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Economia

BC busca soluções para privacidade antes de incluir população em testes do Drex

De acordo com Fabio Araujo, coordenador do projeto, esse é um marco fundamental para que seja possível incluir a população nos testes da moeda digital

Redação Jornal de Brasília

02/10/2024 23h14

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Foto: Agência Brasil

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

A segunda fase de testes do Drex –real digital em desenvolvimento pelo Banco Central- começa a ser implementada buscando, entre outros objetivos, avançar em soluções de privacidade a partir de diferentes casos de uso.

De acordo com Fabio Araujo, coordenador do projeto, esse é um marco fundamental para que seja possível incluir a população nos testes da moeda digital. Se o plano avançar como previsto, ele prevê que essa etapa possa ocorrer entre o fim de 2025 e início de 2026.

“Todas as soluções que testamos não atingiram completamente as especificações que dariam um conforto pleno para poder levar isso para os indivíduos. A gente tem que garantir que a LGPD [Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais] esteja sendo atendida”, diz.

À reportagem, Araujo especifica que algumas soluções de privacidade testadas “escondem informação demais”, atrapalhando o monitoramento do BC sobre as transações realizadas. Outros casos possuem um custo computacional muito alto, o que reduziria o número de operações por segundo e inviabilizaria o uso do Drex no varejo. Um terceiro problema corresponde à dificuldade de desenvolvimento de novos algoritmos, comprometendo a evolução do código.

Além da questão da privacidade, também será discutida na próxima etapa de testes a governança dos serviços financeiros. Transações com imóveis e veículos são alguns dos 13 temas selecionados para o desenvolvimento do Drex e envolvem outros reguladores.

Com isso, a discussão também abrangerá entidades como ONR (Operador Nacional do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis), CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Araujo ressalta a responsabilidade do regulador quando o assunto envolve tecnologia, como no caso dos contratos inteligentes -criados e geridos por terceiros participantes da rede.

“Se um contrato financeiro, em português, é difícil para as pessoas entenderem, imagine a transposição desse contrato para uma linguagem de programação”, afirma o coordenador.

A governança é, segundo ele, um ponto fundamental para proteger os consumidores que vão acessar esses novos instrumentos. “Pode parecer um pouco paternalista, mas a gente sabe que as pessoas não entendem completamente o mercado financeiro”, diz.

No caso de transações envolvendo imóveis e veículos com pagamentos via Drex, há expectativa de aumento de eficiência na prestação de serviços e de redução de custos operacionais, na medida em que os contratos inteligentes automatizam as operações.

“A gente está sempre modulando a evolução do projeto de forma a buscar uma democratização de acesso aos serviços financeiros”, afirma Araujo.

Além de trabalhar casos de uso que possam impactar a vida cotidiana das pessoas, o BC vê medidas com potencial de destravar o mercado de crédito com o Drex.

É o caso, por exemplo, do crédito colateralizado (empréstimo com garantia) em CDB (Certificado de Depósito Bancário). Na fase de testes, essa proposta será trabalhada por Banco do Brasil, Itaú e Bradesco (incluindo Nuclea e Setl).

Como mostrou a Folha de S. Paulo, o plano do consórcio é fazer uma operação cruzada, na qual um cliente (seja pessoa física ou jurídica) toma um empréstimo em um banco utilizando como garantia um CDB tokenizado (ou seja, digitalizado) emitido por outra instituição. Hoje, esse tipo de operação está mais centralizado dentro de uma mesma instituição.

Para Araujo, esse tipo de operação facilitaria o acesso da população a um crédito mais barato. Apesar da injeção de recursos na economia, ele não prevê impacto sobre a política de juros.

“A gente não está mudando de paradigma, está mudando de sensibilidades. […] O mercado financeiro está sempre criando novos produtos. Essa é uma questão que, na política monetária, a gente leva em consideração e está sempre atualizando os modelos”, diz.

Em agosto do ano passado, o BC revisou o cronograma de testes do Drex. Inicialmente prevista para acabar entre fevereiro e março deste ano, a primeira etapa do piloto foi prolongada até maio. O cronograma sofreu impacto devido à mobilização dos servidores do BC, com a paralisação de algumas atividades.

Nesse processo, Araujo conta que direcionou o foco dos trabalhos do BC para o desenvolvimento da infraestrutura do sistema, deixando em segundo plano questões laterais, por exemplo, a estruturação dos sistemas para registro contábil.

Para 2025, o coordenador do desenvolvimento do real digital espera continuidade dos trabalhos, mesmo com o BC sob nova direção. A sabatina de Gabriel Galípolo -indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a cadeira ocupada hoje por Roberto Campos Neto- no Senado está prevista para a próxima terça-feira (8).

“A maior parte do trabalho do piloto está sendo desenvolvido hoje dentro da diretoria de Política Monetária, que é a área do Galípolo. Ele tem dado todo o apoio para o desenvolvimento [do Drex]”, afirma.

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