contribuiu com alívio na curva dos Treasuries e tombo dos preços do petróleo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025, que capta a percepção do mercado sobre as decisões do Copom em 2024, caiu de 10,312% ontem no ajuste para 10,245% (mínima), no menor nível desde 14/10/2021 (10,06%). A do DI janeiro de 2026 cedeu a 9,90%, de 9,96% ontem. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,01% (10,07% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 recuou de 10,51% para 10,46%.

O IPCA de novembro já colocava as taxas em baixa logo no começo dos negócios, mais pela composição do que pelo índice cheio, de 0,28%, que ficou praticamente em linha com o consenso de 0,29%, ante 0,24% em outubro. O acumulado em 12 meses desacelerou de 4,82% para 4,68%, levando o índice abaixo do teto da meta de 4,75%. Na abertura do dado, houve queda do índice de difusão, desaceleração importante dos núcleos e aceleração de serviços subjacentes praticamente em linha com o consenso.

O IPCA não alterou as apostas de que o Copom reduzirá a Selic em 0,50 ponto porcentual na reunião de amanhã, como amplamente sinalizado pela comunicação do Banco Central. Mas, diante de novas evidências da melhora da inflação subjacente, a avaliação é que aumentaram as chances de uma ênfase maior do comunicado na melhora do cenário inflacionário, que abra oportunidade para doses maiores de corte ou do orçamento total no fim do ciclo.

A economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria destaca que, considerando a média móvel dos últimos 3 meses, a variação dos núcleos do IPCA segue próxima do centro da meta de 3% e indica que a política monetária já contribuiu para a convergência da inflação. “Haveria espaço para cortes maiores nas próximas reuniões do Copom, que não devem ocorrer devido ao comprometimento feito pelo guidance nos últimos comunicados”, disse. Para ela, seria apropriado no comunicado de amanhã que o comitê deixe os próximos passos abertos para se adequar à evolução do cenário.

O economista-chefe da Traad, Leonardo Cappa, afirma haver certa curiosidade sobre como os dados de hoje serão tratados pelo comunicado, admitindo que há espaço para uma alteração no balanço de riscos. “A depender de como vier, o mercado pode interpretar como uma abertura do BC para acelerar o ritmo”, diz

Outro fator do balanço de riscos com potencial de melhora na avaliação do Copom é o cenário externo, dado o fechamento da curva americana e o recuo dos preços do petróleo desde a reunião de novembro. O tipo Brent hoje caiu 3,67%, a US$ 73,24 o barril. O alívio na commodity ajuda a sustentar as apostas de novo corte nos preços da gasolina no Brasil.

O Copom amanhã já terá a decisão do Federal Reserve, que sai à tarde, em mãos, além do gráfico de pontos e entrevista coletiva de Jerome Powell. A expectativa é de manutenção dos juros nas faixa de 5,25% a 5,50%. O índice de inflação ao consumidor (CPI, em inglês) dos EUA veio dentro do consenso, mantendo nublado o cenário de apostas para o início do ciclo de quedas, entre março ou maio.

Estadão Conteúdo

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