Menu
Economia

Alta do dólar pode causar nova rodada de reajustes nos preços de alimentos

No mês de setembro, os alimentos comprados nos supermercados estavam 14,66% mais caros em relação ao patamar de um ano antes

Redação Jornal de Brasília

23/10/2021 7h35

Em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, a aposentada Fátima Pereira, de 64 anos, queixa-se do preço das carnes, que necessita para o preparo das refeições que vende como reforço no orçamento doméstico. “Está muito caro, eu comprava o quilo de acém por R$ 11, agora passou para R$ 28”, comenta.

As queixas podem aumentar. A nova valorização do dólar ante o real pode turbinar uma nova rodada de reajustes nos preços dos alimentos, que há meses pressionam o orçamento das famílias brasileiras, especialmente as mais pobres.

No mês de setembro, os alimentos comprados nos supermercados estavam 14,66% mais caros em relação ao patamar de um ano antes, segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Rio Branco (AC), o custo da alimentação no domicílio subiu 21,23% nos últimos 12 meses, e em São Luís (MA), 17,38%.

“Desde o dia 7 de setembro, o dólar acumula uma valorização de 10% em relação ao real, o que significa mais possibilidade de termos pressão de inflação de alimentos”, afirmou André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

O dólar pressiona os preços de grãos como soja, milho e trigo, que contaminam derivados como óleo de soja, massas e panificados, assim como carnes de animais dependentes de ração, aves e suínos. A crise hídrica já vinha ajudando a elevar o custo desses alimentos, que inicialmente ficaram mais caros no atacado, mas os reajustes já chegam ao varejo.

“À medida que os efeitos da crise hídrica foram se apaziguando sobre as lavouras, a questão cambial foi se agravando”, lamentou Braz.

Os aumentos nos preços dos alimentos consumidos em casa pressionam o orçamento familiar há mais de um ano. Em setembro de 2020, as famílias já pagavam 15,41% a mais pela alimentação no domicílio do que em setembro de 2019.

A alta de preços acumulada em 12 meses se mantém acima de dois dígitos desde agosto de 2020, conforme o IPCA, apurado pelo IBGE. A última vez que a inflação dos alimentos no domicílio tinham alcançado o patamar de dois dígitos até então tinha sido em novembro de 2016, quando ficou em 11,57%.

Custos elevados

“O setor de alimentos também está com aumento de custos de produção, porque fertilizantes, adubo e máquinas e equipamentos subiram muito. Isso tudo acaba batendo no consumidor. Alimento é um segmento que é muito fácil o repasse, porque é item de consumo essencial. Caro ou barato, as pessoas sempre vão demandar”, lembrou Maria Andréia Parente Lameiras, técnica de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) anunciou no último dia 14 um recuo de 2,33% no Consumo nos Lares Brasileiros em agosto em relação a julho, a quinta queda mensal registrada no ano. De acordo com a associação, o resultado reflete a alta da inflação e o desemprego, cuja taxa estava em 13,7% no trimestre encerrado em julho, último dado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua, também do IBGE.

“Os alimentos pesam 25% na inflação dessas famílias de renda mais baixa. Então, um quarto do que essas pessoas gastam por mês é alimento. Quando o preço dos alimentos sobem, essa inflação pesa mais, enquanto que para o segmento mais rico os alimentos não pesam mais do que 10% do orçamento doméstico”, justificou Maria Andréia.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado