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Brasil

Polícia Civil investiga morte de artista no Rio

Arquivo Geral

10/01/2013 19h38

Após dois meses de ameaças de morte, insegurança e depressão, o artista plástico chileno Jorge Selarón, de 65 anos, foi encontrado morto na manhã desta quinta-feira (10) sobre os degraus de sua mais famosa obra, a escadaria do Convento de Santa Teresa, no centro do Rio. O artista vinha sendo intimidado por um ex-colaborador, que está sendo procurado. A Polícia Civil também investiga a hipótese de suicídio. Com mosaicos de cerâmica, Selarón transformou a escadaria em um dos principais pontos turísticos da cidade.

O corpo do chileno foi encontrado por volta das 7h20 da manhã, em frente à sua casa, carbonizado principalmente no rosto e ombros. Mais cedo, ele havia ido até uma banca de jornais e a uma padaria, como fazia todas as manhãs. Ao lado do corpo, a polícia encontrou uma lata de solvente inflamável e um isqueiro. Vizinhos contaram ter ouvido gritos de um homem pedindo socorro antes de sentir um forte cheiro de queimado.

Selarón vinha sendo ameaçado por Paulo Sérgio Rabello, também morador da escadaria, desde novembro. Eles trabalhavam juntos há seis anos. Rabello fazia impressões gráficas em azulejos comercializados pelo artista em seu ateliê. As brigas teriam começado pois o colaborador desejava assumir o controle das vendas, o que Selarón recusava. Segundo um funcionário, o artista plástico também teria descredenciado Rabello como beneficiário da exploração comercial de suas obras após sua morte.

Bilhete

No dia 24 de novembro, o artista foi à delegacia registrar ocorrência de ameaças e danos contra o ex-colaborador, que teria invadido seu ateliê e destruído cerâmicas e quadros. No dia 25, o Selarón escreveu um bilhete de próprio punho em que relatava as ameaças. “Hoje dormi em um hotel, pois todos estes últimos dias estou sendo ameaçado de morte pelo Paulo”, dizia o bilhete divulgado pelo jornal O Globo.

Na época da ocorrência, Rabello chegou a comparecer à delegacia, mas disse que só falaria em juízo. A audiência do caso, que corre no Juizado Especial Criminal, estava marcada para o dia 20 de fevereiro. O secretário pessoal do artista, o argentino Carlos Agostin Gomes, afirmou que também sofria ameaças. “No último dia 28, ele me agrediu com um pedaço de madeira e queimou meu rosto. Ele misturou as coisas. O olho cresceu.”

Nesta quinta, Paulo Sérgio Rabello e sua família não foram vistos em casa. Ele é irmão do traficante Wilton Quintanilha Rebello. Conhecido como `Abelha’, ele cumpre pena em um presídio federal de segurança máxima, em Goiás, condenado por tráfico e roubo a banco. Segundo moradores, a família controlava o tráfico de drogas na escadaria. Apesar de ser um dos principais pontos turísticos da cidade, o local também era ponto de venda e consumo de maconha e cocaína na Lapa, mesmo com a presença da Polícia Militar.

Investigações

De acordo com a Polícia Civil, Paulo Sérgio Rabello não é suspeito do crime até o momento, mas é procurado para depor nos próximos dias. Nesta quinta, cinco pessoas foram ouvidas, entre elas três funcionários do artista e dois vizinhos. Segundo eles, Selarón passava por um período de depressão por conta das ameaças e já tinha perguntado sobre comprimidos para suicídio.

A polícia não descarta a hipótese de que o artista tenha ateado fogo ao próprio corpo. Os agentes encontraram uma segunda lata do solvente em seu quarto. O corpo de Selarón passou por uma perícia no local e foi removido por volta das 11 horas. O laudo do Instituto Médico legal deve ser divulgado na sexta-feira (11). Ainda não há informações sobre o sepultamento do artista, que não tinha contato com a família no Chile.

“Ele mudou muito nos últimos meses, estava acuado, dizia que não queria mais viver. Ele não aguentou a pressão das ameaças”, afirmou o amigo e vizinho, Dhel Aquino. Sem se identificar, sua vizinha na pensão onde morava com outras 19 pessoas afirmou que na noite anterior Selarón conversou com todos os moradores. “Foi como se ele estivesse se despedindo. Pela manhã, ofereci café mas ele não quis. Disse que precisava respirar.”

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