TULIO KRUSE
SÃO PAULO (FOLHAPRESS)
Três em cada cinco brasileiros evitam usar o telefone celular nas ruas da própria cidade por medo de assalto, aponta pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O receio de ter prejuízos financeiros com a perda do smartphone faz com que 30% daqueles que possuem o aparelho tomem medidas de segurança como deixá-lo em casa ou ocultar aplicativos de banco.
Os dados são da segunda edição da Pesquisa de Vitimização e Percepção da Segurança Pública no Brasil, feita a partir de 2.007 entrevistas com pessoas de 16 anos ou mais em 130 municípios brasileiros, de 2 a 6 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, tanto para o total da amostra quanto para aqueles que responderam que têm smartphone (1.743 pessoas, que correspondem a 85% dos brasileiros acima dos 16 anos).
No ano passado, o instituto não havia questionado se os entrevistados evitavam usar celular enquanto caminham na rua por medo de ser assaltado. Portanto, não é possível dizer se esse comportamento cresceu, diminuiu ou se manteve estável.
Mulheres, pessoas com 60 anos ou mais, que têm renda familiar até dois salários mínimos (R$ 3.036) ou que moram em cidades de mais de 500 mil habitantes costumam ser mais preocupados na proteção dos smartphones ao caminhar nas ruas.
O medo do estrago financeiro que o roubo ou furto do smartphone pode provocar se justifica pela sensibilidade das informações que os aparelhos carregam. Entre aqueles que possuem smartphone, 82% têm aplicativos de banco instalados. Além disso, praticamente seis em cada dez (59%) também têm programas que servem para autenticação ou certificado digital, como o gov.br e o e-CPF.
Como mostraram dados da mesma pesquisa, publicados em agosto, quem teve o aparelho roubado tem uma chance quase quatro vezes maior de sofrer golpes do que o restante da população. Um em cada três diz que já deixou de anotar senhas pessoais em aplicativos no celular.
O alto valor dos smartphones, por si só, já é motivo para medidas de segurança: 23% daqueles que possuem celular afirmam que contrataram seguros contra roubos ou furtos (na pesquisa anterior, eram 21%). Uma parcela igual de entrevistados com smartphones diz que já instalou aplicativos de salvamento seguro de senhas.
Vítimas relatam alto índice de subnotificação
Os entrevistados que declararam ter sido vítimas de crimes como roubos, fraude, estelionato, vazamento de dados pessoais na internet e ameaças apontaram também para um índice alto de subnotificação desses casos.
A proporção de vítimas que registram essas ocorrências na Polícia Civil passa de 50% apenas no caso dos roubos: seis em cada dez disseram ter feito Boletim de Ocorrência. Entre as vítimas de fraude bancária, apenas 39% registraram a ocorrência, mesmo que o valor médio do prejuízo tenha sido de R$ 3.448, mais do que dois salários mínimos.
Situações como clonagem de celular, fraude em investimentos, golpes envolvendo o Pix, invasão de perfis nas redes sociais, vazamento de dados e ameaças por telefone ou mensagem tiveram subnotificação de 70% dos casos ou mais.
Ao mesmo tempo, a pesquisa aponta uma tendência de queda de roubos violentos contra cidadãos comuns, seja nas ruas, no transporte público, dentro de casa ou no trabalho. Em 2017, o Datafolha apontou que 16% dos brasileiros afirmavam que haviam sido vítimas de roubo nos 12 meses anteriores à pesquisa.
Em 2024 e 2025, as respostas variaram entre 12% e 11%, e outras estatísticas criminais também têm apontado para a migração dos crimes patrimoniais (roubo, furto, estelionato e outros) para o meio digital. “As facções criminosas estão migrando para o mundo virtual”, diz o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.