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Economia

Com Powell, Ibovespa muda de sinal à tarde e cai 0,12%; dólar fecha em alta, a R$ 4,9399

Depois, passou a devolver o ganho, caindo 0,61%, a 118.445,86 pontos no piso desta quinta-feira, acompanhando nova piora em Nova York

Redação Jornal de Brasília

09/11/2023 18h50

Foto: Divulgação

O Ibovespa reduziu a marcha e, embora tenha chegado a ensaiar perda ainda no meio da tarde com a piora em Nova York, conseguia sustentar o sinal positivo em direção ao fechamento, em dia sem orientação única, até então de leve amplitude, em Wall Street. Mais cedo, o índice da B3 tocou máxima a 120.256,62 pontos, o maior nível intradia desde 4 de agosto (121.442,02 pontos), saindo hoje de abertura aos 119 180,45 pontos que, até o meio da tarde, correspondia à mínima da sessão.

Depois, passou a devolver o ganho, caindo 0,61%, a 118.445,86 pontos no piso desta quinta-feira, acompanhando nova piora em Nova York, quando o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em discurso, jogava balde gelado sobre a expectativa de abrandamento para a perspectiva da política monetária americana.

Ao fim, o Ibovespa mostrava leve baixa de 0,12%, a 119.034,14 pontos, com giro a R$ 25,1 bilhões, após ter parecido a caminho, em boa parte do dia, do maior nível de encerramento desde o começo de agosto. Na semana, o índice da B3 ainda sobe 0,74% e, no mês, 5,21%, colocando o avanço do ano a 8,47%.

Petrobras ON e PN mostraram ganhos de 2% no fechamento (ON +2,12%, PN +2,08%), andando à frente do petróleo na sessão, que antecedeu a divulgação do balanço trimestral da empresa, nesta noite. Vale ON também subiu, 0,48%. Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para Minerva (-13,45%) e Grupo Casas Bahia (-12,28%). Banco do Brasil ON teve queda de 4,18% no dia seguinte ao balanço do terceiro trimestre, em sessão positiva para os pares do setor financeiro, no fechamento. Na ponta ganhadora do índice da B3, Braskem (+15,62%), Soma (+6,54%) e Cogna (+3,82%).

A Braskem reportou, para o terceiro trimestre, prejuízo de R$ 2,418 bilhões, superior ao de R$ 1,103 bilhão no mesmo período de 2022, mas os investidores se animaram com a notícia de que a Adnoc – a empresa de petróleo de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos – realizou nova oferta pela fatia da petroquímica detida pela Novonor, conforme antecipado pelo Broadcast.

A proposta preliminar da diretoria da Petrobras para o Plano Estratégico 2024/2028 supera a casa dos US$ 100 bilhões, um aumento em relação ao último plano, que foi de US$ 78 bilhões. Segundo apurou o Broadcast, a cifra, que ainda depende de aprovação do conselho de administração, incluiria um investimento no exterior e também um valor previsto para eventual elevação da fatia acionária na Braskem, reportam do Rio os jornalistas Mônica Ciarelli, Gabriel Vasconcelos e Denise Luna.

No quadro mais amplo, a piora observada a partir do meio da tarde em Nova York, tanto nos índices de ações como nos rendimentos dos Treasuries, veio a princípio logo após leilão de títulos americanos e, também, de declarações da presidente interina do Federal Reserve de St. Louis, Kathleen Paese, que destacou não ser “sábio” descartar a possibilidade de nova elevação de juros nos Estados Unidos.

Mais cedo, o presidente do Federal Reserve de Richmond, Thomas Barkin, havia dito que a inflação continua muito alta no país, e que a autoridade monetária caminha sobre linha tênue. Em evento, Barkin apontou que o BC americano percorreu um longo caminho, rapidamente, para conter a alta dos preços, mas que “o trabalho não está concluído”. “Ainda não estou convencido de que a inflação esteja numa trajetória de queda para 2%”, afirmou.

Pela manhã, com poucas novidades disponíveis para orientar os negócios, havia alguma propensão a risco desde o exterior, apesar das variações modestas, observa em nota a Guide Investimentos, “diante da maior expectativa por estabilidade dos juros nas economias centrais”, tendo parte dos agentes de mercado chegado a precificar, recentemente, pausa ou mesmo fim do ciclo de aperto monetário nos principais BCs do mundo. Nesse contexto mais favorável ao risco, o principal índice acionário de NY, o S&P 500, parecia a caminho da 9ª sessão de alta consecutiva, em movimento de recuperação após recuo em agosto, setembro e outubro, aponta a Guide.

O otimismo não se sustentou ao longo da tarde, especialmente a partir das 16h, quando novas declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, complementaram a cautela de que o mercado já havia tomado nota nas falas de outras autoridades monetárias americanas, mais cedo. Em discurso, Powell foi direto: “Não estamos confiantes de que atingimos nível restritivo o suficiente para a meta de inflação buscada pelo Fed, de 2% ao ano”. Após os comentários, a chance de o Fed voltar, até março de 2024, a elevar a taxa de juros de referência chegou a 20%.

Com a retomada da cautela ao longo do dia, Dow Jones fechou a quinta-feira em baixa de 0,65%, o S&P 500, de 0,81%, e o Nasdaq – o mais sensível dos três à perspectiva de curto prazo para os juros americanos -, em queda de 0,94%.

O presidente do Federal Reserve reconheceu hoje, em conferência promovida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que a política monetária americana está em posição “significativamente restritiva”, com juros reais acima de 2%, e que o BC dos Estados Unidos não almeja subir exageradamente os juros – embora tenha reforçado que o foco atual está na garantia de estabilidade para os preços.

“A posição quanto à política monetária dos Estados Unidos ainda é de muita cautela, e Powell ressaltou, por algumas vezes, que o cumprimento da meta ainda não ocorreu, apesar dos claros sinais de que a inflação tem caído nos últimos meses”, diz o economista José Cláudio Securato, presidente da Saint Paul Escola de Negócios, ressaltando que a autoridade monetária mantém a abordagem “técnica”, com análise da evolução dos dados a cada reunião de deliberação sobre os juros.

Dessa forma, apesar do rápido rito de passagem da reforma tributária pelo Senado, votada em dois turnos na Casa na noite de ontem, o cenário externo permanece como principal fator de incerteza e de baixo apetite pela renda variável também no Brasil, com Selic ainda em 12,25% ao ano.

Aqui, “após a queda de outubro, a bolsa local voltou a negociar próxima de 7x o lucro”, observa em carta mensal a Franklin Templeton do Brasil. “O patamar não parece coerente com as boas notícias, que aumentaram a expectativa de crescimento econômico em 2023 para 3%, e da menor inflação no ano”, acrescenta o texto, assinado pelos vice-presidentes e gestores Frederico Sampaio e Eduardo Bopp.

“Diversas ações, principalmente ligadas ao consumo doméstico, voltaram a patamares historicamente baixos e o ruído externo secou o fluxo de investidores estrangeiros para nossa bolsa. Não há um gatilho visível que nos permita vislumbrar o momento em que acontecerá recuperação dos preços, mas, sem dúvida, o valuation atual é muito atraente para quem visa horizontes de longo prazo”, concluem.

Dólar

Após operar majoritariamente em baixa pela manhã, quando rompeu pontualmente o piso de R$ 4,90 em meio o avanço das commodities e registrou mínima a R$ 4,8924, o dólar à vista se firmou em terreno positivo à tarde, com o fortalecimento externo da moeda americana e a escalada das taxas dos Treasuries.

Nos momentos de maior estresse, a divisa chegou a operar acima de R$ 4,94, registrando máxima a R$ 4,9469 na última hora de negócios. No fim da sessão, o dólar à vista subia 0,67%, cotado a R$ 4,9399. Operadores observam que a liquidez no mercado futuro de câmbio foi moderada, o que sugere uma postura cautelosa dos investidores.

Com a agenda doméstica esvaziada e a aprovação da reforma tributária no Senado já refletida nos preços, as atenções estiveram voltadas para o comportamento da moeda americana lá fora e a curva de juros americana, em meio as apostas em torno dos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos). Houve nervosismo também com o resultado do leilão de US$ 24 bilhões de T-bonds de 30 anos, cuja demanda foi baixa.

Declarações duras do presidente do Fed, Jerome Powell, levaram bolsas em Nova York às mínimas e o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a seis divisas fortes – a renovar máximas, na casa dos 105,900 pontos. A moeda americana também subiu em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Entre os pares do real, as maiores perdas ficaram com os pesos chileno e mexicano. O Banco Central do México (Banxico) decidiu, por unanimidade, manter a taxa de juros em 11,25% ao ano.

Em evento do Fundo Monetário Internacional (FMI), Powell disse que não há confiança de que a taxa básica americana já atingiu nível suficientemente restritivo para levar a inflação à meta de 2% e que o Fed não hesitará em promover aperto adicional da política monetária. Trocando em miúdos, o ciclo de alta da taxa de juros ainda não terminou. Monitoramento da CME mostra que, após comentário de Powell, as chances de uma elevação dos Fed Funds subiram de cerca de 15% para perto de 20%.

“As declarações de Powell não agradaram e geraram um movimento brusco dos mercados em geral, aqui e lá fora. O euro, que estava em alta em relação ao dólar, acabou se enfraquecendo muito. Aqui, o dólar tinha oscilado para o lado negativo durante maior parte do pregão e, em segundos, ultrapassou os R$ 4,93”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

Apesar de ter subido ontem e hoje, voltando a se aproximar de R$ 4,95, o dólar à vista ainda acumula queda de 2,01% em novembro e está distante do nível de fechamento de outubro (R$ 5,0414). Operadores observam que o fluxo comercial robusto e perspectiva de que não haverá aceleração do ritmo de cortes da taxa Selic dão suporte à moeda brasileira.

À tarde, o BC informou que o fluxo cambial em outubro foi positivo em US$ 3,400 bilhões, graças à entrada liquida de US$ 4,099 bilhões via comércio exterior. Houve saídas líquidas de US$ 699 milhões pelo canal financeiro no mês passado. Na semana passada (entre 30 de outubro e 3 de novembro), o saldo total foi positivo em US$ 1,757 bilhão, com entradas líquidas de US$ 1,085 bilhão pelo comércio exterior e de US$ 672 milhões pelo canal financeiro.

Juros

Os juros futuros tentaram emplacar mais uma sessão de baixa, mas esbarraram na cautela do ambiente externo. No fechamento, as taxas mostravam alta moderada. O avanço da agenda econômica do Congresso, ponderações sobre o fiscal, a expectativa de um número favorável do IPCA amanhã e o leilão robusto de prefixados do Tesouro conseguiram conter, durante boa parte do dia, a influência dos yields dos Treasuries e do petróleo em alta sobre a curva local. Mas no fim da tarde, as taxas não resistiram ao discurso hawkish do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,825%, de 10,786% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 encerrou em 10,66%, de 10,57% ontem. O DI para janeiro de 2027 subiu de 10,69% para 10,78% (máxima). O DI para janeiro de 2029 terminou com taxa de 11,14% (máxima), de 11,06%.

O mercado mostrou, em boa parte do dia, disposição para dar sequência aos ajustes de baixa, se amparando na aprovação da reforma tributária ontem no plenário do Senado que, embora longe do ideal e com placar apertado, não deixa de representar uma vitória da equipe econômica. “A aprovação dá um pouco mais de clareza sobre o que há por vir e a estratégia de Lira para evitar que o texto tenha de voltar ao Senado também é algo positivo”, afirma o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal.

Além disso, o julgamento da correção dos saldos do FGTS no Supremo Tribunal Federal (STF), com os três votos conhecidos até o momento defendendo o reajuste pela caderneta de poupança, contribuía para o alívio. “Se fosse pelo IPCA, o governo teria grande despesa com a correção desde 1999”, afirma o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. O julgamento foi interrompido por um pedido de vista do ministro Cristiano Zanin

Velho cita ainda como fator positivo a sinalização do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após reunião dos líderes, de que vai acelerar a tramitação da proposta de subvenção do ICMS, “que é fundamental para a arrecadação do governo.”

Tais fatores domésticos conseguiam limitar no DI o contágio da alta dos retornos dos Treasuries, que subiam desde cedo com discursos de dirigentes do Fed e que encontraram respaldo na fala de Powell que viria mais tarde às 16h. Ele afirmou que o Fed ainda não está confiante de que os juros atingiram nível restritivo suficiente para a inflação voltar à meta. “Se for apropriado apertar mais política monetária, não hesitaremos em fazê-lo”, disse.

As taxas dos Treasuries ampliaram a alta, com a da T-Note de 2 anos voltando a 5% e a do papel de 10 anos superando 4,60%. O mercado foi ainda influenciado por um leilão de US$ 24 bilhões em T-Bonds de 30 anos com demanda fraca.

Já o leilão de prefixados no Brasil foi bem sucedido, com lotes grandes absorvidos integralmente e com taxas abaixo do consenso. A oferta de LTN foi de 10 milhões e a de NTN-F, de 1,5 milhão.

Amanhã o IBGE divulga o IPCA de outubro, com mediana das estimativas apontando taxa de 0,29%, de 0,26% em setembro. Para os preços de abertura, a expectativa é de aceleração da média dos núcleos, mas arrefecimento de administrados e serviços subjacentes. A depender da leitura do mercado, poderá haver ajustes nas apostas para o ciclo da Selic.

Estadão Conteúdo

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