SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O dólar abriu em leve alta nesta sexta-feira (12), refletindo o que ocorre no exterior com a moeda norte-americana se valorizando frente a outras divisas. com os investidores ajustando apostas para os juros nos EUA nos próximos meses.
Na quarta-feira (10), o Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) reduziu a taxa de empréstimo pela terceira reunião consecutiva, terminando o ano entre 3,5% e 3,75%.
Às 9h08, a divisa dos EUA subia 0,17%, cotada a R$ 5,4176. Na quinta-feira (11), o dólar fechou em forte queda de 1,11%, a R$ 5,404, e a Bolsa avançou 0,07%, a 159.189 pontos.
O dia foi de repercussão das decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos na quarta-feira.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) manteve a taxa Selic em 15% ao ano, como esperado, em decisão unânime. O comunicado do colegiado, porém, frustrou os agentes do mercado ao não sinalizar o início do ciclo de cortes.
No texto, o comitê repetiu que a Selic deve seguir alta “por período bastante prolongado”, sem suavizar a linguagem, e avaliou que a estratégia “em curso” é “adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”. No comunicado anterior, de novembro, não havia o termo “em curso” e, em vez de “adequada”, a palavra usada foi “suficiente”.
“Essa adição está em linha com o discurso recente do presidente do BC, Gabriel Galípolo, que esclareceu que o ‘bastante’ não reinicia a cada reunião, ou seja, esse período já vem ocorrendo há meses”, avaliou o consultor Sérgio Goldenstein, da Eytse Estratégia, em comentário enviado a clientes. “A retirada do caráter de guidance [sinalização dos passos futuros] abre espaço para corte já em janeiro sem ruptura na comunicação.”
Para o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth M anagement, Gino Olivares, o BC manteve no comunicado seu diagnóstico e sua sinalização. “Entendemos que isso deve esvaziar as apostas do mercado pelo início do ciclo de cortes de juros em janeiro. Nossa opinião, há algum tempo, é de que as condições para esse início não estarão dadas antes de março”, pontuou.
Ou seja, a dúvida se o início das reduções será em janeiro ou março persiste. Enquanto isso, no exterior, as apostas majoritárias são de que o Fed manterá a taxa de juros na faixa de 3,50% a 3,75% em janeiro. Na tarde de quarta-feira, a autoridade monetária promoveu um corte de 0,25 ponto percentual, como esperado.
Jerome Powell, presidente do Fed, afirmou que os juros estão bem posicionados para responder ao que está por vir para a economia, se recusando a indicar quais serão os próximos passos.
“Eu destacaria que, tendo reduzido nossa taxa de juros em 0,75 ponto percentual desde setembro e 1,75 ponto desde setembro do ano passado, a taxa básica está agora dentro de uma ampla faixa de estimativas de seu valor neutro e estamos bem posicionados para esperar para ver como a economia evolui”, disse Powell em entrevista coletiva após a decisão.
Ele acrescentou que “a política monetária não está em um curso predefinido” e que o comitê tomará decisões “reunião a reunião”.
A fala de Powell “foi uma sinalização que mantém a porta aberta, sem garantir continuidade imediata do ciclo”, afirma João Duarte, sócio da One Investimentos. Essa postura injetou ânimo nos mercados, e o dólar apresenta fraqueza ante a maior parte das moedas globais pelo segundo dia consecutivo.
Agora, os próximos dados da economia norte-americana serão observados de perto para que os operadores possam antever as próximas decisões. Por enquanto, a probabilidade de um novo corte de 0,25 ponto é de 24,4% na ferramenta FedWatch.
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Já na ponta corporativa, resultados decepcionantes da Oracle reanimaram dúvidas sobre o futuro do setor de tecnologia e da inteligência artificial. As ações da empresa de banco de dados caíram mais de 10% neste pregão.
“Mesmo com os investidores tranquilizados pelo mais recente corte de juros do Fed, as preocupações já conhecidas sobre inteligência artificial ainda estão muito presentes”, escreveu Jim Reid, chefe global de pesquisa macroeconômica do Deutsche Bank, descrevendo os resultados da Oracle como “decepcionantes”.