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Brasil

Preocupação com identidade racial melhora alfabetização de crianças negras

Estudo da UFJF aponta que ações de equidade racial aceleram alfabetização de crianças negras em escolas públicas

Redação Jornal de Brasília

20/11/2025 10h45

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Foto: Divulgação

ISABELA PALHARES
FOLHAPRESS

A preocupação com a identidade racial logo nos primeiros anos da vida escolar melhora a alfabetização de crianças negras, segundo um estudo da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).

O estudo analisou dados de 14 estados do país que fazem parte da Parc (Parceria pela Alfabetização em Regime de Colaboração), um programa de alfabetização realizado por Fundação Lemann, Instituto Natura e a Associação Bem Comum.

Um dos eixos de atuação do programa é o desenvolvimento e implementação de ações de equidade racial logo nos primeiros anos escolares. Em apenas um ano, a estratégia fez com que crianças negras avançassem mais na alfabetização do que as brancas.

Uma avaliação de fluência leitora com crianças do 2º ano do ensino fundamental, série considerada a adequada para alfabetização, mostrou que a taxa de estudantes pretos e pardos que conseguiam ler fluentemente passou de 58,9% para 66,7%, entre 2023 e 2024.

Entre os estudantes brancos, a taxa passou de 71,7% para 78%, no mesmo período.

São consideradas leitoras fluentes as crianças que conseguem ler corretamente no mínimo 65 palavras por minuto ou que leem um texto simples e conseguem compreender pelo menos 90% do conteúdo.

Daniela Caldeirinha, vice-presidente de Educação da Fundação Lemann, destaca que, apesar de os estudantes negros ainda não alcançarem a taxa dos brancos, a evolução é positiva.

“A maioria dos indicadores educacionais mostram uma tendência de estabilidade e até mesmo de ampliação da desigualdade racial no país nos últimos anos. Por isso, o avanço nas taxas de alfabetização é significativo.”

Ela lembra ainda que dificuldades na fase de alfabetização podem ter efeitos cumulativos e danosos para toda a trajetória escolar e, consequentemente, para a vida adulta. Por isso, a importância de cuidar dessa etapa.

“O racismo é capaz de corroer a autoestima e a capacidade dessas crianças de acreditarem em si mesmas logo no início da vida escolar. O ambiente escolar não é receptivo para essas crianças, ele priva, exclui”, explica Alessandra Benedito, da Fundação Lemann.

Por isso, ela defende que é preciso reconhecer o racismo dentro da escola para desenvolver ações para combatê-lo.

“A ideia é treinar toda a comunidade escolar para que todas entendam que são responsáveis. Fazer com que o aluno se sinta acolhido, representado e pertencente passa por uma série de ações, que vão desde o material didático trazer fotografias com as quais o aluno se identifica até preparar os professores para que entendam a amplitude de uma educação antirracista.”

Essa é uma das primeiras pesquisas do país a conseguir avaliar a desigualdade racial nas taxas de alfabetização das crianças, já que avaliações nacionais como o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e o Indicador Criança Alfabetizada (ICA) não divulgam resultados com recortes raciais.

Parte da dificuldade de avaliar essa desigualdade está em conseguir informações sobre a declaração racial dos estudantes da educação básica.

Dados do Censo Escolar indicam que o país desconhecia a declaração racial de 1 em cada 5 estudantes (19,1%) em 2024. Esse índice já foi muito superior, com a ausência dessa informação para mais de 60% dos alunos brasileiros, em 2007.

“Há uma preocupação muito grande em conseguirmos conscientizar as escolas e famílias sobre a importância desse dado. Sem sabermos quem são nossos estudantes e onde eles estão, fica muito mais difícil adotar ações efetivas”, diz Caldeirinha.

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