DIEGO FELIX
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Quase metade (49%) dos brasileiros entrevistados em estudo da Ipsos divulgado nesta terça-feira (2) afirmaram apoiar barreiras tarifárias como uma forma de controlar a entrada de produtos e serviços estrangeiros.
Segundo o estudo sobre tendências globais, 67% dos entrevistados brasileiros afirmaram preferir comprar produtos do país e 70% disseram se esforçar para adquirir itens de marcas nacionais.
A política comercial do governo Donald Trump (EUA) ampliou a incerteza econômica na vida das pessoas, que passaram a questionar o valor da globalização. Na pesquisa da Ipsos, 75% dos brasileiros participantes afirmam que a globalização é boa para o país, enquanto no mundo a média é de 64%.
Entre os brasileiros, a menor aceitação sobre a importância da globalização está entre os jovens (66%), pessoas de baixa renda (65%) e de baixa escolaridade (70%).
Para 61% dos brasileiros a imigração tem impacto positivo na sociedade -na média global o dado é de 45%. Ainda assim, 73% afirmam que existem imigrantes demais no país, um crescimento de seis pontos percentuais em comparação com o levantamento de 2024. Segundo a Ipsos, essa percepção entre os brasileiros é maior entre mulheres (76%), pessoas na faixa de 35 a 44 anos (81%), de baixa renda (75%) e baixo nível escolar (84%).
A pesquisa da Ipsos foi realizada entre maio e junho, com 33 mil adultos de 18 a 74 anos distribuídos em 43 países de todo o mundo -nenhum deles em guerra.
Segundo o mapeamento, o crescimento das rupturas econômicas, políticas e tecnológicas está gerando uma profunda descrença nas autoridades e nas relações interpessoais de forma geral. Esses são pontos que devem marcar a década de 2020, segundo a pesquisa de tendências.
O relatório da nona edição do Global Trends Ipsos aponta que as chamadas fraturas sociais foram ampliadas nos últimos anos por crises geopolíticas, polarização e cidadãos cada vez mais voltados para si mesmos.
No Brasil, 84% dos entrevistados afirmam estar mais atentos ao aumento da desigualdade social e há uma maior percepção de que a grande diferença de distribuição de renda é ruim para a sociedade.
Com o aumento da concentração de riqueza ao longo dos anos, oito em cada dez entrevistados brasileiros concordam que a economia do país é pensada para favorecer ricos e poderosos.
No caso da política, em que o retorno do nacionalismo ditou o ritmo das eleições pelo planeta, o orgulho dos brasileiros com relação ao país caiu um ponto percentual no último ano, totalizando 66%. Na América Latina, a média de satisfação subiu quatro pontos para 72% na pesquisa deste ano.
Todos esses conflitos impactaram o que as pessoas pensam das empresas, já que para 85% dos brasileiros as companhias têm o dever de contribuir para a sociedade em vez de buscar somente o lucro.
Somente 37% dos respondentes indicaram ainda acreditar em líderes empresariais, que no início da década eram vistos como virtuosos e capazes de solucionar problemas societários complexos.
A Ipsos avalia que, em pouco tempo, a inteligência artificial deixou de ser um conceito restrito a especialistas para redesenhar todos os tipos de interação no mundo. Ao mesmo tempo em que as pessoas se sentiram fascinadas com ganhos de eficiência, também estão cansadas com a exposição constante à tecnologia e receosas com a perda de autonomia e velocidade das mudanças.
O Brasil é a quarta nação que mais cita os conflitos familiares por diferenças ideológicas no núcleo familiar, atrás somente de Emirados Árabes (69%), Índia (65%) e África do Sul (62%). Os conflitos são mais apontados entre homens (63%), pessoas de 35 a 44 anos (67%), baixa renda (70%) e menor nível de escolaridade (71%).
Essa descrença com as instituições e com os núcleos familiares está criando o que a Ipsos classifica como um “novo niilismo”, com as pessoas migrando sua confiança para círculos menores e mais próximos, formados por amigos, microcomunidades e influenciadores.
No entanto, como essa confiança é frágil, ela é rompida com mais facilidade.
Muitos indivíduos passaram a viver mais experiências no presente e na busca por satisfações imediatas, priorizando autonomia, liberdade pessoal e caminhos alternativos para o sucesso, mesmo que isso desafie normas sociais -ter uma casa própria e carreira estável, por exemplo, já não são mais referências de sucesso, afirma o estudo.
A Ipsos acredita que as organizações que souberem equilibrar valor local e presença global, reforçando vínculos de confiança e oferecendo sensação de controle ao cidadão conseguirão sobreviver às turbulências da década atual.