VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Após atingirem o maior valor em quase cinco meses, os preços do petróleo despencavam mais de 7% nesta segunda-feira (23), em uma sessão marcada por alta volatilidade.
Por volta das 16h30, o barril de Brent, referência internacional do petróleo, despencava 6,93%, a US$ 71,67, enquanto o WTI (West Texas Intermediate), referência nos EUA, se desvalorizava 8,37%, a US$ 68,66.
Investidores avaliam que as tensões no Oriente Médio entre Israel, Irã e Estados Unidos podem diminuir depois que o Irã atacou a bases militares americanas no Qatar e no Iraque nesta segunda-feira, ação que equilibrou o conflito. O ataque foi uma retaliação aos bombardeios dos EUA contra instalações nucleares iranianas realizadas no último sábado (21).
Além disso, o Irã não tomou medidas para interromper o escoamento de petróleo e gás através do estreito de Hormuz, que poderia prejudicar a economia mundial e elevar os preços da commodity -maiores preocupações dos investidores.
“Havia um medo muito grande, até a manhã desta segunda, de que o estreito de Hormuz pudesse ser fechado. Mas o mercado está precificando que a rota de escoamento de petróleo não será prejudicada, então os preços de petróleo caem”, disse Ian Lopes, economista da Valor Investimentos.
“Os fluxos de petróleo, por enquanto, não são o alvo principal e provavelmente não serão afetados; acho que será uma retaliação militar contra as bases dos EUA e/ou uma tentativa de atingir mais alvos civis israelenses”, disse John Kilduff, sócio da Again Capital.
Na abertura do mercado, o Brent chegou a US$ 81,40 (R$ 449,32), o maior valor em quase cinco meses. Já o WTI, chegou a avançar cerca de 1%, para US$ 74,50 (R$ 411,76). No entanto, passaram a cair ao fim da manhã com declarações de Trump e aprofundaram queda após o contra-ataque do Irã a bases militares americanas no Oriente Médio.
A inversão do movimento do preço do petróleo coincidiu com publicações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em sua rede social Truth Social nesta segunda. Trump expressou o desejo de que os preços do petróleo permaneçam baixos em meio a temores de que os conflitos entre Israel e Irã possam levar a uma alta dos preços.
“Todos, mantenham o preço do petróleo baixo, estou observando! Vocês estão fazendo o jogo do inimigo, não façam isso”, escreveu ele em letras maiúsculas em sua plataforma de rede social Thruth Social.
Na sequência, Trump fez uma outra postagem destinada ao Departamento de Energia dos EUA, encorajando-o a “perfure, baby, perfure”, acrescentando: “quero dizer, agora”.
Os preços do petróleo aprofundaram queda depois que Irã lançou mísseis contra a maior base militar dos EUA no Oriente Médio, Al-Udeid, em Doha (Qatar), nesta segunda-feira.
O aeródromo de Ain al-Hussein, no Iraque, também foi alvejado. Outras unidades americanas na região estão em alerta máximo.
No mercado de ações, as Bolsas na Europa e na Ásia caíram, exceto os três principais índices da China. Já os principais índices de Wall Street registravam alta nesta segunda.
Por volta das 16h30, o Dow Jones Industrial ganhava 0,74%, para 42.518,33 pontos. O S&P 500 se valorizava 0,71%, a 6.010,50 pontos, enquanto o Nasdaq Composite avançava 0,86%, para 19.614,89 pontos.
Analistas disseram que quanto mais as tensões no Oriente Médio persistirem, maior será o risco de um período prolongado de altos preços do petróleo, o que poderia aumentar a inflação e prejudicar o crescimento econômico global.
“O governo Trump provavelmente terá dificuldade em equilibrar as ambições nucleares do Irã e, ao mesmo tempo, evitar um aumento prolongado nos preços do petróleo bruto, o que, por sua vez, elevará a inflação e enfraquecerá a economia dos EUA”, disse Michael Alfaro, diretor de investimentos da Gallo Partners, um fundo de hedge focado em energia e indústria.
O Irã exporta cerca de 2 milhões de barris de petróleo por dia. Cerca de 21 milhões de barris do Irã, Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos passam diariamente pelo Estreito de Ormuz.
“O mercado ainda está nervoso, aguardando o que o Irã fará”, disse Bjarne Schieldrop, analista-chefe de commodities do SEB.
“A questão-chave é o que vem a seguir”, escreveram James Bambino e Richard Joswick, da S&P, em nota.
“O Irã atacará os interesses dos EUA diretamente ou por meio de milícias aliadas? As exportações de petróleo bruto iraniano serão suspensas? O Irã atacará os navios no estreito de Hormuz?”
Trump disse que havia “obliterado” as principais instalações nucleares do Irã em ataques no fim de semana, juntando-se a um ataque israelense em uma escalada do conflito no Oriente Médio, já que Teerã prometeu se defender.
Israel realizou novos ataques contra o Irã na segunda-feira, incluindo a capital Teerã e a instalação nuclear iraniana de Fordow, que também foi alvo de ofensiva dos EUA. O Irã é o terceiro maior produtor de petróleo da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo).
O governo iraniano afirmou na segunda-feira que o ataque dos EUA às suas instalações nucleares expandiu a gama de alvos legítimos para suas forças armadas e chamou o presidente dos EUA, Donald Trump, de “jogador” por se juntar à campanha militar de Israel contra a república islâmica.
Enquanto isso, a China disse que o ataque dos EUA prejudicou a credibilidade de Washington e alertou que a situação “pode sair do controle”.
Os preços ficaram voláteis na sessão de segunda-feira. Os contratos do Brent e do WTI atingiram novas máximas de cinco meses no início da sessão, de US$ 81,40 e US$ 78,40, respectivamente, antes de devolverem ganhos e ficarem negativos durante a sessão matutina europeia, recuperando-se depois para um ganho de 1%.
Os preços subiram desde o início do conflito, em 13 de junho, em meio a temores crescentes de que uma retaliação iraniana possa incluir o fechamento do estreito de Hormuz, por onde passa cerca de um quinto do suprimento global de petróleo bruto.
Entretanto, os investidores estão avaliando a extensão do prêmio de risco geopolítico nos mercados de petróleo, uma vez que a crise do Oriente Médio ainda não teve impacto sobre a oferta.
“O prêmio de risco geopolítico está desaparecendo, pois até agora não houve interrupções no fornecimento. Mas como não está claro como o conflito pode evoluir, é provável que os participantes do mercado mantenham um prêmio de risco por enquanto.
Portanto, os preços devem permanecer voláteis no curto prazo”, disse Giovanni Staunovo, analista do UBS.
BOLSAS CAEM, EXCETO NA CHINA
As principais Bolsas europeias operam em queda na manhã desta segunda, refletindo o que ocorreu na Ásia. A exceção foi a China, onde as três Bolsas subiram. Já nos EUA, os futuros dos índices de Wall Street estavam próximo da estabilidade.
O futuro do S&P 500 estava em alta de 0,1% e o da Nasdaq estava estável. “Só o tempo dirá se a falta de reação do mercado é ingenuidade ou uma avaliação adequada da situação”, disse Paul Jackson, chefe global de pesquisa de alocação de ativos da Invesco.
O índice STOXX600, referência na União Europeia, estava em desvalorização de 0,49% às 9h (horário de Brasília). As Bolsas de Londres (-0,25%), Paris (-0,84%), Madri (-0,37%), Milão (-1,15%) e Frankfurt (-0,53%) também operavam em queda.
Na Ásia, a Bolsa de Tóquio recuou 0,13%, enquanto Seul teve baixa de 0,24%. Já as operações na China foram na contramão com o índice CSI300, que reúne as principais companhias listadas em Xangai e Shenzhen, fechando em alta de 0,29%. O índice SSEC, de Xangai, saltou 0,65%, e a Bolsa de Hong Kong valorizou 0,67%.
De acordo com analistas, a alta na China foi resultado de um maior fluxo de entrada de investimentos por meio de um recurso chamado Stock Connect, com os investidores onshore comprando 7,9 bilhões de iuanes (US$ 1,11 bilhão) em ações de Hong Kong, a maior cifra desde 30 de maio.
Analistas disseram que quanto mais as tensões no Oriente Médio persistirem, maior será o risco de um período prolongado de altos preços do petróleo, o que poderia aumentar a inflação e prejudicar o crescimento econômico global.”O governo Trump provavelmente terá dificuldade em equilibrar as ambições nucleares do Irã e, ao mesmo tempo, evitar um aumento prolongado nos preços do petróleo bruto, o que, por sua vez, elevará a inflação e enfraquecerá a economia dos EUA”, disse
Analistas disseram que quanto mais as tensões no Oriente Médio persistirem, maior será o risco de um período prolongado de altos preços do petróleo, o que poderia aumentar a inflação e prejudicar o crescimento econômico global.
“O governo Trump provavelmente terá dificuldade em equilibrar as ambições nucleares do Irã e, ao mesmo tempo, evitar um aumento prolongado nos preços do petróleo bruto, o que, por sua vez, elevará a inflação e enfraquecerá a economia dos EUA”, disse Michael Alfaro, diretor de investimentos da Gallo Partners, um fundo de hedge focado em energia e indústria.
Michael Alfaro, diretor de investimentos da Gallo Partners, um fundo de hedge focado em energia e indústria.