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Ex-presidente do Inep sugere uso de IA para criar questões do Enem no futuro

As perguntas do Enem são criadas a partir da TRI (Teoria de Resposta ao Item), uma metodologia que avalia o nível de dificuldade dos itens de forma a tornar diferentes provas comparáveis

Redação Jornal de Brasília

19/11/2025 20h58

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Foto: Marcello Casal jr/Agência Brasil

LUCAS LEITE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

A anulação de três questões do Enem 2025 após notícias de que o universitário Edcley Teixeira apresentou, em uma live, perguntas quase idênticas às que caíram na prova, reacendeu o debate sobre a segurança do exame nacional, feito por mais de 3 milhões de estudantes.


De acordo com o estudante de medicina da UFC (Universidade Federal do Ceará), as questões estavam no Prêmio Capes Talento Universitário, uma premiação do Ministério da Educação para calouros que serviria de pré-teste do Enem.


Para Maria Helena Castro, professora e ex-presidente do Inep (instituto federal responsável pelo exame), o pré-teste, embora indispensável para calibrar e testar as questões da prova, envolve muitas pessoas e amplia as chances de quebra de sigilo.


As perguntas do Enem são criadas a partir da TRI (Teoria de Resposta ao Item), uma metodologia que avalia o nível de dificuldade dos itens de forma a tornar diferentes provas comparáveis e identificar quando um candidato acerta uma questão ao acaso, no “chute”.


O chamado pré-teste das questões precisa ocorrer em uma avaliação com o público de perfil semelhante ao dos candidatos que realizam o Enem. Nessa etapa são mensuradas a dificuldade, a discriminação e a chance de acerto ao acaso de cada questão.


Em médio e longo prazo, segundo Maria Helena, uma saída seria a criação das questões a partir de inteligência artificial.


“Na minha visão, a questão do pré-teste é um risco muito grande para o Enem. É obrigatório fazer o pré-teste, uma vez que o Enem se baseia na TRI, para desenvolver uma prova que atenda a todas as especificações. Por outro lado, eu creio que todo pré-teste é um risco muito grande”, afirma Maria Helena, que chefiou o instituto de 1995 a 2002, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).


A ex-presidente do Inep ressalta que a fase de teste de questões envolve muitas pessoas e que isso pode, eventualmente, “propiciar um tipo de vazamento”.


Não é a primeira vez que o Enem enfrenta problemas. Em 2009, por exemplo, o MEC precisou cancelar toda a prova após o vazamento da prova em uma gráfica às vésperas da aplicação.


Para Maria Helena, reduzir a exposição humana no processo é o caminho para aumentar a segurança, e uma alternativa de médio e longo prazo seria o desenvolvimento de uma inteligência artificial dedicada à criação dos itens.


“Claro que não é uma coisa que o Inep vai conseguir fazer desse ano para o ano que vem. É algo mais demorado, que vai exigir pesquisa e estudos de investimentos. Mas já está acontecendo em outros países e isso diminui o risco de vazamento”, explica ela.


A partir da criação dessa ferramenta, as questões seriam modeladas de acordo com o nível de dificuldade recomendado pela TRI e, assim, não necessitando da fase de teste.


A educadora afirma concordar com a decisão do órgão ligado ao MEC de anular apenas 3 das 180 questões do Enem 2025. “O Inep faz um trabalho muito grande para garantir a segurança. Eles devem estar se baseando em informações muito seguras. Então eu não vejo necessidade de anular a prova como um todo por causa dessas três questões”, afirma ela.


Procurados pela Folha de S.Paulo sobre a segurança do exame, o Inep enviou como resposta um link que redireciona para a nota oficial publicada na terça-feira (18).


Em relação à participação da estudante Edcley Teixeira no prêmio da Capes, a instituição redirecionou o tema para o MEC.


Questionado sobre a segurança e a participação do estudante no prêmio Capes, a reportagem não obteve resposta da pasta de Camilo Santana até a publicação.


ENTENDA A ANULAÇÃO DE TRÊS QUESTÕES DO ENEM 2025


Em uma live nas redes sociais antes do segundo dia do exame, o estudante Edcley Teixeira mostrou ao menos cinco questões que tinham muita semelhança com as que estavam na prova.


O estudante afirma ter previsto as questões presentes no exame nacional seguindo critérios permitidos pela legislação e sem qualquer vazamento.


Após o caso, o Inep afirmou, em nota oficial, que reafirmou a “isonomia, lisura e validade das provas do Enem 2025”. O instituto anunciou a anulação de três perguntas da prova e declarou que “nenhuma questão foi apresentada tal qual na edição de 2025 do exame”.


“Na divulgação observada nas redes sociais, foram identificadas similaridades pontuais entre os itens”, afirma o instituto.


Além disso, o órgão do MEC anunciou que a Polícia Federal foi acionada para apurar o caso e “garantir a responsabilização dos envolvidos por eventual quebra de confidencialidade ou ato de má-fé pela divulgação de questões sigilosas de forma indevida”.

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