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Economia

Dólar desce para patamar de R$ 5,15 em dia de apetite externo ao risco

Um movimento de recuperação dos ativos de risco no exterior, abriu espaço para uma queda do dólar para a casa de R$ 5,15 no mercado local

Redação Jornal de Brasília

21/06/2022 18h13

banco

Foto: Yuriko Nakao

Um movimento de recuperação dos ativos de risco no exterior, na volta de feriado nos Estados Unidos, abriu espaço para uma queda do dólar para a casa de R$ 5,15 no mercado local, com investidores ajustando posições após a escalada de ontem, quando a moeda fechou no maior valor desde meados de fevereiro.

Sem grandes surpresas na ata do Copom, que ratificou a tendência de pelo menos mais um aumento da taxa Selic, o mercado monitorou mais de perto o desenrolar de negociações no Congresso em torno da instalação da CPI da Petrobras e de medidas para conter os preços dos combustíveis, como uma mudança da Lei de Estatais.

Declarações do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, em torno da política de preços da Petrobras, durante audiência pública na Câmara dos Deputados, ensejaram tanto mínimas da sessão, no fim da manhã, quanto redução do ritmo de queda do dólar ao longo da tarde.

Na primeira etapa de negócios, investidores se animaram com falas como a de que não “é ministro” ou “presidente quem tem que decidir qual o preço do combustível”, tarefa que cabe à empresa, no caso a Petrobras.

No meio da tarde, o clima na Bolsa azedou e o real perdeu parte do seu brilho, após Sachsida questionar se o PPI (Preço de Paridade Internacional) se justifica.

“Se PPI não está representando preço de mercado de maneira adequada, é evidente que precisa ser melhorado”, disse o ministro, acrescentando que a gestão de Caio Paes de Andrade à frente da Petrobras, em substituição a José Mauro Coelho, não “será mais do mesmo”.

Depois de registrar mínima a R$ 5,1184 (-1,31%) pela manhã, o dólar passou à tarde rodando entre R$ 5,14 e R$ 5,15.

No fim da sessão, era negociado a R$ 5,1537, em baixa de 0,63%. O saldo dos dois primeiros dias desta semana é de uma leve valorização (+0,18%), levando a alta acumulada em junho para 8,44%. No ano, as perdas, que já foram superiores a 15%, agora são de 7,57%.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a moedas fortes – trabalhou em queda, ao redor dos 104,400 pontos, embora o dólar tenha subido mais de 1% frente ao iene.

A moeda americana caiu em bloco na comparação com divisas emergentes, à exceção do peso colombiano, que perdeu quase 3%, na esteira da eleição do primeiro presidente de esquerda do país, Gustavo Petro, no domingo.

“O comportamento do real hoje foi bem em linha com as outras divisas emergentes. A moeda sofreu muito nas últimas semanas com o aperto das condições financeiras globais e alta de 75 pontos-base no juro americano”, diz o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, acrescentando que os riscos vindos do embate político, com a proximidade das eleições, já começam também a ser incorporados nos preços dos ativos domésticos.

Lima vê com preocupações acenos dois lados do espectro político, uma vez que tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já falou em abolir o teto de gastos e revogar a reforma trabalhista, quanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) mostram disposição para políticas mais intervencionistas, como a interferência na formação dos preços dos combustíveis.

“A cada dia surge no Congresso e no governo uma ‘ideia brilhante’. Desde mudar o regime de preços e a Lei de Estatais até aumentar gastos públicos com subsídios e transferências diretas”, afirma o economista, para quem uma escalada do dólar daqui para frente se daria mais por causa de uma deterioração doméstica do que por fatores externos, como a alta de juros pelo BC americano.

“A taxa de juros Selic está muito alta e faz o real aguentar um desaforo um pouco maior. Mas não pode exagerar no desaforo”, alerta.

Na leitura predominante entre analistas, o Copom acenou em sua ata com mais uma elevação da Selic em agosto, provavelmente de 0,50 ponto porcentual, para 13,75% ao ano, e manutenção da taxa em níveis elevados por um período maior – o que, em tese, contribui para impedir uma depreciação mais forte do real, ao encarecer o carregamento de posições “compradas” em dólar.

“A ata ajudou um pouco no alívio da taxa de câmbio, já que o Copom sugeriu aperto monetário adicional em agosto e Selic em nível contracionista por um período longo.

Mas o fator majoritário para a queda do dólar hoje foi o exterior positivo, que beneficiou as moedas emergentes”, diz a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, para quem a agenda doméstica continua “muito complicada” e sugere aumento da volatilidade da taxa de câmbio à frente.

Estadão Conteúdo

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