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Economia

Acordo encerra disputa entre PR e Itaú que ameaçava privatização da Copel

Após mediação do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou na semana passada, a dívida de R$ 4,5 bilhões terá um desconto de 62%

FolhaPress

10/04/2023 21h10

Foto: AFP

IGOR GIELOW
RIO DE JANEIRO, RJ

O governo do Paraná e o banco Itaú selaram um acordo no STF (Supremo Tribunal Federal) para encerrar uma das maiores cobranças judiciais de dívida da história brasileira, removendo também um empecilho para a privatização da Copel, a empresa de energia do estado do Sul.

Após mediação do ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou na semana passada, a dívida de R$ 4,5 bilhões terá um desconto de 62%. O R$ 1,7 bilhão restante terá de ser liquidado em dois anos, evitando envolver precatórios, o que poderia acabar ultrapassando os R$ 7 bilhões com juros, segundo as contas do Paraná.

A confusão começou em 1998, quando o governo paranaense deu como garantia em um empréstimo feito no Banestado, o banco estadual local, ações da estatal energética. Em 2000, o banco foi vendido para o Itaú Unibanco, em um negócio à época de R$ 1,6 bilhão (R$ 6,6 bilhões hoje, em valores corrigidos).

Como o governo paranaense parou de pagar a dívida em 2002, o Itaú foi à Justiça para ficar com as ações da Copel usadas como garantia. Como são ativos reais, evitariam o uso de precatórios, dívidas reconhecidas por governos que são objeto constante de negociações, calotes e alongamento de pagamento.

O governo recorreu, e a Justiça do estado lhe deu ganho de causa, argumentando que as ações da Copel não poderiam ser adquiridas pelo banco sem que houvesse um processo de privatização ou abertura de capital da energética. O Itaú foi ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que viu questões constitucionais envolvidas e, agora, o caso foi resolvido no Supremo.

Com tudo isso, o acerto feito nesta segunda (10) parece encerrar de vez a questão e retira o fantasma de que a questão das ações em disputa pudesse atrapalhar o processo de privatização da energética. Ele foi proposto à Assembleia Legislativa pelo governador Ratinho Junior (PSD) no ano passado, e aprovado.

A expectativa é que o leilão ocorra até outubro e seja um dos maiores do ano na B3, embora ainda deva enfrentar questionamentos judiciais por parte de sindicatos do setor.

“O Paraná vai acabar com um passivo de mais de 20 anos que poderia comprometer os cofres públicos pelos próximos dez anos”, comemorou Ratinho Jr., que afirmou que o desconto obtido na negociação “demonstra responsabilidade com as contas públicas”.

O Itaú ainda não se pronunciou. Em análise final do caso, Lewandowski afirma que houve “concessões recíprocas” e que “o parcelamento negociado permitirá à administração pública planejar-se com antecedência e previsibilidade”.

Tanto a Copel quanto o Banestado estiveram no coração de escândalos famosos nos anos 1990. Doleiros movimentavam contas especiais do banco no exterior, numa prévia do que se veria nas investigações da Operação Lava Jato sobre lavagem de dinheiro –com protagonismo do mesmo Sergio Moro, então juiz e hoje senador pelo União Brasil do Paraná. Já a energética, que teve a privatização postergada desde aquela época, era alvo de fraudes.

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