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Brasil

Rio de Janeiro ‘renasce’ com a volta do carnaval de rua

A prefeitura espera este ano cinco milhões de pessoas no carnaval de rua e um movimento estimado em um bilhão de reais na economia local

Redação Jornal de Brasília

14/02/2023 13h46

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Coberta de purpurina dos pés à cabeça, a carioca Vera Lúcia da Silva, que trabalha como empregada doméstica, está pronta para extravasar a alegria com a volta com força total do carnaval às ruas do Rio, após a pausa pela pandemia e um período sombrio para a cultura durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).  

“Para a gente que é do Rio de Janeiro, carnaval de rua é tudo de bom. É a mistura do povão, todo mundo brinca, todo mundo fica feliz”, diz Vera, de 58 anos, durante o cortejo, em Santa Teresa, do tradicional bloco Céu na Terra, um dos mais de 400 autorizados a desfilar pelas ruas da cidade este ano.

O popular carnaval do Rio, que ocorre simultaneamente nas ruas e no Sambódromo, foi cancelado em 2021 por causa da pandemia. Em 2022, a prefeitura autorizou os desfiles das escolas de samba, mas a folia nas ruas, regada a cerveja, música e purpurina, precisou esperar.

Além de ser o primeiro carnaval sem restrições, muitos foliões comemoram este ano o fim do governo Bolsonaro, que promoveu cortes orçamentários no setor cultural. 

“É um momento de renascimento” depois de “um período obscuro”, diz à AFP Péricles Monteiro, um dos fundadores do Céu na Terra, que retomou no sábado seus cortejos com o tema “Estão voltando as flores”. 

“Estávamos nos sentindo muito sufocados em todos os aspectos, como grupo cultural, como cidadãos políticos, com a insegurança de toda a crise sanitária, com as mortes”, enumera Monteiro, que rege os 200 músicos do bloco.

A primavera transborda nas fantasias repletas de flores e na alegria dos foliões, que seguem o bloco cantando pelas ruas estreitas de Santa Teresa. 

Como é habitual, as fantasias esbanjam criatividade e, algumas, sátira política. 

Os professores Amélia Crespo, de 44 anos, e Caíque Torres, de 57, vestiram camisetas da seleção brasileira, em alusão aos apoiadores Bolsonaro autodenominados “patriotas”, que após sua derrota para o presidente Lula, em outubro, acamparam em frente aos quartéis pedindo intervenção militar. 

“Somos os patriOTÁRIOS, queremos carnaval acima de tudo, cachaça por dentro de todos”, afirma Crespo, ironizando o principal lema bolsonarista: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. 

Festa e política

“O Brasil viveu, muito impressionantemente, na própria pandemia, um tempo em que o poder político era anti-carnaval”, explica Adair Rocha, diretor do departamento de Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). 

Por isso, este ano os cortejos acontecem em um clima “de alegria, de retomada da democracia”, afirma Rocha. 

“O carnaval em si já é a expressão democrática (…) De viver mais próximo possível da celebração da vida. Diante disso, qualquer restrição à democracia ou expressão de autoritarismo não cabem”, acrescenta.

Durante a campanha eleitoral, Lula se reuniu com representantes das escolas de samba e, segundo informações publicadas na imprensa, poderia ir este ano ao Sambódromo, o que sua assessoria ainda não confirmou.

A primeira-dama, Rosângela “Janja” da Silva, será madrinha da velha guarda da Imperatriz Leopoldinense e disse que apoiará a reativação de seus projetos sociais em favelas do Rio.

Nos galpões da Cidade do Samba, onde as agremiações preparam seus desfiles suntuosos, respira-se uma dose extra de otimismo.

“A gente sente que a cultura está valorizada. Vai ser o carnaval da redenção”, disse Tarcísio Zanon, carnavalesco da Viradouro. 

Cinco milhões de pessoas

A prefeitura espera este ano cinco milhões de pessoas no carnaval de rua e um movimento estimado em um bilhão de reais na economia local.

O entusiasmo é sentido no comércio popular da Saara, no centro do Rio, meca dos adereços que os foliões usam no carnaval.

“O pessoal está engasgado, querendo pular o carnaval há dois anos. O que mais procuram é roupa leve para o calor do Rio de Janeiro”, diz o vendedor Marcelo Rodrigues.

Rodrigo Carvalho foi procurar “brilhos, alguns leques e uma viseira” para se proteger do sol.

Com protesto político ou por pura diversão, “o carnaval de rua é a alma brasileira”, afirma Caíque Torres.

“A vida é dura e a festa é a possibilidade do encontro. Cada povo tem a sua festa, a nossa é o carnaval”. 

© Agence France-Presse

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