O massacre nos presídios de Manaus levanta a importância de conter possível efeitos cascata da violência no Estado, segundo Bruno Paes Manso, doutor em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em segurança pública. Em 2017, quando houve uma série de ataques em presídios do País, notou-se incremento dos crimes nas ruas.
Desde 2018, porém, os números de violência vêm caindo, segundo Paes Manso, o que pode estar ligado a um arrefecimento nas disputas internas nas penitenciárias. “É preciso identificar os focos dos conflitos e evitar que isso se espalhe para as ruas porque esses conflitos podem se espraiar”, diz o especialista da USP.
Parte da estratégia se refere à transferência e ao isolamento de lideranças – já anunciadas pelo governo do Amazonas. Ao mesmo tempo, segundo Paes Manso, é preciso aplicar um plano preventivo nas ruas, com patrulhamento ostensivo nos bairros de Manaus onde esses grupos atuam com mais intensidade. “Pode haver um desequilíbrio de forças.”
Uma vez que se confirme a ligação dos últimos ataques nos presídios com uma briga entre membros da facção criminosa Família do Norte (FDN), as chances de que o confronto ganhe dimensões ainda maiores – até mesmo ultrapassando fronteiras – diminui. Parte da violência dos massacres de 2017, que atingiu outros Estados como Roraima, estava ligada à guerra entre facções criminosas, entre elas o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Mortes
A briga interna de organização criminosa Família do Norte (FDN), que teve início no domingo, dia 26, e continuou na segunda-feira (27) deixou um total de 55 mortos em presídios de Manaus. As execuções ocorrem em meio a uma disputa entre os líderes da facção José Roberto Barbosa, o Zé Roberto da Compensa, e João Pinto Carioca, o João Branco, pelo comando do grupo, conforme fontes do governo amazonense.
Após os massacres, o governo Jair Bolsonaro decidiu enviar um reforço de segurança aos presídios do Amazonas, a pedido do governo estadual. A Força-tarefa de Intervenção Penitenciária servirá para reforçar a atuação dos agentes carcerários. O Estado já tem a presença da Força Nacional de Segurança Pública, que atua no policiamento ostensivo e no entorno das penitenciárias.
A facção
O tráfico de drogas na fronteira com o Peru e a Colômbia, uma das rotas mais importantes para o narcotráfico local e porta de entrada de maconha e cocaína, alimentou o crescimento da facção criminosa Família do Norte na região. Como o Estado mostrou em 2017, após o massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), a FDN imitou o modelo de outras facções conhecidas, como o Comando Vermelho, garantindo pagamento de mensalidade por parte dos afiliados, o que fez com que se estabelecesse como dominante em parte da fronteira.
O grupo também se valia do tráfego fluvial pelo Rio Solimões para carregar a maior parte da droga que comercializava. A facção ainda usava “laranjas” que emprestavam os nomes para abertura das contas, com as quais movimentavam grande quantidade de dinheiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Estadão Conteúdo